Descida dos preços das matérias-primas afeta África
7 de novembro de 2014Os analistas ainda não ousam prever até onde cairá o preço do petróleo. Mas a situação atual já afeta não apenas o crescimento da Nigéria, mas de toda a África, afirma Robert Kappel, professor de Ciências Africanas e ex-diretor do instituto GIGA de Estudos Africanos em Hamburgo. “O crescimento em flecha da África a sul do Saara nos últimos anos dependeu em 70% das exportações de petróleo”, lembra.
De futuro, os governos terão que contar com receitas reduzidas da venda do ouro negro. Mais uma razão para acelerar a diversificação da economia em muitos países africanos dependentes do petróleo, dizem analistas independentes em todo o mundo.
Robert Kappel defende que estas medidas deviam ter sido tomadas no momento em que as receitas do petróleo eram elevadas. Apesar de ser facto conhecido que os preços de matérias-primas estão sujeitos a fortes oscilações, nenhum dos países africanos se preveniu contra a eventualidade, por exemplo, estabelecendo fundos, como fazem os países do Golfo Árabe.
Segundo o professor, a redução das receitas vai atingir duramente a população, pois obrigará a um corte dos investimentos.
Angola diversificou economia
Claire Schaffnit-Chatterje, analista do maior banco comercial alemão, o Deutsche Bank, diz que também há desenvolvimentos promissores. Angola, por exemplo, começou a diversificar a economia nos últimos anos.
“Uma grande vantagem de Angola é dispor de reservas cambiais no valor de 30 mil milhões de dólares norte-americanos. E a participação de outros ramos da indústria na economia nacional ainda assim subiu para 60% do Produto Interno Bruto (PIB)”, sublinha.
No ano passado, o Governo angolano criou um fundo, “no qual já colocou cerca de cinco mil milhões de dólares resultantes das receitas do petróleo”, acrescenta a especialista.
Segundo a analista, Angola foi um dos países que soube tirar consequências da crise económica de 2008 e 2009, quando sofreu bastante por causa da queda do preço de petróleo nos mercados mundiais.
População sentirá consequências
No entanto, apesar da situação difícil, os analistas independentes não acreditam que a economia africana esteja ameaçada por uma crise futura.
“A economia da África a sul do Saara continua a crescer rapidamente. Conto com um crescimento de mais de 5% também em 2015”, explica Claire Schaffnit-Chatterjee.
Não obstante, a população vai sentir as consequências negativas, afirma o analista Robert Kappel. O que lhe parece uma amarga ironia, uma vez que as massas nunca beneficiaram da riqueza gerida pelo petróleo no passado.
“O fosso entre ricos e pobres cresceu em todos os países exportadores de matérias-primas. De uma forma geral, apenas pequenas elites africanas beneficiaram do aumento das receitas de exportação. Mas os que mais vão sofrer agora, quando as receitas recuam, são os pobres e a classe média".