Condenação de "Zenu" deve respingar em outros poderosos
20 de agosto de 2020"A condenação de José Filomeno dos Santos era antecipada, mas vai ser vista à mesma como um 'game-changer' num país onde a sua família dantes operava com impunidade", escreveram os analistas da consultora Oxford Economics num comentário à condenação de 'Zenu' dos Santose, esta quinta-feira (20-08).
O Tribunal Supremo de Angola condenou, em 14 de agosto, o ex-presidente do Fundo Soberano de Angola e filho do antigo Presidente angolano pelo crime de burla por defraudação, na forma continuada, a quatro anos de prisão maior e pelo crime de tráfico de influências na forma continuada a dois anos de prisão, num cúmulo jurídico de cinco anos.
"As atenções vão agora certamente virar-se para Isabel dos Santos, considerada a mulher mais rica em África, e para os esforços para repatriar os ganhos indevidos, alguns dos quais estão alegadamente em bancos portugueses onde a família tem significativos interesses empresariais", acrescenta-se no comentário da Oxford Economics enviado aos clientes, e a que a Lusa teve acesso.
Manuel Vicente também em foco
Para além disto, continuam, as atenções "devem também virar-se para outros dirigentes do antigo Governo de José Eduardo dos Santos, como o antigo vice-Presidente e administrador da Sonangol, Manuel Vicente, que era visto como o mais provável sucessor de José Eduardo dos Santos e continua a ter vastos interesses em Angola".
Para já, concluem os analistas, "João Lourenço e os seus apoiantes vão ficar satisfeitos pela condenação mediática, mas também estão cientes de que é preciso muito mais para lidar com as redes de corrupção profundamente enraizadas no país".
Caso dos "500 milhões"
O tribunal também condenou, no âmbito do caso dos "500 milhões" de dólares, outros três arguidos, Valter Filipe, ex-governador do Banco Nacional de Angola (BNA), António Samalia Bule, ex-diretor de gestão do BNA, e Jorge Gaudens Sebastião, empresário e amigo de longa data de 'Zenu' dos Santos.
O processo era relativo a uma transferência irregular de 500 milhões de dólares do Banco Central angolano para a conta de uma empresa privada estrangeira sediada em Londres, com o objetivo de constituir um fundo de investimento estratégico para financiar projetos estruturantes em Angola.
Os advogados de defesa dos quatro réus anunciaram a intenção de interpor recurso das condenações.