Brasil: Indiciados polícias que balearam angolano por engano
11 de agosto de 2020A Brigada Militar do Rio Grande do Sul, no Brasil, indiciou por crime militar os três polícias envolvidos num incidente que causou a morte da brasileira Dorildes Laurindo, de 56 anos, e feriu gravemente o angolano Gilberto Almeida, de 26 anos.
O crime ocorreu a 17 de maio na cidade de Gravataí, região metropolitana de Porto Alegre. O Inquérito Policial Militar foi concluído na última sexta-feira (07.08) e encaminhado à Justiça Militar do Estado.
Também cabe ao Ministério Público Militar manifestar-se quanto ao indiciamento e decidir se irá denunciar os polícias ou não. Até à decisão dos órgãos militares, os polícias envolvidos no tiroteio serão submetidos a um processo administrativo disciplinar e ficam afastados das suas funções.
A medida não agrada ao sobrevivente angolano Gilberto Almeida. "Acho que afastamento ainda é muito pouco. Nós vamos continuar a lutar para que seja feita justiça, porque cometeram um crime, foi um homicídio e uma tentativa de homicídio", acusa.
"Eles [os polícias] mudaram o cenário do crime e falaram algo que não existe no depoimento. Eu fui preso injustamente e acho que estes crimes devem ser julgados como [qualquer] cidadão comum'', concluiu Gilberto Almeida.
A advogada de defesa do angolano, Ana Konrath, diz que vai mover um processo de indemnização contra o Estado do Rio Grande do Sul.
Quem paga os cuidados médicos?
Após deixar a prisão onde ficou detido injustamente durante 12 dias, Gilberto Almeida ficou mais dois meses no Rio Grande do Sul para tratamento médico e sessões de fisioterapia. O angolano ficou com duas balas alojadas no corpo, uma na perna direita e outra na região da bacia.
Recém-chegado à cidade de Anápolis, no Estado de Goiás, onde reside, Gilberto continua o tratamento com recursos próprios. Esta semana, o angolano será submetido a uma nova cirurgia para retirar um dos projéteis.
"Eu estou aqui já, há duas semanas dando seguimento ao tratamento com a fisioterapia. Esta semana vou fazer outra cirurgia. Vou retirar o projétil que está na bacia'', contou. Os médicos não pretendem mexer na bala alojada no joelho direito, porque está num local crítico e muito sensível.
Para pagar as despesas de tratamento médico e sessões de fisioterapia, Gilberto Almeida teve de fazer uma "vaquinha online" para arrecadar fundos.
Fogo cruzado
No dia 17 de maio, a costureira Dorildes Laurindo e o angolano Gilberto Almeida regressavam de um passeio ao litoral do Rio Grande do Sul. O casal estava dentro de um carro que foi acionado através de uma aplicação móvel de boleias de longa distância. O motorista, que estava em fuga à justiça, ultrapassou uma barreira policial durante o percurso.
Houve reação por parte do condutor e os polícias revidaram com tiros que acabaram por atingir os dois passageiros. Dorildes Laurindo faleceu no hospital após duas semanas de internamento. Gilberto Almeida foi baleado e preso, acusado de ter atirado contra os polícias. Já o motorista, identificado como Luiz C., tentou escapar a pé e foi imediatamente detido.