Somália desenvolverá novo modelo de segurança nacional
11 de maio de 2017A primeira conferência internacional sobre a Somália realizada em Londres aconteceu em 2012. Cinco anos depois, a conferência voltou a repetir-se, esta quinta-feira (11.05), com o mesmo objetivo: estabelecer uma nova parceria entre a comunidade internacional e o país, que enfrenta problemas de vária ordem, nomeadamente, fome, em consequência da seca, mas também de segurança, uma vez que o país vive ameaçado pelo grupo extremista al-Shabab que controla uma grande parte do território.
No final do encontro, foi assinado um pacto de segurança que foi apresentado como um “roteiro” para a construção de um modelo de segurança nacional na Somália capaz de fazer frente ao al-Shabab. O acordo, descrito num documento de 17 páginas, integra várias ações que deverão ser levadas a cabo pelo Governo somali.
Entre outros pontos, os parceiros internacionais reafirmaram o seu apoio à Missão da União Africana - AMISOM - e decidiram que a transição do poder desta para as forças de segurança nacionais deve ser feito a partir de 2018. Em outubro deste ano, deverá ter lugar um encontro para monitorizar o que foi oficializado através de um acordo entre as partes.Na sessão de abertura deste encontro, o secretário-geral da Organização das Nações Unidades (ONU), António Guterres, pediu um reforço de 830 milhões de euros de ajuda para o país. Afirmou ainda que 439 mil somalis correm risco de fome e que mais de seis milhões enfrentam uma "grave insegurança alimentar". "A Somália balança entre o perigo e o potencial (...). Aqui em Londres podemos fazer inclinar a balança para o lado da segurança", afirmou António Guterres.
O secretário-geral das Nações Unidas indicou que a estabilidade política melhorou na Somália, mas que os ganhos são frágeis em parte devido à "insegurança alimentar crescente".
Vários foram os oradores que se mostraram confiantes na continuidade das melhorias no país, na sequência da eleição do presidente Mohamed Abdullahi Mohamed, no passado mês de fevereiro. O recém-eleito presidente da Somália voltou a reafirmar o seu empenho em melhorar a vida dos somalis. Asseverando estar "ciente das grandes expetativas que o povo somali tem em si”, Mohamed Abdullahi Mohamed voltou a frisar que tudo fará para melhorar a vida no seu país, através da prestação de serviços básicos, como são a saúde e a educação, mas também na área da segurança. "Não pouparei esforços para concretizar as promessas que fiz na minha campanha, e que se prendiam com a luta dos três grandes inimigos da Somália: o terrorismo, a corrupção e a pobreza", afirmou.
O Presidente somali anunciou ainda que vai "consolidar o Governo federal" e permitir aos eleitos do Parlamento formarem partidos políticos. Expressou também a sua vontade em "vencer os al-Shabab” nos próximos dois anos.
Soluções à vista?
Um desejo que o ex-enviado da ONU ao Sudão, Peter Schumann, não acredita ser realizado. "Não sei como ele quer fazer isso. Nós temos uma força composta por 20 mil homens patrocinada pela União Africana, temos os ataques dos drones norte-americanos. Houve a morte de um alto funcionário do al-Shabab em 2014, houve uma amnistia anunciada, todo o tipo de coisas… não vejo uma solução militar ", afirmou.
Em entrevista à DW, Peter Schumann chama a atenção para o facto de, apesar de existirem novos atores na conferência internacional – como o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Sigmar Gabriel, o secretário de Defesa dos EUA, James Mattis - , a crise na Somália não é uma realidade "nova nem inesperada”.
Schumann espera que a conferência consiga o financiamento necessário para fornecer ajuda alimentar ao povo da Somália, no entanto, não acredita que seja o suficiente para resolver os vários problemas do país. O responsável afirma estar "cético” sobre a descoberta por partes desses novos atores de uma abordagem política para a crise. "Não acho que esta conferência nos deixará mais perto de resolver as complexidades da crise na Somália", conclui.
OMS pede 94 milhões de euros
No mesmo dia em que se realizou a conferência internacional sobre a Somália, em Londres, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para a dificuldade em continuar o trabalho mais urgente no país, onde mais de 3,3 milhões de pessoas estão em risco de fome. Segundo a OMS, as necessidades de saúde mais urgentes na Somália requerem um financiamento de 94,9 milhões de euros, dos quais apenas recolheu 23%.