Ex-Presidente do Botswana em campanha contra seu sucessor
1 de junho de 2019Iana Khama, de 66 anos, deixou o Partido Democrático do Botswana (BDP, na sigla em inglês), no poder, na semana passada no culminar de uma controvérsia com o Presidente Mokgweetsi Masisi, que tomou posse no ano passado.
O ex-Presidente disse à agência de notícias AFP que tomou a decisão "muito dolorosa" de abandonar o BDP por causa da atitude "imatura e arrogante" de Masisi.
"A pessoa que eu nomeei para ser meu sucessor, assim que assumiu o cargo, tornou-se muito autocrática, muito intolerante e levou a um declínio nas credenciais democráticas pelas quais temos uma reputação", disse Khama.
Temores à nova políticia
Ele disse que alguns altos funcionários do BDP temem que o partido possa estar "a se encaminhar para uma derrota eleitoral", porque acreditam que Masisi "agora se tornou um risco".
Desde a sua tomada de posse, Masisi mudou várias políticas adotadas por Khama - a mais importante delas foi o levantamento da proibição da caça de animais selvagens imposta em 2014. "Para mim, é tão triste e extremamente doloroso que todos estes anos de trabalho para construir o que alcançamos estejam sendo revertidos", disse Khama, acrescentando que Masisi nunca se opôs à proibição.
"Temos estabilidade há muitos anos, temos vida selvagem há muitos anos, temos tentado desempenhar o nosso papel como membro responsável da comunidade internacional na promoção da democracia", defendeu. "Quando se vê o que está a acontecer, colocando todo o trabalho duro em reverso, isso é inaceitável".
Perseguição política
Khama acusou Masisi de reprimir a oposição no Botswana. "Qualquer um que seja visto como um oponente no partido ou nos partidos da oposição, faz-se o uso dos órgãos de segurança do Estado para perseguir e assediar essas pessoas", afirmou o ex-chefe de Estado, destacando que "essas são coisas que nunca vimos no Botswana".
"Vi isso acontecer em outros países", acrescentou o ex-Presidente, alertando que o país "gradualmente começaria a ter um sério déficit de democracia". Entretanto, Masisi e o BDP não responderam publicamente às críticas de Khama.
"Foi uma decisão muito dolorosa, muito difícil e eu pensei muito nisso", disse o antigo líder sobre deixar o partido, que governa o Botswana desde a independência do Reino Unido em 1966, mas que perdeu popularidade sob o domínio de Ian Khama.
Na Presidência do Botswana, Khama era conhecido por sua fala direta - criticando publicamente o Presidente norte-americano Donald Trump e então Presidente Robert Mugabe, no vizinho Zimbabué. E disse que estava determinado a ser igualmente franco sobre Masisi.
"Quando [Masisi] era meu vice-Presidente, nunca mostrou nenhuma destas questões que estamos a ver agora, (ele foi) sempre muito inteligente, apoiante de todas estas políticas que está agora a reverter", declarou.
Khama deixou a Presidência 18 meses antes das eleições, permitindo que Masisi ocupasse o cargo e iniciasse a sua campanha. Mas os dois líderes entraram em conflito e, no último fim de semana, Khama abandonou o partido e declarou que faria campanha contra Masisi para as eleições de outubro.
Khama - cujo pai Seretse Khama co-fundou o BDP em 1962 e foi o primeiro Presidente do país - disse que não se estava juntando a outro partido, mas que apoiaria alguns candidatos parlamentares da oposição.
Caça aos elefantes
Na semana passada, o Botswana atraiu as manchetes mundiais sobre a decisão de Masisi de acabar com a proibição da caça. O Governo disse que a caça de elefantes ajudaria a controlar a população dos animais em expansão que, disse, estaria a causar sérios danos aos meios de subsistência dos agricultores.
O Botswana tem a maior população de elefantes do mundo, com mais de 135 mil animais em liberdade nos seus parques e em amplos espaços abertos.