Angolanos exigem reconhecimento de heróis de outras bandeiras
17 de setembro de 2013
Em Angola comemora-se o 17 de setembro, dia do Herói Nacional, data instituída em 1980 pela Assembleia do Povo, no tempo do monopartidarismo, quando o Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, dirigia sozinho os destinos do país.
A mesma data destinava-se apenas a exaltar os feitos do primeiro Presidente deste partido, do MPLA, e da República, António Agostinho Neto, que faleceu na antiga União Soviética a 10 de Setembro de 1979.
Volvidas mais de duas décadas desde a institucionalização do dia 17 de setembro para assinalar o dia do Herói Nacional, muitas vozes em Angola alertam que desde o início da luta de libertação nacional até ao alcance da paz outras figuras não podem ser pura e simplesmente ignoradas, pincipalmente quando se trata de pessoas cujo contributo no processo de independencia de Angola tiveram também um papel preponderante.
Exige-se a inclusão de outros nomes
Armando José Chicoca, de 53 anos de idade, jornalista na província do Namibe advoga que o dia do Herói Nacional tem de ser um dia que não pertença a ninguém em particular: "Se Agostinho Neto tem o valor que merece por ter sido o primeiro presidente da República de Angola, resultante dos Acordos de Alvor, também Jonas Savimbi, da UNITA ( União Nacional para a Indepedência Total de Angola) foi um lutador incansável pela democracia de Angola, tal como foi Holden Roberto da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola). Para mim todos são os melhores."
Armando José Chicoca entende que "para um país como Angola comemorar o 17 de setembro, como dia do herói nacional é uma aberração. As pessoas perderam a cabeça, tal como hoje existe uma confusão com a bandeira da República que se assemelha à do MPLA. isto é um erro, temos de rever tudo isto."
Por seu lado, o professor Wanadumbo Leal, entende que os três lideres dos movimentos de libertação de Angola nomeadamente, Holden Roberto da Frente Nacional de Libetação de Angola, FNLA, da União Nacional para a Indepedência Total de Angola, UNITA, Jonas Malheiro Savimbi e do Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, António Agostinho Neto, têm de ter os seus nomes nos anais da Historia dos heróis de Angola porque "se não estaremos a falsear a nossa história."
Wanadumbo Leal aponta que a verdade tem de ser dita para esclarecer melhor as gerações futuras: "para mim está claro que Holden Roberto é o pai do nacionalismo, Jonas Savimbi o pai da democracia e Agostinho Neto foi quem lutou para a pacificação do país, mas existem outros. Estes três são talvez os mais importantes para a História angolana."
E por causa disso defende: "Então vamos deixar de lado os tabús e escrever a História verdadeira do nosso país, porque, caso contrário, estaremos a mentir para os nossos fihos, os nossos irmãos e as gerações vindouras. A verdade tem de ser dita".
O dia do Herói Nacional não pode apenas resumir-se à figura do líder histórico do MPLA, o médico Agostinho Neto, de acordo com um outro docente que leciona na localidade de Arimba, José Antonio Kalandula: "O dia 17 de setembro deveria ser comemorado como tem sido nos anos anteriores mas com alguns acréscimos, ou seja, chamar esse dia o dos "Heróis Nacionais" (no plural), porque alguns deles estão a cair no esquecimento."
Mudanças exigem-se
A mudança do quadro atual é urgente, segundo Jose António Kalandula: " É preciso despertar na consciência das pessoas a ideia de evocar o 17 de setembro como dia dos heróis nacionais porque naturalmente muitos desses homens e mulheres anónimos foram também figuras de destaque no processo do surgimento de Angola, como país livre e independente."
Sebastião da Silva, Jornalista da Rádio Despertar, diz que "chegou a altura de vermos as coisas com um sentido mais objetivo e mais consensual. O dia do herói nacional não deve ser um marco para enaltecermos únicamente a figura de Agostinho Neto".
O estudante universitario Adriano Canoeira vai também na mesma direção dos outros entrevistados quando afirma de forma categórica que para além de Agostinho Neto "existem outras figuras emblemáticas em Angola que também devem ser consideradas heróis nacionais. Por exemplo, as já conhecidas heroínas Teresa Koen, Deolinda Rodrigues e outras que permanecem no anonimato".
O economista Adalbero da Costa Bravo diz, por seu lado, que uma realidade indiscutível é colocar em pé de igualdade com Agostinho Neto figuras como o Holden Roberto ou o Jonas Savimbi.
"Pelo menos estes dois deveriam estar no mesmo patamar como Agostinho Neto, considerados heróis nacionais pelos seus feitos em prol de Angola" e recorda que nos acordos de Alvor : " Numa das clausulas dizia-se que os representantes do povo angolano reconhecidos pelas autoridades portuguesas eram a FNLA, a UNITA e o MPLA e que por isso iriam formar um Governo de união nacional em Angola".
Adalberto da Costa aponta que é necessário valorizar mais históricamente a participação de Holden Roberto e de Jonas Savimbi no processo da independência de Angola pelo papel que desempenharam na luta de libertação da ex-colónia portuguesa: "É preciso que a essas duas figuras sejam também dedicados o espaço e o reconhecimento por aquilo que se esforçaram na luta pela libertação de Angola."