FMI pede melhor gestão do petróleo angolano
18 de setembro de 2014Angola deve pensar em mecanismos para suportar anos de orçamento de Estado deficitário, apesar do crescimento económico relativamente estável. Esta é uma das recomendações do diretor-geral adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), Naoyuki Shinohara, que defende ainda que esses mecanismos aproveitem excedentes orçamentais vindos das receitas petrolíferas.
Shinohara esteve, recentemente, numa visita oficial em Luanda e falou sobre vários aspetos da economia do país, mas focou-se, especialmente, na dependência de Angola em relação ao petróleo.
Dependência é conforto
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África subsaariana, no entanto, as receitas sofreram uma quebra de 14% entre janeiro e maio de 2014. O FMI estima que, já em setembro, Angola tenha um défice de quatro por cento do Produto Interno Bruto (PIB), algo que se verifica pela primeira vez em cinco anos. Por outro lado, o FMI reconheceu também um "forte avanço" em termos de reformas estruturais e na diversificação da economia do país, além do petróleo.
O investigador angolano Eugénio Costa Almeida, do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, acredita que esta se trata de uma questão de conforto.
"O petróleo é o fundo de maneio de tudo o resto que está na economia angolana", diz. "Já há personalidades que, individualmente, estão a criar áreas económicas mais fortes ou que se tornaram atores de sustentabilidade da economia angolana. Mas se esses fundos fossem redistribuidos de forma autónoma. Se pessoas não associassem, por exemplo, o Banco de Fomento de Angola à Sonangol, o BESA à Sonangol, o BCP português à Sonangol… Portanto, a economia está subordinada ao petróleo."
A verdade é que o petróleo continua a jorrar. Ainda esta semana, a petrolífera italiana ENI anunciou uma nova descoberta de petróleo em águas profundas de Angola. A empresa estima a existência no local de reservas de 300 milhões de barris. A petrolífera opera em Angola há 34 anos e teve em 2013 uma produção de cerca de 90 mil barris de petróleo por dia.
Capacidade para melhor gestão
Para o FMI, a utilização do Fundo Soberano de Angola poderia ser uma das hipóteses para a gestão destes recursos, de forma a atingir uma maior eficiência, para o benefício das futuras gerações angolanas.
O investigador Eugénio Costa Almeida relembra também que Angola pode investir em outras áreas. O país "tem uma enorme capacidade para desenvolver a sua agricultura, tem um território extremamente rico em terras com nutrientes para a agricultura. Começa a ter algum 'know-how' para a sua indústria, tem mão de obra."
Apesar de Angola ainda não estar a aproveitar o seu potencial total, segundo o diretor-geral adjunto do FMI, Angola conseguiu "produzir excedentes financeiros, acumulou reservas internacionais e conseguiu atingir uma inflação de um só dígito", depois das dificuldades da crise económica internacional entre 2008 e 2009, que afetou o setor do petróleo.
No entanto, o Fundo assinalou que foi ponderada a hipótese de se avançar com um plano de "assistência técnica reforçada" a Angola. Segundo a instituição, o país ainda enfrenta muitos desafios como o défice fiscal, a dependência das exportações petrolíferas, a melhoria das infraestruturas e da supervisão do investimento público e a redução da pobreza.