Europeias: A "onda verde" de uns, os problemas de outros
27 de maio de 2019Há uma "onda verde" a espalhar-se pela Europa. Os Verdes são uns dos grandes vencedores destas eleições europeias. Passam a ter 70 assentos no Parlamento Europeu, contra os atuais 52. E veem a sua voz reforçada, como potenciais aliados dos partidos mais votados - os conservadores do Partido Popular Europeu e os sociais-democratas.
A alemã Ska Keller, cabeça de lista dos Verdes europeus, ficou radiante com os resultados:
"Estamos muito satisfeitos com a confiança que os eleitores depositaram em nós. Para nós, é uma tarefa enorme e uma grande responsabilidade," avaliou.
Aquecimento global em foco
O combate às alterações climáticas foi uma questão que marcou a campanha para as europeias.
Isto, numa altura em que se tem espalhado também uma "onda verde" um pouco por todo o mundo, com as chamadas "Sextas-feiras pelo Futuro". Centenas de milhares de estudantes de mais de 120 países têm ido para as ruas protestar contra o que dizem ser a inércia dos políticos para reduzir as emissões de carbono e combater os efeitos do aquecimento global.
O sucesso dos Verdes na Europa deve-se igualmente à subida do partido na Alemanha. A percentagem dos Verdes alemães, em relação às últimas eleições, quase duplicou, para 20,5%. Os Verdes foram o segundo partido mais votado na Alemanha - um resultado histórico. Para isso, tiveram a ajuda da juventude. Um em cada três jovens alemães votou nos Verdes.
O partido pede, a longo prazo, uns "Estados Unidos da Europa" - o oposto do que pedem os populistas de extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) que lutam por uma Europa de pátrias soberanas e querem acabar com o Parlamento Europeu. A AfD ficou em quarto lugar e envia 11 deputados para Estrasburgo.
Sociais-democratas sob pressão
Já os sociais-democratas alemães do SPD, que estão no Governo com a chanceler Angela Merkel, tiveram um domingo eleitoral para esquecer. Uma grande maioria dos alemães está insatisfeita com o Executivo de Merkel, confirmou uma sondagem recente. E, este domingo (26.05), nas europeias, o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, na sigla em alemão) teve uma queda vertiginosa de mais de 11 pontos, para 15,8%. Perdeu ainda, em eleições estaduais, o seu bastião de Bremen, no norte, onde o SPD ficou mais de 70 anos em primeiro lugar, até agora.
Por isso, cresce a pressão sobre a líder do partido, Andrea Nahles, para mudar de estratégia.
"Estes resultados decepcionam-nos bastante. Pela primeira vez, ficamos em terceiro lugar numas eleições a nível nacional, atrás dos Verdes. Aos Verdes, digo: Parabéns. E para nós, SPD, digo: cabeça levantada, aceitamos este desafio," pontua Nahles.
É preciso analisar os resultados, diz o deputado do SPD com raízes senegalesas Karamba Diaby.
"Vemos claramente que temos de acentuar temas sobre o futuro, como as alterações climáticas ou as energias renováveis. Vemos muitos jovens empenhados neste tema," defende.
E, se o SPD mudar de estratégia, a questão que se coloca é se aumentarão as dissonâncias dentro do Governo alemão, entre sociais-democratas e conservadores.
Nem tanto à direita
Entretanto, na União Europeia respirou-se um pouco de alívio.
Apesar de o Parlamento Europeu ficar mais fragmentado depois desta eleições, os populistas de direita não avançaram tanto como os partidos tradicionais temiam, refere o especialista em assuntos europeus Janis Emmanouilidis.
"Já sabíamos que não conseguiriam uma maioria, mas talvez tenham tido um resultado mais fraco do que se esperava," considera o estudioso.
Os populistas conquistaram cerca de 20% dos votos.
Ainda assim, em França, o partido de extrema-direita União Nacional venceu as europeias.
O partido de Marine Le Pen ficou nove décimas acima do partido do Presidente Emmanuel Macron.
Em Itália, o partido de extrema-direita de Matteo Salvini também foi o mais votado.
Os eleitores da União Europeia foram a votos - a maior parte deles, no domingo (26.05) - nestas que eram tidas como umas eleições decisivas sobre o futuro da Europa.