Cimeira em Londres: Angola e Moçambique retornam otimistas
21 de janeiro de 2020O chefe de Estado moçambicano viajou a Londres acompanhado por uma delegação de 26 empresas, a maioria ligadas ao agronegócio. O objetivo de Moçambique na cimeira era angariar recursos financeiros. Segundo Agostinho Vuma, presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), para já, uma empresa moçambicana irá beneficiar de parte de um financiamento de 400 milhões de dólares disponibilizados por uma entidade britânica.
"Vai resultar para Moçambique na conclusão da Base Logística de Pemba e na construção da Base Naval em Nacala e, não menos importante, no envolvimento de todo um conjunto do setor privado na cadeia de valor para as subcontratações em todos os setores, incluindo a construção civil", revela.
"Penso que este, de forma direta, como um investimento anunciado, foi um ganho do nosso setor empresarial", avalia Vuma.
Projetos em avaliação
Moçambique levou ao Reino Unido 16 projetos avaliados em 188 milhões de euros, com foco na agricultura, setor que o Presidente Filipe Nyusi havia enfatizado como prioridade no seu discurso de reinauguração, na semana passada.
Segundo Agostinho Vuma, com a taxa de juros a 25% no país, torna-se impossível ao empresariado local avançar. O 'know-how' britânico também é visto com bons olhos. O clima é de otimismo também em relação a esses projetos e a delegação espera resultados para maio próximo.
"Em relação aos projetos que nós do setor empresarial trouxemos, ficam em análise", garante.
"Teremos a Conferência de Investimento a ser realizada em Moçambique, à margem da Conferência Anual do Setor Privado Moçambicano, dirigida pelo Presidente, em que as entidades que vão comprar os projetos façam o anúncio à margem dessa conferência", afirma o presidente da CTA.
Ofensiva britânica impressiona
A delegação moçambicana retorna ao país impressionada com a investida britânica, afirma Agostinho Vuma.
"A Grã-Bretanha promoveu a conferência com o anúncio de pacotes concretos para África. É sabido que África tem limitantes no conhecimento e nos recursos financeiros. Portanto, reuniões de cafés são tantas que se fazem ao redor do mundo. Mas uma reunião em que se anuncia aquilo que são as fraquezas de outras economias, é na verdade uma reunião produtiva ao nosso ver", conclui.
Angola às voltas com o "Luanda Leaks"
Angola esteve representada pelo ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior. O ministro destacou o interesse em investimentos em agricultura, agroindústria, turismo, indústria transformadora, extrativa ou telecomunicações.
Manuel Nunes Júnior acrescentou que o Governo de seu país está a trabalhar para promover a instalação "de uma economia de mercado devidamente estruturada", que deixe de estar dependente do petróleo. Entretanto, as revelações da investigação jornalística conhecida como "Luanda Leaks" levaram o ministro a defender a necessidade de se estabelecer confiança no Estado angolano.
"O que precisamos ter em Angola é um verdadeiro Estado de Direito, porque consideramos que o Estado de direito é o elemento essencial para que haja confiança dos agentes na sociedade em que estão inseridos. Consideramos que, deste ponto de vista, ninguém pode estar acima da lei, que a lei deve ser igual para todos e as oportunidades devem ser iguais para todos", argumentou.
Para José Severino, presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), além da vontade expressa de investir em África, a saída do Reino Unido da União Europeia já estaria a facilitar a relação entre Angola e a Grã-Bretanha, que tem muito a oferecer.
"Financiamento, várias agências, as suas empresas ligadas ao setor mineral que Angola está agora a desenvolver, o próprio turismo, a agricultura – com uma Irlanda que é de facto um caso 'sui generis' [único] – e também as novas tecnologias e, quiçá, a experiência da Escócia no domínio marítimo", enumera.
"Parceiro favorito"
No discurso de abertura da cimeira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson - reconhecendo a concorrência de outras potências, como a China, Alemanha e França – disse querer tornar o Reino Unido o "parceiro de investimento favorito" dos países africanos e urgiu os líderes presentes a aproveitar as oportunidades oferecidas pelo pós-Brexit.
"Vamos aproveitar as oportunidades que estão diante de nós. Vamos construir a parceria para o futuro e, juntos, escrever o próximo capítulo para o meu país, para o seu país e, acima de tudo, para todos os povos dos nossos países", convidou.
Mais de 2.000 empresas britânicas operam atualmente em África, cujo investimento é estimado em 42 mil milhões de euros.
Participaram da cimeira 21 dos 54 países africanos, incluindo 16 chefes de Estado - da Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Egito, Gana, Guiné, Marrocos, Moçambique, Nigéria, Quénia, Malaui, Mauritânia, Ilhas Maurícias, Ruanda, Senegal, Serra Leoa e Uganda.