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PolíticaAlemanha

Aumentam agressões contra políticos na Alemanha

Oliver Pieper
8 de maio de 2024

Há cada vez mais agressões contra políticos na Alemanha. Em tempo de campanha eleitoral, o que estará por trás do aumento de tais ataques?

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Manifestação em Berlim contra o extremismo de direita e ataques a políticos
Manifestantes reuniram-se na Porta de Brandemburgo, a 5 de maio, para condenar os ataques a políticos na AlemanhaFoto: Christian Mang/AFP/Getty Images

Franziska Giffey, ministra da Economia do estado de Berlim e membro do Partido Social Democrata (SPD) do chanceler Olaf Scholz, foi atingida na cabeça com um saco arremessado por um agressor, tendo sido hospitalizada com ferimentos ligeiros, segundo informou a polícia em comunicado.

O suspeito aproximou-se da antiga presidente da Câmara de Berlim e bateu-lhe na cabeça e no pescoço, na tarde de terça-feira (07.05), antes de fugir. A polícia não confirmou quais os motivos do agressor.

O  ataque surge, no entanto, na sequência de uma série de agressões a políticos alemães. O atual presidente da Câmara de Berlim, Kai Wegner, condenou a agressão, afirmando que quem ataca políticos está a "atacar a democracia".

Membros proeminentes do partido Os Verdes, coligados a nível federal com o SPD do chanceler Olaf Scholz, também enfrentaram protestos furiosos em ano de eleições europeias e de diversas eleições estaduais, num contexto de apoio crescente à extrema-direita.

Na passada sexta-feira (03.05), Matthias Ecke, que representa o SPD no Parlamento Europeu, foi brutalmente espancado por quatro assaltantes quando pendurava cartazes de campanha eleitoral na cidade de Dresden, no leste da Alemanha.

O político do SPD da Saxónia, de 41 anos, principal candidato às eleições para o Parlamento Europeu de 6 a 9 de junho, ficou gravemente ferido. Os quatro suspeitos, jovens alemães com idades entre os 17 e os 18 anos, foram identificados pela polícia e, em pelo menos um deles, foram encontrados indícios de ideologia de extrema-direita.

Franziska Giffey foi uma das vítimas de ataques a políticos na Alemanha
Franziska Giffey foi uma das vítimas de ataques a políticos na AlemanhaFoto: Britta Pedersen/dpa/picture alliance

A boa notícia é que Matthias Ecke sobreviveu à operação depois de ter partido o osso da face e a cavidade ocular. Ecke tenciona prosseguir a campanha eleitoral após a recuperação, de acordo com informações adiantadas pela sua organização regional.

A má notícia, porém, é que qualquer pessoa politicamente ativa na Alemanha vive tempos cada vez mais perigosos. O ataque a Ecke é apenas a ponta do icebergue, porque os políticos locais, em particular, são atacados, ameaçados e insultados diariamente.

Frequentemente atacados

Max Reschke, líder do partido Os Verdes no estado da Turíngia, relata vários incidentes. "Desde o Natal até ao início deste ano, durante os protestos dos agricultores, tivemos um monte de estrume em frente a cada gabinete, ovos nas janelas, janelas partidas em vários gabinetes e até caixas de correio rebentadas", revela o político. "Por vezes, as pessoas dizem-nos que, quando voltarmos ao poder, vai acontecer-nos isto e aquilo", adianta.

Os Verdes, em particular, são frequentemente atacados, obrigando Reschke e a sua equipa a reagirem. O político explica que, durante a campanha para as eleições autárquicas, no final de maio, e para as próximas eleições europeias, viajam sempre pelo menos em pares, por motivos de segurança.

A violência contra políticos não é um fenómeno novo. A presidente da Câmara de Colónia, Henriette Reker, foi vítima de uma tentativa de assassinato em 2015, à qual sobreviveu. Em 2019, o presidente do distrito de Hesse e político da CDU, Walter Lübcke, foi assassinado por um elemento da extrema-direita.

O governador da Baviera, Markus Söder, culpa o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) pela onda recente de violência contra políticos. Mas o certo é que os políticos da AfD também são vítimas de ataques.

Conclusão preocupante

Um inquérito recente a mais de 6.400 presidentes de câmara na Alemanha, realizado pelo instituto de estudos de opinião Forsa a pedido da Fundação Körber, chegou a uma conclusão preocupante: 40% dos inquiridos declararam que eles próprios ou pessoas próximas já foram insultados, ameaçados ou agredidos fisicamente por causa do seu trabalho.

Sven Tetzlaff, diretor de Democracia e Coesão da Fundação Körber, explica, em entrevista à DW, que este não é um fenómeno puramente alemão, mas que se trata de uma tendência em toda a Europa e nos EUA. "A linguagem tornou-se mais rude", afirma, argumentando que isto tem algo a ver com as redes sociais.

"As pessoas estão a espalhar o seu ódio ao Estado, ao sistema, à política, aos 'que estão no topo'. E também sabemos que os limiares de inibição para atacar fisicamente as pessoas baixam significativamente se a linguagem continuar a evoluir nesse sentido", acrescenta.

Se os políticos locais se afastarem após o ataque a Matthias Ecke por temerem pela sua segurança, Sven Tetzlaff teme um cenário ameaçador. "Se as pessoas no primeiro nível da democracia, nos mais de 11.000 municípios da Alemanha, deixarem de se envolver, deixarem de fazer o trabalho político local voluntário, então as pessoas nas províncias, nas zonas rurais, nas cidades e aldeias vão perceber que a democracia já não está a funcionar", avisa Tetzlaff.

E acrescenta: "Se, a nível local, deixarmos de ter confiança de que este Estado democrático vai continuar a funcionar, temos de facto um enorme problema na Alemanha".

No entanto, existe um ponto focal para todos os titulares de cargos municipais e funcionários eleitos na Alemanha desde 2021. "Stark im Amt" (algo como "Forte no Gabinete", na tradução para o português) é o nome de um portal online para ajudar políticos locais a combater o discurso de  ódio e a violência.O portal foi iniciado pela Fundação Körber em conjunto com a Associação Alemã de Cidades, a Associação Alemã de Condados e a Associação Alemã de Cidades e Municípios.

Cerca de 3 mil políticos locais acedem todos os meses ao site para se informarem sobre estratégias de prevenção e luta contra o discurso de ódio.

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