Camionistas angolanos retidos na RDC há mais de quinze dias
3 de outubro de 2024Mais de 400 camiões angolanos de transporte de carga estão retidos na República Democrática do Congo (RDC) há mais de quinze dias. Foram impedidos pelas autoridades congolesas de atravessar a fronteira rumo à província angolana de Cabinda.
Relatos que chegam de camionistas angolanos falam em maltratos.
“Até a esta altura os camiões continuam na RDC e a situação está a causar vários constrangimentos, já que estamos a falar em mais de 15 dias”, confirma o presidente da Associação dos Transportadores Rodoviários de Mercadorias de Angola (ATROMA), António Gavião Neto.
A circulação dos transportadores no corredor logístico Luanda-Luvo-Noqui tem sido motivo de discórdia tendo como pano de fundo as taxas aduaneiras cobradas pelo dois países.
No início do ano, a ATROMA anunciou que Angola passaria a cobrara mesma taxa aduaneira aplicada pela RDC. Os camiões angolanos pagam 4.000 dólares (cerca de 3.734 euros) no posto aduaneiro do país vizinho.
Violação de acordo?
À DW, António Gavião Neto acusa a República Democrática do Congo de estar a violar o acordo assinado entre os dois países.
“Angola e a RDC assinaram este ano um acordo, com prazo de implementação de dois anos, paraharmonizar as taxas aduaneiras. Entretanto, parece que este acordo não está a ser considerado pela parte congolesa”, lamentou.
Segundo o presidente da ATROMA, esta quinta-feira (03.10) uma delegação angolana deverá deslocar-se à fronteira “para aferir o estado dos camiões e dos camionistas” que estão retidos.
No entanto, alguns camionistas não descartam que a atual situação seja uma resposta ao crescente controlo na fronteira, por parte de Angola, sobretudo no que toca ao combustível.
“Isto deve ser devido, em parte, à vistoria dos caminhões pesados congoleses para combater o tráfico, especialmente de combustível, uma vez que a situação estava a sair de controlo”, desabafou João António.
Aumento dos preços dos produtos
Dos camiões retidos, 24 pertencem à província de Cabinda. A situação está afetar diretamente aos preços dos principais produtos no enclave, que começam a disparar nos mercados.
“Um quilo de feijão, por exemplo, que comprávamos a mil kwanzas (1,10 euros) já está a custar dois mil e quinhentos kwanzas (2,50 euros). Está demais. Onde vamos parar?” questiona Josefina, dona de casa.
Também Anderson Maimona, empresário em Cabinda, conta à DW que a situação está a trazer prejuízos financeiros e perda incalculável de mercadorias alimentícias e medicamentos.
“Tivemos a informação de que os nossos camiões estão a ser sabotados na RDC, porque dizem que há uma manifestação entre o Governo congolês e os camionistas daquele território do país.”
O Ministro das Relações Exteriores de Angola, Tete António, convocou Kalala Mayiba Constantin, Embaixador da República Democrática do Congo acreditado no país para manifestar o desagrado pelo tratamento que sido aos camionistas angolanos na RDC, bem como a posição unilateral das autoridades congolesas sobre a proibição da circulação dos camionistas angolanos pelo território congolês com destino á província de Cabinda.