Angola: Reclamações colocam concursos públicos sob suspeita
11 de janeiro de 2020As denúncias não são poucas. E são quase todas do conhecimento das autoridades locais. Na província do Kuando Kubango, sudeste de Angola, foi agora criada uma comissão de inquérito para investigar as queixas de mais de dois mil candidatos, que dizem não ter entrado na função pública mesmo depois de serem aprovados no teste de admissão dos concursos em 2017 e 2018.
O porta-voz da comissão de inquérito, João Miguel, disse esta sexta-feira (10.01) à Rádio Nacional de Angola que a comissão já começou a avaliar os resultados dos concursos públicos.
Problema nacional
Este não é um caso único. Há queixas em muitas províncias de Angola. No Moxico, por exemplo, no leste do país, mais de 400 candidatos no concurso de 2018 disseram ter sido excluídos injustamente.
"O que aconteceu é que aquelas pessoas que tiveram 14 ou 16 valores, que concorreram na mesma disciplina ou cadeira, não foram aprovadas. E aquelas pessoas que tiveram notas baixas, mesmo tendo concorrido na mesma disciplina ou cadeira, foram apuradas. A que se deve isso? Ou envolveu a corrupção, venda de vagas, ou trata-se de tráfico de influências", comenta Benedito Jeremias, da associação Lauleno, sediada no Moxico.
Depois de fazer queixa, uma candidata citada pela agência de notícias angolana ANGOP viu a nota subir de 7 para 13 valores. Mas nem todos tiveram a mesma sorte.
Desemprego e concorrência
O jornalista angolano Ilídio Manuel duvida que estes problemas tenham os dias contados, porque a procura é maior que a oferta. O índice de desemprego já ronda os 30%, de acordo com os dados oficiais.
"Há muito desemprego. São milhares de pessoas que se apresentam aos concursos para provimento de poucos lugares. Num universo, por exemplo, de 20 mil pessoas, estão disponíveis mil lugares", explica.
À semelhança do Kuando Kubango, na província do Bengo, vizinha da capital angolana, também foi criada uma comissão para apurar eventuais irregularidades, depois de muitas queixas de candidatos. Numa nota datada de 5 de janeiro, a administração local estabelece 30 dias para a divulgação dos resultados do inquérito.
O que se espera destas comissões? Ilídio Manuel responde:
"As comissões, muitas das vezes, nem sequer chegam a concluir [o seu trabalho], e, se concluem e detetam algumas situações anómalas, elas nunca vêm a público", afirma o jornalista.