Boko Haram: cresce o medo na África Ocidental
17 de novembro de 2015
A 12 de novembro, 25 pessoas morreram num ataque do Boko Haram numa aldeia do Níger. Uma semana antes, um menor tentou levar a cabo um atentado suicida junto a uma mesquita nos Camarões. No Chade, duas bombistas suicidas mataram pelo menos três pessoas num ataque a uma mesquita.
Esta e outras notícias semelhantes chegam quase diariamente aos residentes da área em torno do Lago Chade, onde o Chade, os Camarões e a Nigéria fazem fronteira com o Níger – o país mais vulnerável da região, de acordo com os observadores.
A fragilidade do Níger
A fuga da população aos ataques do Boko Haram colocou a região sob pressão humanitária. E o Níger, segundo os observadores, é o país mais afectado. Klaas van Walraven, especialista no Níger no Centro de Estudos Africanos de Leiden, na Holanda, afirma que “tem havido muitos ataques a aldeias do Níger, com dezenas de vítimas mortais. Mas o grande problema humanitário são os refugiados”.
Segundo o investigador, “mais de 150 mil refugiados do nordeste da Nigéria vivem em território nigerino. E muitas pessoas do Níger estão também em fuga. A economia está sob uma enorme pressão no Sudeste”.
Também aqui – na região mais pobre de um dos países mais pobres do mundo – se fixou agora o Boko Haram. Os analistas consideram que o Níger ficou “esmagado” no combate ao terrorismo, desde que as forças nigerianas e chadianas lançaram ofensivas contra os extremistas islâmicos na Nigéria.
Boko Haram recruta membros na região
Andreas Mehler, professor de Política de Desenvolvimento da Universidade de Freiburg, na Alemanha, acredita que a ofensiva militar contra o Boko Haram na Nigéria é a razão para o aumento da violência além-fronteiras.
Em muitas destas áreas, como o norte dos Camarões, diz o investigador, os radicais islâmicos encontram um terreno fértil para expandir a sua ideologia.
“Há alguns anos atrás, não se falava em terrorismo africano. Ninguém se iria fazer explodir, era algo que não encaixava na cultura africana. Isso mudou muito”, explica o docente.
“A questão é: como é que isto acontece? O que é que é forçado, lavagem cerebral, ou crença religiosa? Enquanto isso, assume-se que esta região é terreno fértil para o radicalismo islâmico”, conclui.
Cooperação internacional?
Em Maio, os países da região decidiram reforçar a cooperação no combate ao Boko Haram, com a criação de uma força conjunta de 8 mil e 700 soldados. Seis meses depois, esta cooperação internacional ainda é pouco visível. Muitos observadores reconhecem os avanços do exército nigeriano na luta contra os radicais islâmicos, mas criticam a falta de uma estratégia transfronteiriça comum.
Sani Kuka Sheka, porta-voz das Forças Armadas nigerianas, tem uma visão diferente, considerando que “quem faz essas alegações não está a prestar atenção ao nível de cooperação entre as forças nigerianas e os países vizinhos”. "Temos uma nova parceria militar aprovada pelas Nações Unidas na região do Lago Chade", sublinha, acrescentando que "cada país tem a responsabilidade de garantir que o Boko Haram não tem liberdade de movimento em qualquer um destes países”.
Uma tarefa impossível, na opinião de Klaas van Walraven, da Universidade de Leiden. O investigador acredita que o Boko Haram vai continuar a aumentar a sua influência em toda a região nos próximos anos, especialmente no país mais vulnerável – o Níger.
“As Forças Armadas são muito fracas. E o Níger é um país muito vasto. O deserto e a região remota do sudeste, na fronteira com a Nigéria, onde os confrontos se concentram, são zonas muito difíceis de controlar pelas Forças Armadas”, explica van Walraven.
Os extremistas do Boko Haram lutam pela implementação de um estado islâmico no nordeste da Nigéria. O conflito já matou pelo menos 17 mil pessoas. 2 milhões e meio abandonaram as suas casas.