Aniversário de JES marcado pro protestos em Luanda e Lisboa
28 de agosto de 2015Em Lisboa, os manifestantes exigiam liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa.
O Consulado Geral de Angola voltou a ser o ponto de concentração para o protesto pacífico, na capital portuguesa. Ao som do apito, os manifestantes quiseram fazer ouvir a sua voz.
Boss e Cinho, dois cidadãos portugueses, ambos de origem angolana e caboverdiana respectivamente, juntaram-se à vigília desta sexta-feira (28.08) em solidariedade com os 15 jovens ativistas angolanos detidos desde junho pelo regime de Luanda.
Cinho foi o primeiro a expressar a sua indignação, quando abordado pela DW África.
"Estamos aqui solidários, numa vigília do que achamos que é uma injustiça: manter presas pessoas inocentes só por terem opinião. Como eu também sou vítima no meu país, Portugal, onde também temos jovens presos inocentemente, estou cá solidário com essa ação," conta.
Boss exige liberdade para os jovens.
"Liberdade para quem nada comenteu. Estamos a falar de jovens que têm o seu projeto de vida, têm o seu objetivo, têm um caminho, têm o seu currículo," considera.
"É óbvio que luto pela liberdade de todos os presos políticos no mundo, mas a situação de Angola é alarmante," afirma.
O pequeno grupo, vigiado pela polícia, ostentava as fotos dos 15 jovens. Um gesto simbólico para chamar à atenção do que se passa em Angola, explica Pedro Coquenão.
"No fundo, é quase que uma menasagem mais para quem está preso. Dizer que as pessoas se lembram deles. E, para quem está fora, dizer também que há pessoas que ainda não pararam de falar nisso e que não vão parar tão depressa," diz Coquenão.
"Então, mais do que ser algo que seja imponente, é apenas algo que faça as pessoas da Embaixada tirarem fotografias, que faça a polícia vir, que faça a Deutsche Welle estar cá e falar nisso e que faça esta imagem depois circular e passar a ideia de que não há esquecimento, de que as coisas não vão parar. Eu acho que isso vale por tudo," avalia.
O peso da ditadura
Com um pequeno cartaz na mão, Maria José, uma portuguesa de 63 anos de idade, associou-se ao grupo.
"Em 63 anos, já passei por uma ditadura. Sei o que isso é. Sei o que são presos políticos. Sei o que é tortura. Sei o que é desaparecimento de pessoas," garante.
"Tanto aqui como nos países - nas colónias que os portugueses tiveram – a ditadura foi terrível para todos," acredita a portuguesa.
Sem meias palavras, ela critica o silêncio do Governo português face às constantes violações dos direitos humanos em Angola.
"Acho inacreditável que hoje, em Portugal, sucessivos governos, todos eles, entraram no conluio com Angola, recusam-se a falar do assunto e continuam em grandes negociatas em que deixam comprar o país," dispara.
"Neste momento, a família de Zedú e companhia, como é evidente, são efetivamente donos de muita coisa em Portugal. Acho isso incrível, absolutamente inacreditável para um país que viveu uma revolução há 41 anos e que não era isso que pretendia, de maneira nenhuma," considera.
Pequena Repercussão
No entanto, em Portugal, foram pouco relevantes os ecos de outra iniciativa voluntária e espontânea lançada a partir de Angola, que propunha 15 minutos de buzinadela e bater de panelas e tampas como forma de protesto. Uma fonte contactada pela DW África no Porto, disse que, "até em função da reduzida comunidade angolana ali residente, o protesto foi pouco expressivo".
"À hora marcada, 15 horas de Lisboa, registaram-se algumas buzinadelas anormais, mas coisa irrelevante", relatou a mesma fonte.
O ato de natureza pacífica, segundo outra fonte ouvida pela DW África, tratou de mostrar que, apesar do clima de medo imposto pelo regime de José Eduardo dos Santos, os angolanos no exterior não estão indiferentes ao que se passa no seu país, onde há políticas de exclusão, discriminação, corrupção e injustiças.
Recentemente, num encontro com a comunidade angolana em Lisboa, o embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica, considerou que, ao abrigo da Constituição, o povo angolano tem o direito de se manifestar, mas "quando há necessidade para tal", tendo alertado que o ato de reivindicar também implica deveres.
Familiares concentrados em Luanda
Na capital angolana, a nova marcha dos familiares dos 15 jovens ativistas angolanos detidos foi proibida pelo Governo Provincial de Luanda, tendo sido convertida numa concentração no Largo 1º de Maio, também nesta sexta-feira (28.08).
Segundo o correspondente da DW África em Luanda, Pedro Borralho N'Domba, quando as mães-manifestantes chegaram, o local já estava ocupado por militantes do partido no poder, Movimento pela Libertação de Angola (MPLA), que celebravam o aniversário do Presidente José Eduardo dos Santos e os 40 anos da independência.
Assim, a vigília pela libertação dos ativistas foi "sufocada" pela música alta de eventos que aconteciam nos arredores, também por ocasião dos 73 anos do Presidente.
No local, havia ainda forte policiamento e a presença de agentes da secreta que chegaram a intimidar o trabalho dos jornalistas.
N'Domba conta que, além de uma colega de profissão do portal Rede Angola que foi seguida, ele mesmo foi abordado por um policial que o impediu de fotografar o momento em que agentes da secreta abordaram um ativista.
Ainda assim, relata o correspondente da DW África, as mães dos ativistas presos persistiram com seu protesto pacífico.