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LGDH reprova Sissoco, denunciando violência e corrupção

Iancuba Dansó (Bissau)
18 de janeiro de 2024

Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) divulga relatório que condena a atuação do Presidente Umaro Sissoco Embaló, acusando-o de intervenções ofensivas à margem da Constituição, desde que assumiu o poder.

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Guinea-Bissau  Korruption LGDH
Foto: Iancuba Dansó/DW

Num cenário de crescente tensão na Guiné-Bissau, a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) divulgou um relatório incisivo, condenando veementemente a atuação do Presidente Umaro Sissoco Embaló, acusando-o de intervenções ofensivas à margem da Constituição desde que assumiu o poder.

No extenso documento de 175 páginas, a LGDH descreve a situação dos direitos humanos no país nos anos de 2020 e 2022, destacando a escalada da corrupção a níveis preocupantes, que, segundo a organização, está "a dizimar" o sistema de justiça guineense. Bubacar Turé, presidente da LGDH, enfatizou a falta de implementação das leis pelo Governo como fator contribuinte para essa degradação.

Participantes do evento de apresentação do relatório da LGDH
Participantes do evento de apresentação do relatório da LGDH Foto: Iancuba Dansó/DW

Educação e saúde

O relatório abordou também questões relacionadas à educação e saúde, revelando que 28% das crianças em idade escolar não têm acesso à educação, enquanto a taxa de mortalidade materna aumentou, registando 667 mortes a cada cem mil mulheres de 2020 a 2022.

A LGDH apontou ainda mais de 809 casos de violência baseada no género, sete casos de raptos e espancamentos, além de 82 conflitos impulsionados por acusações de feitiçaria, resultando em 37 mortes.

Bubacar Turé expressou profunda preocupação com os ataques aos órgãos de comunicação social e jornalistas, citando os ataques à rádio privada Capital FM como exemplos de atos perpetrados por milícias apoiadas por estruturas estatais, caracterizando-os como "terrorismo do Estado."

"Perpetrados por um grupo de milícias patrocinado por certas estruturas do Estado, com a missão de praticar atos que na perspetiva da Liga Guineense dos Direitos Humanos corresponde inequivocamente ao terrorismo do Estado", disse Turé.

Corrupção

A organização dos direitos humanos considera que a corrupção está a exterminar os valores fundamentais do Estado de Direito Democrático na Guiné-Bissau, por falta de implementação das leis, por parte do Governo guineense.

A liberdade sindical também foi abordada no relatório e, segundo Turé, as detenções arbitrárias de vários líderes sindicais e as interferências políticas grosseiras na gestão da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), a maior central sindical do país, "são exemplos paradigmáticos da intolerância e insensibilidade do regime vigente face ao livre exercício dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos", disse.

Liga Guineense defende consolidação da democracia no país

O relatório da LGDH critica a atuação do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, acusando-o de violar a Constituição ao reduzir o papel do primeiro-ministro e direcionar ataques constantes a jornalistas, opositores políticos e ativistas dos direitos humanos.

Lázaro Barbosa, presidente da Federação das Associações de Pessoas com Deficiência diz que é possível inverter o atual quadro do país em relação aos direitos humanos, através de um diálogo nacional.

"O país deve concentrar-se em diálogo que possa, de facto, trazer as pessoas a refletirem sobre aquilo que foi denunciado no relatório [da Liga Guineense dos Direitos Humanos] e sobre a estratégia para sair desta situação de violação dos direitos humanos", disse Barbosa.

PAI-Terra Ranka

Nesta quinta-feira (18.01), a coligação Plataforma da Aliança Inclusiva (PAI -Terra Ranka) também denunciou a frustração da sua manifestação na capital do país, a segunda mobilização falhada desde a dissolução do parlamento pelo Presidente. A coligação, que é contra a dissolução da Assembleia Nacional Popular, e a demissão do Governo, em dezembro passado, enfrentou novamente a repressão policial.

Polícias impediram o acesso dos manifestantes aos locais de concentração e as pessoas acabaram imobilizadas. A PAI-Terra Ranka denunciou a detenção "ilegal" de dois dos seus dirigentes pelas forças da ordem.

O professor universitário Fernando Mandinga da Fonseca
O professor universitário Fernando Mandinga da FonsecaFoto: Iancuba Dansó/DW

O professor universitário Fernando Mandinga da Fonseca alertou para a necessidade de intervenção da comunidade internacional para evitar uma escalada de violência.

"A comunidade internacional tem de mobilizar os mecanismos existentes para travar o atual regime, pois, caso contrário, a Guiné-Bissau está a caminhar para um cenário que pode aprofundar a violência. Se as medidas não forem tomadas, estaríamos a legitimar a tomada de poder por via da força", disse ele.

O Ministério do Interior proibiu manifestações em todo o país na segunda-feira, alegando razões de segurança nacional, uma decisão contestada pelas organizações de direitos humanos por considerá-la inconstitucional. O país enfrenta uma grave crise, com a comunidade internacional a ser instada a agir para conter a deterioração da situação.

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