Abyei, no Sudão, e Líbia em destaque na imprensa alemã
24 de junho de 2011O acordo assinado entre o Norte e o Sul do Sudão sobre as medidas de transição para a administração e segurança da região de Abyei preencheu algumas páginas de jornais alemães ao longo dos últimos dias.
O Tageszeitung, por exemplo, escreveu que, "a partir de 9 de julho, dia em que o Sul do Sudão pretende declarar-se independente do Norte, a disputa sobre esta região passará a ser um conflito internacional". O acordo de segunda-feira (20/6), que prevê a desmilitarização da área e a entrada de forças de paz da Etiópia, levou portanto, como continuou o diário, ao alívio da comunidade internacional. Foi um primeiro passo importante para a resolução do conflito, escreveu também o jornal.
O Tageszeitung lembrou ainda, num comentário, que 3 anos depois de o exército do Sudão, SAF, ter invadido esta região, situada entre Norte e Sul do Sudão, e 3 anos depois de os capacetes azuis da ONU terem permitido os ataques a Abyei, em Maio de 2011, o Norte voltou à carga, a ONU voltou a permitir os ataques e dezenas de milhares de pessoas voltaram a fugir. A solução da disputa é, de acordo com o Tageszeitung, "uma questão de prestígio entre Norte e Sul".
O papel das Nações Unidas, nomeadamente da sua missão no Sudão, UNMIS, foi alvo de grandes críticas no comentário do jornal: "desde que o exército do Sudão invadiu e pilhou Abyei em 2008, foram discutidos relatórios, projetos e programas em conferências que pretendiam pôr fim ao conflito", pôde ler-se no jornal. "Milhões foram gastos em viaturas, hotéis, almoços e voos. E a 19 de Maio passado, tudo se desfez, quando Abyei voltou a ser bombardeada."
E, continua o comentário mais à frente, "diplomatas e funcionários da ONU asseguram que estão muito preocupados com a situação no Sudão, enquanto bebem vinho tinto contrabandeado. E as 20 mil crianças que fugiram de Abyei bebem água contaminada e dormem à chuva."
"Agora ninguém pergunta à população que fugiu como é que ela mesma deseja ver o seu futuro. Deveria ser este o ponto de partida para a solução pacífica," resumiu o Tageszeitung.
Líbia e o petróleo, o mercado internacional e a IEA
Também a Líbia continua a ser tema na imprensa alemã. Enquanto no país os órgaos de comunicação estatais apelam à população para que passe a utilizar meios de transporte coletivos como os autocarros em vez de viaturas privadas devido à falta de combustível, jornais alemães citam o anúncio da Agência Internacional de Energia, na sigla em inglês, IEA, de que irá recorrer às suas reservas de petróleo para diminuir o impacto causado pela interrupção do fornecimento da Líbia.
A edição online da revista Focus recordou ontem (23/6) que "esta será apenas a terceira vez desde a sua criação que a Agência Internacional de Energia abre as suas reservas". Agora deverá pôr 60 milhões de barris no mercado, segundo a Focus. Porque, "só até final de maio, a guerra no país impediu a produção de 132 milhões de barris de petróleo", continuou a revista.
Já a versão alemã do jornal económico Financial Times critica a decisão da IEA: "A curto prazo, a medida faz cair os preços, mas trata-se de uma decisão sem sentido. Primeiro, porque a quantidade que será disponibilizada não trará alívio de facto ao mercado", já que "os 60 milhões de barris equivalem a menos de um dia de abastecimento a nível mundial." Depois, "porque se trata de uma medida de curto prazo. E por último, porque o abastecimento de petróleo não está mais ameaçado agora do que, pelo menos, há meio ano atrás".
Autora: Marta Barroso
Edição: Renate Krieger