Bielorússia: UE em reunião extraordinária na quarta-feira
17 de agosto de 2020Milhares de manifestantes sitiaram a sede da televisão estatal da Bielorússia, esta segunda-feira (17.08), aumentando a pressão sobre o Presidente Alexander Lukashenko para se demitir, após 26 anos no cargo.
No nono dia consecutivo de protestos contra os resultados oficiais da votação presidencial de 9 de agosto, que lhe garantiu um sexto mandato, Lukashenko voou de helicóptero para uma fábrica na capital, onde foi recebido por trabalhadores a gritar "Vai-te embora"!
Mais de 5.000 trabalhadores grevistas da fábrica Minsk Tractor Works marcharam pelas ruas de Minsk, exigindo que Lukashenko ceda o seu posto a Sviatlana Tsikhanouskaya, principal candidata da oposição.
Maria Kolesnikova, a principal aliada de Tsikhanouskaya, participou na reunião e disse que "só a demissão do ex-Presidente [Lukashenko] acalmará a nação".
Inquietação pós-eleitoral
Os resultados oficiais da votação de 9 de agosto deram a Lukashenko 80% dos votos e a Tsikhanouskaya apenas 10%, mas a oposição alega que a votação foi manipulada.
"Lukashenko é um ex-Presidente, ele tem de ir", disse Sergei Dylevsky, o líder do protesto na fábrica Minsk Tractor Works, à agência noticiosa Associated Press, esta segunda-feira. "Seveta [Tsikhanouskaya] é a nossa Presidente, legítima e eleita pelo povo", afirmou.
Tsikhanouskaya, uma antiga professora de inglês de 37 anos, entrou na corrida presidencial após a prisão do seu marido na Bielorrússia. Conseguiu galvanizar apoio ao nível nacional, atraindo dezenas de milhares para os comícios da sua campanha.
Os protestos em grande escala contra os resultados das eleições continuaram mesmo depois de Tsikhanouskaya ter deixado o país, refugiando-se na Lituânia na semana passada - um movimento que a sua campanha disse ter sido feito sob coação. Os protestos colocam o maior desafio ao regime de Lukashenko.
As autoridades bielorrussas tentaram inicialmente reprimir as manifestações, detendo quase 7.000 pessoas nos primeiros dias dos protestos. A polícia dispersou as multidões com violência, ferindo dezenas de pessoas.
No entanto, à medida que os protestos cresciam e a dura repressão atraía críticas no Ocidente, as forças da lei abstiveram-se de interferir e estiveram praticamente ausentes durante um comício no domingo (16.08) que atraiu cerca de 200.000 pessoas.
Novo pleito?
Tsikhanouskaya disse, numa declaração em vídeo esta segunda-feira, que estava pronta para facilitar uma repetição das disputadas eleições presidenciais.
"Estou pronta para assumir a responsabilidade e agir como líder nacional para que o país se acalme, regresse ao seu ritmo normal, para que possamos libertar todos os presos políticos e preparar a legislação e as condições para a organização de novas eleições presidenciais", afirmou.
Lukashenko insistiu na ideia de conversações com a oposição, insistindo que o seu Governo era o único legítimo e rejeitou a ideia de repetir as eleições, num comício no domingo. O Presidente disse a uma multidão de 50.000 pessoas que, caso contrário, o país "pereceria" como Estado e denunciou os manifestantes como "fantoches de mentores estrangeiros".
UE: Reunião de emergência e possibilidade de sansões
Em Bruxelas, o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel ,convocou uma cimeira de emergência dos líderes da União Europeia (UE) para discutir o tratamento das eleições e a repressão na sequência das eleições para a próxima quarta-feira (19.08) - depois de Moscovo ter afirmado estar pronto a prestar ajuda militar ao seu aliado Lukashenko.
"O povo da Bielorrússia tem o direito de decidir sobre o seu futuro e eleger livremente o seu líder", disse Charles Michel na rede social Twitter. "A violência contra os manifestantes é inaceitável e não pode ser permitida", acrescentou.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou a partir da sua estância de férias na costa mediterrânica francesa que a UE deve defender centenas de milhares de bielorrussos que se manifestaram pacificamente pela sua liberdade e soberania.
Os diplomatas da UE disseram em Bruxelas que esperavam que a cimeira enviasse um forte sinal de solidariedade à oposição na Bielorrússia. "A situação está a evoluir muito rapidamente, pelo que foi necessária uma cimeira urgente", disse um diplomata da UE.
Na sexta-feira (14.08), os 27 ministros dos Negócios Estrangeiros da UE sublinharam que as eleições não foram livres nem justas e que se recusam a aceitar os resultados das urnas, tal como anunciado pela comissão eleitoral da Bielorrússia. Será elaborada uma lista de pessoas que poderiam enfrentar sanções - como proibições de viagem e sanções económicas - por causa do seu papel na violência.
Alemanha apoia sanções
A Alemanha, que detém a presidência rotativa da UE, mostrou-se, esta segunda-feira, preparada para apoiar uma expansão das sanções da União Europeia contra as principais figuras da Bielorrússia por causa da sua sangrenta repressão contra os manifestantes.
O porta-voz do Governo alemão, Steffen Seibert, disse que deveriam ser consideradas medidas ainda mais fortes. "Claro que estamos a considerar a opção de alargar as sanções a outras figuras de liderança", disse aos jornalistas.
Seibert considerou as manifestações de massas contra as disputadas eleições presidenciais deste mês como "impressionantes" e "comoventes" e exortou ao fim imediato das represálias violentas e à libertação dos "presos políticos".
"Estas pessoas deveriam saber que a Europa está ao seu lado", acrescentou. Seibert instou ainda a um "diálogo nacional" entre o Governo e a oposição "para superar a crise", acrescentando que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, na sigla em inglês) poderia desempenhar um papel com uma "revisão das eleições".
A OSCE tem enviado observadores à Bielorrússia desde 2001, mas afirmou não ter sido convidada a acompanhar as últimas eleições presidenciais.
Manobras militares
Também esta segunda-feira, a Bielorrússia iniciou manobras militares na sua fronteira ocidental. O Presidente Lukashenko tinha afirmado que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) estava a reunir tropas na Polónia, Lituânia e Letónia para ameaçar o seu país.
Uma porta-voz da NATO refutou a acusação, no passado fim de semana. "A presença multinacional da NATO nos Estados-membros orientais não constitui uma ameaça para ninguém", disse Oana Lungescu. "É claramente defensiva, apropriada e concebida para prevenir conflitos e manter a paz", disse a porta-voz da aliança.