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Face à crise, "é preciso investir tempo e algum dinheiro"

Guilherme Correia da Silva17 de março de 2015

As exportações da Alemanha para Angola aumentaram 28,7 por cento em 2014. Em entrevista à DW África, o delegado da indústria alemã em Angola diz que prefere a palavra "oportunidade" a "crise".

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Foto: DW/C.V. Teixeira

2014 não foi um dos melhores anos para a Alemanha no que diz respeito ao comércio com o continente africano. Segundo a associação empresarial alemã "Afrika-Verein", o país aumentou as exportações e reduziu as importações, mas o comércio bilateral sofreu um recuo de quase 5 por cento em comparação a 2013.

Não graças a Angola. As exportações alemãs para o país aumentaram 28,7 por cento em 2014, para 375 milhões de euros (num total de 22,6 mil milhões de euros em exportações para África). Segundo o delegado da indústria alemã em Angola, Ricardo Gerigk, estão a dar frutos contratos como o da empresa Andritz, que produz na Alemanha turbinas para a barragem de Laúca, considerada o maior projeto hidroelétrico angolano.

DW África: Não há crise para as exportações alemãs para Angola?

Ricardo Gerigk, Büro der deutschen Wirtschaft Angola
Ricardo Gerigk, delegado da indústria alemã em AngolaFoto: DW/J. Beck

Ricardo Gerigk (RG): Nunca uso a palavra crise. A crise é sempre uma oportunidade. Esta é uma situação passageira por que Angola está a passar. O Orçamento Geral do Estado foi reprogramado, algo que representa, para alguns Ministérios, cortes de 30 a 50 por cento. Mas, logicamente, os grandes projetos, os projetos prioritários, não serão prejudicados. Em Angola estão empresas alemãs como a Siemens ou a Lahmeyer, que está a fazer os projetos de fiscalização das obras da construtora Odebrecht em Laúca. 90 por cento das 22 empresas que aqui estão não se arrependem. Teremos pela frente 2015 e 2016, anos que não serão fáceis, mas Angola, entre os 54 países africanos, é dos poucos que tem uma certa estabilidade política.

DW África: Portanto, prevê dificuldades?

RG: Sim, teremos essas dificuldades como, de uma maneira general, todas as empresas e países a atuar aqui em Angola. A vantagem da Alemanha é que a credibilidade de Angola junto das instituições financeiras alemãs é maior do que noutros países. Isto significa uma maior possibilidade de financiamentos com linhas de crédito provenientes da Alemanha, com garantias do Governo alemão.

DW África: Há, com frequência, queixas de dificuldades burocráticas nas alfândegas, por exemplo. Assistiu-se agora a este aumento das exportações da Alemanha para Angola… Isso quer dizer que, para os produtos alemães, não há dificuldades?

RG: A burocracia ainda é um grande obstáculo. Mas o Governo angolano tem-se esforçado no sentido de diminuir essa burocracia. Recentemente, com os vistos de entrada, por exemplo. A partir de 1 de Março, o Governo estabeleceu que os novos vistos ordinários para Angola podem ter múltiplas entradas. Mas o maior problema hoje em dia é a transferência de pagamentos dos exportadores, porque há uma falta de liquidez de moeda forte e os bancos não estão a ter condições de atender a todos os clientes. Os exportadores estão a deixar de receber e os importadores estão a deixar de importar. Esse será o grande dilema que nós vamos ter de resolver nos próximos meses.

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DW África: Quando se fala nesta crise do petróleo, uma das coisas que mais se refere é a necessidade de diversificar a economia. É também uma oportunidade para as empresas alemãs…

RG: Certamente. A Alemanha é o convidado especial deste ano da Feira Internacional de Luanda (FILDA), de 21 a 26 de julho, e teremos o 6º Fórum Económico Alemão-Angolano. Então, não adianta chorar. É preciso ter muita paciência, investir tempo e algum dinheiro. Porque em Angola ainda há tudo por fazer.

No passado, muitos angolanos, principalmente da elite, tiveram formação na antiga República Democrática Alemã e tiveram contacto com a cultura alemã. Também por isso, existe, de certa forma, uma vontade de um maior engajamento da economia alemã aqui em Angola e, principalmente no processo da mecanização da agricultura ou da industrialização para a produção dos produtos nacionais.

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