Estrutura do apartheid ainda subjacente no District Six
11 de fevereiro de 2016
Noor Ebrahim lembra-se desse dia 11 de fevereiro de 1966 em que as grandes escavadoras chegaram: “Estava aqui quando demoliram a minha casa mesmo à minha frente. Fiquei zangado. Era incrível o que nos estavam a fazer”
Apenas os locais de culto e algumas escolas foram poupados pelas escavadoras.
A medida foi tomada ao abrigo da Lei de Áreas de Agrupamento, nome dado à legislação do apartheid, o antigo regime de segregação racial da África do Sul.
Antes desse dia 11 de fevereiro, o District Six era era uma comunidade multicultural, lembra Noor Ebrahim: "Este era um bairro fantástico para viver. Porque tínhamos judeus, muçulmanos, cristãos, indianos, hindus, africanos, portugueses, chineses, japoneses" e Ebrahim frisa que "não havia problema de cor ou religião, mas o Governo do apartheid não gostava."
Laços afetivos cortados obrigatoriamente
Com a Lei de Áreas de Agrupamento, aprovada pela primeira vez em 1950, centenas de milhares de pessoas foram expulsas de terras valorizadas e das suas casas nos centros das cidades, por todo o país, afastando para sempre famílias e amigos, lamenta Joe Schaefer, que também morou no District Six.
"Nunca mais vi os amigos, as crianças que iam para a escola desapareceram e nunca mais encontrei os colegas com quem praticava desporto".
Deslocadas à força, milhares de pessoas tiveram de recomeçar as suas vidas nas chamadas townships, áreas reservadas às comunidades não brancas nas periferias das cidades. Morar numa área sem permissão era crime.
Em 1982 mais de 60 mil moradores do District Six foram transferidos para uma área com poucas condições, a cerca de 25 quilómetros de distância.
Um geografia ainda discriminatória
Apesar do fim do apartheid, em 1994, a Lei de Áreas de Agrupamento deixou marcas profundas, afirma Mandy Sanger, responsável pelo departamento de Educação no Museu do District Six.
Segundo ele "a geografia da Cidade do Cabo é sobretudo de dividir para reinar, onde os guetos radicalizados se mantêm intactos. As auto-estradas e linhas férreas foram construídas para dividir as comunidades em áreas que lhes estavam confinadas sob o apartheid."
50 anos depois, os esforços das autoridades para reconstruir o District Six tiveram, até agora, pouco efeito. Burocracia e conflitos entre o governo provincial e a Comissão de Trabalho do District Six mantém os trabalhos de reconstrução a passo de caracol.
Nos últimos 22 anos, apenas 115 novas residências foram construídas no bairro. Há mais de mil reivindicações por responder, uma delas apresentada por Noor Ebrahim, hoje com 72 anos: "Estou ainda à espera por minha casa, o meu nome está na lista de espera e aguardo pacientemente."