Agressão não impede presidente interino do Mali de liderar transição
22 de maio de 2012Dioncounda Traoré foi agredido na segunda-feira (21.05.) no seu gabinete de trabalho, nos arredores de Bamaco, a capital maliana, por manifestantes opostos à sua liderança. A agressão ocorreu na sequência de um acordo que prevê um período de transição de um ano e pode vir a complicar ainda mais a enorme tarefa das novas autoridades.
A agressão foi condenada unanimemente no estrangeiro e no Mali, inclusivé pela ex-junta militar. Para os observadores, trata-se de um “atentado contra a democracia maliana” que, apesar de tudo, acreditava ter recebido um novo impulso, visando a solução da crise político-militar no país.
Traoré permanece no poder
Os exames médicos efetuados ao presidente Dioncounda Traoré, de 70 anos de idade, não revelaram nenhuma lesão grave, apesar de ter sido ferido na face e nas costas. O presidente interino, que não falou da agressão, continua a ter a intenção de levar a bom termo os 12 meses de transição, conforme o acordo que assinou no domingo com os dirigentes da ex-junta e os mediadores da Comunidade Económica da África Ocidental (CEDEAO).
Este acordo foi conseguido em troca do estatuto de ex-presidente atribuído ao chefe dos autores do golpe de Estado, o capitão Amadou Sanogo, cujos homens permanecem omnipresentes em Bamaco.
Transição repleta de desafios
Neste período de transição de um ano, os desafios são gigantescos para a classe dirigente maliana e todo o esforço desenvolvido por Bamaco com vista a ultrapassar os obstáculos só serão coroados de sucesso com o apoio do povo do país, afirmam os analistas. Em todo o caso, e por enquanto, a confusão que reina em Bamaco favorece os grupos e as fações armadas que controlam o norte.
Segundo Yoro Dia, professor de ciências políticas em Dacar, este quadro fragiliza ainda mais o processo para a saída da crise político-militar maliana. “O que se passa no Mali é trágico, mas demonstra que, após a ocupação do norte, tudo é possível”, explica o especialista, dando como exemplo a própria entrada de manifestantes no palácio presidencial para agredir o presidente. “O que acontece no norte significa a fraqueza do Estado e, assim sendo, a reconquista daquela região não será por enquanto”, acrescenta.
Reconquista dos territórios no norte
Para Yoro Dia, as forças vivas do Mali devem concentrar-se num outro grande objetivo, que é a reconquista dos territórios localizados no norte do país. “É dever de um Estado preocupar-se, em primeiro lugar, com a integridade do seu território. Mas quando mais da metade deste território se encontra ocupada penso que se devem juntar esforços com vista a libertar o país”, esclarece.
O académico considera que “esta energia deve ser canalizada para o norte”, para “vêr como os malianos podem chegar a um consenso nacional à volta de Dioncounda Traoré ou outro político.”
Para muitos políticos malianos, a agressão de Dioncouda Traoré veio mostrar que há uma urgência em proteger o presidente interino e o seu governo, para que sem grandes impedimentos possam levar a cabo a sua missão e, em particular, conseguir um acordo com os grupos armados, entre eles os islamistas, que ocupam e controlam o norte do país desde o golpe de Estado.
É por esse motivo que os malianos esperam com uma certa impaciência a chegada ao país de uma força militar oeste-africana composta por 3.000 homens, cuja tarefa será manter a segurança das instâncias da transição. Esta força está pronta e aguarda apenas um pedido oficial das autoridades do Mali.
Autores: António Rocha
Edição: Madalena Sampaio/António Cascais