Angola: Denúncias de usurpações continuam
13 de fevereiro de 2018Em entrevista à DW África, o coordenador da SOS Habitat-Ação Solidária, André Augusto, disse que a organização não-governamental está a par do caso da usurpação de uma fonte de água na localidade dos Gambos, na província da Huíla, bem como a expropriação de dois mil hectares de terra no Kitexe, Uíge.
Naquela localidade, conta o ativista, um empresário está a forçar a comunidade a abandonar a zona, alegando que o espaço lhe foi concedido pelo governo provincial.
"São comunidades seculares. Estão aí há mais de 200 anos. Vão perder o bairro e também a zona de cultivo a favor do empresário. Já tentamos vários contactos com o governo provincial do Uíge, que nos garantiu que uma equipa do governo local deveria ir a zona para resolver o conflito, mas até agora não verificamos nada", conta André Augusto.
Recomeço das demolições?
Em Luanda, as demolições diminuíram de forma significativa, de acordo com a SOS Habitat. "Durante o tempo das eleições até agora a situação de conflito diminuiu um pouquinho, mas agora dedicamo-nos a questões de mapeamento das zonas de risco, para ver se podemos conseguir, em conjunto com as administrações, encontrar algumas soluções para tentar salvaguardar estas pessoas que estão na zona de risco", revela André Augusto.
No entanto, há duas semanas, os populares da comuna dos Ramiros foram surpreendidos com demolições, que começaram na madrugada de 3 de fevereiro. Os moradores desconhecem as causas que motivaram a destruição das residências.
"Perguntámos o que se estava a passar e eles disseram: saiam com as vossas coisas porque temos que derrubar as vossas casas", contou a moradora Madalena.
"Eles apareceram aqui às 4 horas da manhã. Bateram à porta, o meu filho abriu e obrigaram-nos a retirar as coisas dentro de casa", disse outra moradora que ficou ao relento com um bebé recém-nascido.
Famílias ao relento no Zango
Este caso ainda não chegou no escritório da SOS Habitat, mas o coordenador da ONG promete apurar as causas da demolição: "Temos a preocupação de saber, primeiro, o que está a acontecer de concreto para depois nos pronunciarmos com maior segurança", explica.
André Augusto afirma que há ainda muitas famílias a viverem ao relento no Zango, em Viana, arredores de Luanda.
"No Zango, onde morreu aquele adolescente, o Rufino, também são cerca de nove comunidades afetadas durante aquele processo de demolição que vitimou o adolescente. Mas até agora o Governo não conseguiu resolver o problema das pessoas. Algumas continuam ao relento, algumas perderam a casa e tiveram de se refugiar em casa dos parentes", conta.