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Daniel Chapo, de "fauna acompanhante" a rei da selva

25 de outubro de 2024

Na era dos ilustres desconhecidos da Ponta Vermelha, Chapo é apontado como segundo inquilino. A pulga atrás da orelha sobre sua índole causa comichão, ainda assim granjeia simpatias. Irá curvar-se aos vícios da FRELIMO?

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Mosambik Präsidentschaftswahl I Chapo zum Wahlsieger erklärt
Foto: Marco Longari/AFP

Mais um anónimo que no seu partido surpreendentemente deixou para trás políticos de consolidada carreira e competências na corrida para liderar Moçambique, o segundo "escolhido" na FRELIMO depois de Filipe Nyusi. É tido como delfim do seu antecessor para o salvar das grades além fronteiras, mas também visto como a chave regeneradora do partido, hoje desvirtuado, a ser moldada pela chamada reserva moral da FRELIMO.

Enquanto político tem uma carreira regular e até discreta, foi ascendendo dentro da "normalidade" e até granjeando simpatias, principalmente enquanto governador da província de Inhambane. Não manchou a sua imagem com más condutas, contudo enquanto empresário teria falhado nalguns momentos com as suas obrigações tributárias.

Em época de caça ao voto fez questão de vincar a sua idoneidade quando os moçambicanos esperavam principalmente por propostas para os agudos problemas do país. É caso para indagar, teria Chapo sonhado chegar tão longe muito cedo?

Para o politólogo Hilário Chacate não há dúvidas: "É evidente que quando Chapo saiu naquele dia de Inhambane para participar como membro do Comite Central da FRELIMO, não era para ser eleito como candidato à Presidente. Chapo disse quando regressou a Inhambane, depois de ser eleito como candidato, que «nós quando saimos, saímos para votar e voltamos votados»".

Para o académico "isso é um sinal claro de que ele nunca cogitou a possibilidade alguma de um dia vir a ser Presidente da República. Me parece que ele era 'fauna'  acompanhante."

A pulga atrás da orelha

Enquanto candidato, Chapo deixou um cheirinho do que é durante os seus discursos eleitoralistas. Deu a entender que vale a botota numa competição e desrespeitou o princípio da separação entre partido e Estado. Ficou a dúvida se se trava apenas de uma arma para conquistar votos ou se de desconhecimento.

A vingar a primeira hipótese, então deixa a impressão de falta de ética ao aparentemente tentar estupidificar o eleitorado. É preciso lembrar que Chapo é licenciado em Direito para além de ter um mestrado. Chapo também repetiu as irregularidades dos seus antecessores ao permitir o uso de bens do Estado na suas ações partidárias.

Chapo tem a "bençoa" de todos os antigos presidentes de Moçambique independente, como afirmou Nyusi
Chapo tem a "bençoa" de todos os antigos presidentes de Moçambique independente, como afirmou NyusiFoto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

Assim, ao ser validado pelo Conselho Constitucional (CC) como Presidente da República, entraria para a Ponta Vermelha sob o espectro da desconfiança. Evidencia uma grande capacidade de interação com o povo, destacando-se nas artes de dança,   à semelhança do seu antecessor.

Chapo, o cavalo de batalha da FRELIMO?

Na incógnita fica se Chapo teria coragem suficiente para governar Moçambique sem  amarras duvidosas no seu partido, formação essa que promoveu a sua ascenção. Chacate, falando à DW África disse: "Lhe posso assegurar que Chapo terá muitas dificuldades. Ele pode ser usado por várias alas dentro da FRELIMO como um cavalo de batalha para se combaterem as diferentes alas".

"Neste momento Chapo aparece como um elemento de união das alas, todos procuram apoiar a candidatura dele, como as famílias Samora, Chissano, Guebuza, incluindo a família Chipande e o próprio Nyusi", entende o politólogo.

Como ser humano, emite sinais positivos em momentos de tensão. Por exemplo, não ficou indiferente aos bárbaros assassinatos de Elvino Dias, assessor jurídico do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e de Paulo Guambe, mandatário do Podemos. Porém o seu lema "vamos trabalhar", embora atual e pertinente, é alvo de zombaria e até de revolta. É que o povo que se mata a trabalhar não se sente devidamente compensado pelo tremendo esforço. A esperança dos moçambicanos é de que Chapo não seja uma versão "alta" do seu antecessor.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África