Covid-19: Como fica a situação das empresas angolanas?
12 de maio de 2020Angola cumpre desde segunda-feira (11.05) mais 15 dias de estado de emergência. O Presidente João Loureço reconhece que as consequências do confinamento social já se sentem nas empresas. A indústria angolana debate-se com sérios problemas financeiros, falta de matérias-primas e pagamento de salários.
Segundo o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, as consequências da Covid-19 para as empresas angolanas são várias e visíveis. Os cerca de quatro mil associados enfrentam problemas de vária ordem.
"Matérias-primas, problemas financeiros, relações laborais, atividades suspensas, assunção de salários", afirmou o presidente da AIA.
Segundo José Severino, o setor da construção civil também trabalha a meio gás e com muitas despesas a cobrir.
"Muitos dos contratos ou a maioria foram suspensos, mas há os custos dos estaleiros, do pessoal administrativo. Por isso, as ferramentas que o Governo dá do ponto de vista financeiro não correspondem a premissa do problema que as empresas têm, que é financiamento, pagamento diferido e juros de 7,5%. A segurança social, naturalmente, está hoje a suportar o salário da função pública", completou o Severino.
O Presidente angolano, João Lourenço, reconhece que o novo coronavírus está a causar danos ao setor empresarial angolano: "As empresas, as indústrias e o comércio foram igualmente atingidos porque algumas tiveram que encerrar as suas portas ou trabalhar muito abaixo das capacidades instaladas".
Para mitigar os efeitos da Covid-19 nas empresas angolanas, o Governo de Luanda adotou algumas medidas como alívio fiscal e alívio no pagamento de salários, entre outras.
Crise mundial e mercado interno
O presidente da AIA reconhece o esforço do Estado na mitigação dos problemas das empresas, apesar da crise financeira, da baixa do preço do petróleo no mercado internacional e da escassez de divisas.
José Severino diz que a circulação de produtos agrícolas está mais aberta e alguns cereais são matéria-prima para o funcionamento das indústrias. Mas deixa uma sugestão para melhorar o funcionamento das fábricas.
"Que as nossas fábricas, e mesmo os grandes estaleiros, funcionem em circuito fechado, aquele modelo que os do petróleo usam 28/28. No nosso caso, as plataformas seriam de cinco em cinco dias, grupos de trabalho fechados, com todas as normas de biossegurança e, obviamente, com alimentação e, no fim dos cinco dias, regressar a casa", exemplificou José Severino.
Diversificação da economia
E como fica o sonho da diversificação da economia face a esta crise e com a queda do preço do petróleo? Para o economista Francisco Paulo, da Universidade Católica de Angola, é preciso entender como fica a diversificação da economia diante desta crise.
"Diversificar a estrutura produtiva do país, isto é, o conjunto do Produto Interno Bruto (PIB) é fazer com que mais setores tenham mais peso no Produto Interno Bruto. Se olharmos a diversificação da economia em termos do PIB, vamos ver que o setor petrolífero nos últimos cinco, seis anos, tem perdido peso", analisa o economista.
O especialista também entende que se devia diversificar a estrutura de exportação de bens e serviços de Angola. Ou seja, olhar para além do petróleo e diamantes. Mas há planos do Governo nesse sentido?
"Há muito trabalho a ser feito e não vejo em nenhum programa do Governo metas que estabelecem os timings para podermos alcançar algum desiderato, quer no que diz respeito à estrutura do PIB quer na estrutura das exportações", afirma o economista Francisco Paulo.
Entre as várias medidas adotadas pelo Governo para diversificar a economia está o Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, que parece não ter surtido efeito. Segundo o economista, o Governo precisa ir para além dos discursos.
"Pode haver alguma intenção do Governo, mas não está a ser bem formulado em termos de política porque o lobby de importação no país anda muito forte. Algumas pessoas estão a ganhar com o monopólio nas importações. Preferem que haja mais importação do que a produção interna", concluiu o economista angolano Francisco Paulo.