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Cabo Delgado: Kagame diz que 80% do problema foi "abordado"

23 de junho de 2023

O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, disse que o problema de Cabo Delgado já foi 80% "abordado". Analistas defendem capitalização destas conquistas e lamentam o silêncio do Governo moçambicano.

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Mosambik | Besuch Filipe Nyusi und Paul Kagame in der Provinz Cabo Delgado
Foto: Simon Wohlfahrt/AFP/Getty Images

O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, referiu na quarta-feira (21.06) que o problema de Cabo Delgado já foi 80% "abordado". Numa declaração citada pela imprensa ruandesa, Kagame destacou que, como resultado desse sucesso "um grande número de deslocados já tem condições de voltar para as suas comunidades e casas".

Embora Kagame tenha afirmado que a maior parte do problema do terrorismo em Cabo Delgado já foi "abordado", nas palavras do Presidente ruandês, os restantes 20% ainda estarão por clarificar.

Paul Kagame disse que tudo "depende de um conjunto de circunstâncias, que ainda precisam de ser esclarecidas".

O silêncio das autoridades moçambicanas

Mesmo assim, o jornalista Aunício da Silva considera que a declaração de Kagame é uma boa notícia. Mas critica o facto da informação chegar através do Ruanda, que enviou militares para apoiar o combate ao terrorismo em Moçambique, e não das autoridades no país.

"Eu penso que ele deve ter legitimidade de falar disso, ainda que nós esperássemos que isto fosse uma comunicação por parte do Governo moçambicano a atualizar-nos como cidadãos e como Nação sobre o que se passa em Cabo Delgado”, considerou.

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Retorno à estabilidade

O ativista Abudo Gafuro Manana confirma que há um retorno a um relativo clima de estabilidade em Cabo Delgado.

"O que estávamos a ver há alguns meses não é o que vimos agora. Havia muita gente nos centros de acomodação, mas o número reduziu significativamente voltando às suas zonas de origem por causa de uma segurança parcial”, contou.

A DW África escalou o distrito de Quissanga, que em 2020 foi invadido pelos terroristas. Aqui, muitos comerciantes retomaram as suas atividades. 

Omar Fiquire é um comerciante de peixe, que teve de interromper forçosamente a atividade devido à insegurança na região. Agora, com a segurança restabelecida, voltou ao trabalho. 

"É a primeira vez que volto (desde os ataques terroristas) e me sinto bem. Os outros comerciantes têm medo, mas basta eu chegar lá e vou dizer aos meus colegas que o caminho está tudo bem”, disse.

Um outro grupo de profissionais que se sente encorajado a desenvolver a sua actividade em Quissanga são os transportadores. Elmano Bachir trabalha neste setor e conta que anteriormente "não havia segurança e não podíamos transportar pessoas”, revelando que hoje em dia já existe segurança e consegue levar os passageiros à vontade.

Os transportadores pedem, no entanto, que o Governo reabilite as estradas que dão acesso a Quissanga, não só para melhorar o negócio, como também para facilitar o transporte de pessoas que pretendem voltar a casa no contexto pós-terrorismo.

Capitalizar as conquistas

O jornalista Aunício da Silva destaca que é preciso capitalizar estas conquistas. 

"Vamos publicitar estes feitos para convencer as empresas que ali estavam a operar, de que de facto estamos num processo de reposição de segurança bastante avançado e assim poder ter mais emprego para os nossos jovens”, apelou.

Anúncio acrescenta que é preciso mais ações de responsabilidade social que beneficiem as nossas comunidades.

O chefe de Estado ruandês, Paul Kagame, disse também na quarta-feira que, por causa da melhoria do clima de segurança, as empresas que têm investido na região, como a petrolífera Total, "já pensam em retomar suas atividades."

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