7 de outubro: Um ano depois no Médio Oriente
7 de outubro de 2024Desde que a Arábia Saudita congelou as suas conversações de normalização com Israel na sequência de 7 de outubro, o acordo previsto tornou-se num ativo das negociações de paz entre Israel e Hamas. Entretanto, o7 de outubro também reacendeu a solidariedade pró-palestiniana a nível social, explicou Sebastian Sons, investigador sénior do centro de estudos alemão CARPO à DW.
Politicamente e economicamente, no entanto, a guerra Israel-Hamas é vista mais como uma ameaça direta à ambiciosa transformação socioeconómica do reino, acrescentou. "Em contrapartida, a política saudita tem-se concentrado num ato de equilíbrio diplomático ao longo do último ano", disse Sons.
Líbano
Logo após o ataque do Hamas a Israel, a influente ala armada do Hezbollah no Líbano – classificada como grupo terrorista pela União Europeia – começou a atacar o norte de Israel. "No início, o Hezbollah foi criticado por decidir envolver-se numa guerra com Israel e arrastar o Líbano para ela", disse Kelly Petillo, investigadora do Médio Oriente no Conselho Europeu de Relações Exteriores, à DW.
"No entanto, o Hezbollah também tem desfrutado de um apoio crescente dentro da população libanesa desde 7 de outubro", acrescentou. Na sua opinião, muitos libaneses estão revoltados com a conduta de Israel em Gaza e a falta de resultados na diplomacia internacional. "Começaram a ver o Hezbollah como o único garante de solidariedade com os palestinianos", disse Petillo. No entanto, após quase um ano de o que os analistas chamam de "combates contidos", a situação escalou em setembro.
Jordânia
A vizinha Jordânia, que assinou um tratado de paz com Israel em 1994, tem caminhado numa corda bamba política ao longo do último ano. "Desde 7 de outubro, a Jordânia tem tentado equilibrar o forte apoio interno à causa palestiniana com as suas relações com Israel", disse Petillo à DW. O Rei Abdullah II da Jordânia e a sua esposa, a Rainha Rania, que tem origem palestiniana, afirmaram repetidamente que não estão dispostos a receber mais refugiados palestinianos. Isso colocaria em risco a causa palestiniana em geral e violaria diretamente o tratado de paz, explicou Petillo. "No entanto, agora, com a possibilidade de abertura de novos conflitos não só no Líbano, mas também na Cisjordânia, a Jordânia enfrenta o seu cenário de pesadelo", disse a analista à DW. "Esta situação reacende os receios iniciais sentidos logo após 7 de outubro de um efeito de transbordo e consequente movimento de palestinianos para a Jordânia", acrescentou.
Cisjordânia ocupada
"A situação na Cisjordânia já era muito tensa antes de 7 de outubro", disse Peter Lintl, associado da Divisão de África e Médio Oriente no Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, à DW. A Autoridade Palestina tem sido fraca há anos, os colonos judeus têm atacado palestinianos e o atual governo israelita de direita exacerbou as tensões ao declarar no seu programa de coligação que a Cisjordânia, ou como lhe chamam, Judeia e Samaria, só pode pertencer ao povo judeu, explicou.
"Tudo isto se intensificou desde 7 de outubro", acrescentou.
Colonos judeus extremistas têm atacado civis palestinianos, enquanto as tensões entre as Forças de Defesa de Israel e as facções militantes palestinianas na Cisjordânia ocupada atingiram um novo pico em setembro. "A Cisjordânia é um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento", disse Lintl. "Em tempos normais, dir-se-ia que já existe uma situação intolerável com um número incrivelmente alto de mortes, apenas que isto está a ser ofuscado pela guerra em Gaza e por 7 de outubro", acrescentou.
Síria
"A guerra que eclodiu a 7 de outubro desviou ainda mais a atenção dos media da Síria e do conflito que já dura há mais de 13 anos", disse Lorenzo Trombetta, analista do Médio Oriente e consultor para agências das Nações Unidas, com base em Beirute, à DW. A guerra civil síria é cada vez mais dominada por potências estrangeiras, como a Rússia, o Irão, a Turquia, Israel e os EUA, disse.
"Todos os atores afirmam estar a combater o terrorismo e dizem visar a estabilidade e a segurança", explicou Trombetta.
Entretanto, o presidente sírio Bashar al-Assad, que foi inicialmente amplamente isolado devido à repressão sobre a população síria, tem sido cada vez mais acolhido de volta no seio árabe e europeu. "Internamente, a permanência de Assad no poder já não parece ser questionada", acrescentou Trombetta. Ao longo do último ano, Assad tem-se mantido em silêncio sobre os acontecimentos e as consequências de 7 de outubro, adotando uma abordagem de "diplomacia silenciosa longe dos holofotes mediáticos, visando alcançar objetivos internos de longo prazo", acrescentou.
Egito
De todos os países da região, apenas o Egito encontrou uma forma de aproveitar a crise para reforçar a sua importância geopolítica desde 7 de outubro, disse Timothy E. Kaldas, diretor adjunto do Instituto Tahrir de Política do Médio Oriente, com sede em Washington, à DW. O presidente egípcio Abdel Fattah el-Sissi tem cooperado com Israel na questão das permissões para a circulação de bens para Gaza e ajudado a manter o cerco, explicou Kaldas. Além disso, o papel central do Egito nas negociações de cessar-fogo reestabeleceu a perceção da importância do país, acrescentou. "Em contrapartida, o Cairo ganhou muito apoio adicional de Washington", disse Kaldas. A Casa Branca concedeu os 1,3 mil milhões de dólares (1,16 mil milhões de euros) de assistência militar em 2024. "É a primeira vez que a administração Biden concede o valor total", disse Kaldas, acrescentando que no passado Washington costumava reter pelo menos uma parte, condicionada ao cumprimento dos direitos humanos. "No entanto, de facto, o Egito está a fazer significativamente pior nesta área", disse à DW.
Além disso, antes de 7 de outubro, os egípcios estavam muito focados na deterioração da economia do país. "Mas os horríveis crimes de guerra cometidos por Israel contra civis palestinianos em Gaza dividiram a sua atenção", disse Kaldas. Ele acredita que a opinião pública poderá mudar ainda mais, à medida que os egípcios vêem o seu governo cada vez mais como parte do problema. "No futuro, será um ato de equilíbrio delicado para a liderança egípcia, que tentará manter também o apoio do Ocidente", concluiu.
Israel: Início das cerimónias
Israel deu hoje (07.10) início às cerimónias do primeiro aniversário do ataque do Hamas, a 07 de outubro de 2023, o dia mais mortífero da história do país e que desencadeou a atual guerra em Gaza.
Em Reim, no local do massacre no festival de música Nova, onde morreram mais de 370 pessoas, uma multidão de luto deu início às cerimónias com um minuto de silêncio, precisamente às 06:29 (04:29 em Lisboa), hora em que o movimento islamita palestiniano lançou o ataque sem precedentes no sul de Israel .
O Presidente israelita, Isaac Herzog, presente no local, reuniu-se com as famílias das vítimas.
A cerimónia de Reim é a primeira de uma série de eventos que terão lugar ao longo do dia, enquanto o país continua em guerra em Gaza, e agora também no Líbano, onde o exército israelita lançou uma ofensiva terrestre contra o movimento fundamentalista xiita libanês Hezbollah.
Há um ano, comandos do Hamas infiltrados a partir de Gaza penetraram no sul de Israel, utilizando explosivos e 'bulldozers' para atravessar a barreira que rodeia o território palestiniano, matando indiscriminadamente em 'kibutzs', bases militares e no local do festival Nova.
Nas horas que se seguiram, o exército israelita lançou uma poderosa ofensiva contra o território palestiniano para destruir o Hamas, no poder na Faixa de Gaza desde 2007.
O ataque do Hamas, que apanhou Israel de surpresa, fez 1.205 mortos, na maioria civis, de acordo com uma contagem da agência de notícias France-Presse (AFP) baseada nos números oficiais israelitas, incluindo os reféns que morreram em cativeiro.
As represálias militares na Faixa de Gaza mataram pelo menos 41.825 pessoas, na maioria civis, indicam dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, que a ONU considera fiáveis.
Hamas saúda "glorioso" ataque
O Hamas enalteceu hoje o seu "glorioso" ataque a Israel a 07 de outubro de 2023, numa mensagem vídeo difundida na véspera do aniversário do ataque que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza.
O "glorioso ataque de 7 de outubro destruiu as ilusões que o inimigo tinha criado para si próprio, convencendo o mundo e a região da sua superioridade e das suas supostas capacidades", afirmou na mensagem um membro do movimento islamita palestiniano baseado no Qatar, Khalil al-Hayya.
Este ataque sem precedentes, que traumatizou Israel, causou a morte de 1.205 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da agência de notícias francesa AFP que tem por base números oficiais israelitas, incluindo reféns que morreram ou foram mortos em cativeiro na Faixa de Gaza.
Das 251 pessoas raptadas a 7 de outubro, 97 continuam reféns em Gaza, 33 das quais são consideradas mortas.