Alcy: A paródia que está a dar em Moçambique
21 de março de 2021Com o Alcy há um duplo motivo para rir: as reportagens hilariantes sobre a vida dos moçambicanos e a paródia das mesmas feita pelo humorista. E é precisamente aí que o olho bate no talento do jovem do Niassa. Não há moçambicano ativo nas redes sociais que não o conheça.
Mas Alcides Caluamba não é craque apenas em arrancar risos, dança bem e é habilidoso em termos de áudiovisual. Em entrevista à DW África, ele fala sobre o seu trabalho e sonhos - quer mesmo ser ator e visa Hollywood.
Saiba quem é o jovem que hoje se dá ao luxo de recusar trabalho porque não tem mais mãos...
DW África: Como bom moçambicano que sabe que os seus compatriotas adoram rir-se dos seus próprios problemas, decidiu potenciar isso através da paródia...
Alcy: (Risos) É uma vertentente nova que eu fiz. Basicamente, tinha muitos vídeos de paródia em Moçambique. E foi que, certa vez, numa brincadeira, eu postei um vídeo... e as pessoas gostaram. Até hoje, nunca mais parei.
DW África: Percebo que não lhe escapa nenhuma reportagem televisiva que possa ser alvo de paródia. Caça as reportagens ou conta com a ajuda dos seus seguidores?
A: Na verdade, eu não fico muito atento às notícias. Mas existem os grupos que sempre estão atentos e mandam as novidades. A partir disso, eu sigo em frente.
DW África: O Alcy não trabalha sozinho. Nas suas paródias, conta também com o apoio de outros jovens artistas?
A: Exatamente.
DW África: Como é trabalhar com estes outros jovens?
A: É fantástico. Cada um deles tem a sua arte, e os seus tipos de vídeos. Chamam-me para alguns dos seus vídeos criativos, e eu também faço o mesmo. Estamos todos unidos para fazer a população rir.
DW África: E de onde o Alcy é?
A: Eu sou natural de Cuamba-Niassa, Moçambique.
DW África: Niassa é a província que está a dar, em termos de humor: Alcy, Tio Yado... todos vêm da mesma fonte?
A: É verdade (risos).
DW África: Acha que, na sua província, ainda há muito mais potencial nesta área do humor?
A: Claro, eu penso que sim. Não só na minha província, como em todo Moçambique. Mas, às vezes, faltam oportunidades. Noutros sítios pode não ter divulgação, mas creio que há muitos talentos.
DW África: O que mudou na sua vida com a visibildade da sua paródia nas redes sociais?
A: Mudou muita coisa e abriram-se muitas portas, uma dessas portas [abertas] foi para realizar o meu sonho. Meu sonho, na verdade, é ser ator. [Quero] ir para os EUA e ter mais conhecimento sobre "filmmaking". É isso o que eu quero. As pessoas que viram os meus vídeos gostaram, alguns deles, inclusive, são produtores em Hollywood. Isso é um grande passo para mim.
DW África: Já houve algum desenvolvimento?
A: Sim, muitos. Em termos de produção, por exemplo. Algumas produtoras grandes mandaram material para mim, e não só. Empresas grandes já contactaram-me para trabalharmos juntos.
DW África: Alcy faz paródias de alguns filmes de acção de Hollywood, e são bem engraçadas. É caro produzir este tipo de paródia?
A: É caro, e demanda muito tempo. Para alguns filmes precisamos de cinco dias. Outros, demandam 14 ou até 20 dias. É um trabalho enorme e que exige muita dedicação.
DW África: E tem patrocínio?
A: Não, não temos patrocínio.
DW África: Através da sua paródia conseguiu contratos com algumas empresas renomadas da praça moçambicana. Já é possível viver do trabalho nas redes sociais em Moçambique?
A: Sim, muitas empresas já entraram em contacto. Algumas até precisamos recusar porque com muitos trabalhos nem sempre é possível gerir todas as empresas. Mas é possível se viver.
DW África: Pensa em criar uma equipa, ou uma pequena empresa, para dar conta de tantos pedidos?
A: Isso, de fato, é algo que já estamos a organizar.
DW África: Devido à sua paixão pelo audiovisual também está a fazer trabalhos para eventos, como casamentos e festas. Como já tem o nome nas redes sociais, na praça, consegues facilmente clientela?
A: Sim, tenho uma empresa de multimídias, fotografias, vídeos, produção, serviços electrónicos. Mas eu também me formei na Índia. Então, tenho clientela, sim.
DW África: O que o Alcy estudou na Índia?
A: Na Índia, eu me formei em Engenharia Informática.
DW África: Nunca conseguiu trabalhar nesta área?
A: Não que eu não tenha conseguido, tive oportunidades. Mas escolhi seguir a ideia do que mais amo.
DW África: Não está arrependido?
A: Não estou arrependido.