Aniversário de José Eduardo dos Santos marcado pelo silêncio
28 de agosto de 2019O ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos (JES), nasceu a 28 de agosto de 1942, em Luanda. O seu local de nascimento, o Sambizanga, continua envolto em polémicas e segredos.
A DW África saiu às ruas de Luanda para conversar com alguns cidadãos angolanos sobre o ex-chefe de Estado.
Na capital angolana, quase ninguém aceita dar entrevista sobre o homem que governou o país por quase 40 anos. Dos 16 pedidos feitos, apenas duas pessoas mostraram-se disponíveis para falar a respeito do ex-líder. O primeiro, sob uma condição: o anonimato.
A imagem de Dos Santos
Porque os cidadãos recusam-se a falar sobre JES?
"Pelas coisas que ele fez no nosso país, repressão acima de tudo. E não dava a liberdade às pessoas de se expressarem e de se oporem a ele. José Eduardo não será esquecido facilmente pelas coisas que ele fez," afirma o entrevistado.
Por esta razão, este cidadão diz que não terá saudades do seu ex-Presidente.
"Não sinto saudades, porque dele absolutamente não ganhei nada. Agora é que vejo um país um pouco mais aberto, onde a pessoa consegue exprimir-se, consegue circular mais livremente e opor-se às más coisas do nosso país," acrescenta.
Mas há quem sinta saudades do ex-Presidente por não se registarem melhorias na atual governação. É o caso de Gildo Major, outro residente de Luanda que aceitou dizer o seu nome, mas negou ser fotografado. No entanto, admite que o antigo chefe de Estado Eduardo dos Santos está a cair no esquecimento.
"Acho que está a ser esquecido, mas, por outro lado, as pessoas querem que ele volte. Não me parece que [o atual Presidente] João Lourenço está a fazer as coisas direito, porque não estamos a ver melhorias até aqui," opina Gildo.
Silêncio e esquecimento
Há quase quatro meses em Espanha, o ex-Presidente José Eduardo dos Santos deixou como um dos seus maiores registos históricos o alcance da paz em 2002, na sequência da morte em combate do líder fundador da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Jonas Savimbi.
Durante a sua governação, os seus aniversários eram comemorados efusivamente: maratonas de comidas e bebidas, campeonato de futebol denominado a "Taça do Presidente" e acompanhamento maciço da imprensa, lembra o jornalista e analista angolano Ilídio Manuel.
"Ao longo deste período de tempo, a própria data de aniversário do Presidente da República chegou a ser, em determinadas ocasiões, muito mais importante que a data da independência nacional," avalia.
"Por todos os lados, havia manifestações de apoio, torneios desportivos, a imprensa enaltecia os feitos do Presidente da República - 'o arquiteto da paz' - como se ele fosse o único construtor da paz," recorda Ilídio Manuel.
Mas hoje, as coisas mudaram. Há um silêncio total. JES está num processo de "apagamento da sua imagem" na sociedade angolana, considera o analista.
"Deixou de ser aquela figura que mobilizava todas as atenções. Hoje é praticamente hostilizado, os seus aspetos negativos vêm ao de cima em todos os setores. Muitos o questionam, mesmo aqueles que ontem eram os seus aliados. Uns optaram pelo silêncio total," afirma.
Já em relação aos aniversários do atual Presidente da República João Lourenço, Ilídio Manuel avalia que "não há aquela carga emotiva de mobilizar aquilo que chamaríamos de 'xinguilamentos', que ontem existiam em relação ao Presidente Eduardo dos Santos”.
"Hoje temos uma coisa muito mais simples, muito mais discreta, em que quase nem se dá por isso," conclui.