Curandeiros sem capacidade de tratar Covid-19
3 de abril de 2020É habitual na Guiné-Bissau que para prevenção, tratamento ou cura de qualquer doença, muita gente recorra aos curandeiros tradicionais, que dizem possuir técnicas e serem conhecedores de ervas e raízes medicinais, para tratar e até curar enfermidades. Mas no caso da nova doença Covid-19, os curandeiros estão impotentes, como disse à DW África um dos curandeiros mais procurados, o maliano Moussa Sidibé.
"Se alguém vem aqui ou me liga, digo a essa pessoa para ir diretamente ao hospital, como ouço dizer os grandes médicos sobre os sintomas", conta Sidibé, residente na Guiné-Bissau há dez anos. "É uma doença que nunca curei, só Deus sabe como é. Não a curo e nem tenho medicamentos", admite.
Numa altura em que o país cumpre o estado de emergência e as pessoas estão em quarentena, o curandeiro deixa um apelo aos cidadãos: "O que posso dizer às pessoas não passa daquilo que o governo diz. Que respeitemos as orientações, porque eu, desde que entramos nessa situação, não estou a trabalhar e não recebo ninguém."
"Não há alternativa aos hospitais"
Embora reconheça o papel dos curandeiros tradicionais na sociedade, o médico Hedwis Martins sublinha que, no caso da Covid-19, não há alternativa às unidades hospitalares.
"Eles têm um papel fundamental de poderem orientar e sensibilizar as pessoas que estão mais habituadas a ir ter com eles. Mas se o vírus ultrapassar a garganta e descer para os pulmões, é aí que começam as complicações, que começa a falta de ar, e a pessoa vai precisar do oxigénio e do ventilador", explica.
Como os curandeiros tradicionais não têm esses aparelhos "e não têm como monitorizar as falhas que vão surgindo", lembra o médico, "os únicos com capacidade vão ser as unidades hospitalares."
Por outro lado, como nem todas as unidades hospitalares também têm essa capacidade, "certamente haverá um espaço apropriado para tal e a pessoa tem que ser encaminhada para lá", aconselha Hedwis Martins.
Também apoia as medidas de prevenção contra o coronavírus Umaro Sissoco Embaló, declarado vencedor das eleições presidenciais pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que promulgou a lei que regulamenta o estado de emergência, que teve início a 28 de março.
O documento prevê, entre outras medidas, que as cerimónias fúnebres não devem ter mais de dez pessoas e também interdita a entrada ou saída do país.