Sobrevivente de grupo neonazista é condenada à perpétua
11 de julho de 2018A ré principal do caso NSU, Beate Zschäpe, foi declarada culpada em dez acusações de assassinato e condenada à prisão perpétua pelo Tribunal Superior Regional de Munique nesta quarta-feira (11/07).
A corte também determinou que os crimes cometidos são de extrema gravidade, o que, na prática, impede que a condenada, de 43 anos, possa deixar a prisão depois de cumprir 15 anos de sua pena. A defesa vai recorrer da decisão à instância superior, no caso a Corte Federal de Justiça.
O julgamento dos crimes cometidos pelo grupo neonazista NSU (Clandestinidade Nacional-Socialista) se estendeu por mais de cinco anos e é o maior processo neonazista do pós-Guerra na Alemanha.
O processo começou em 6 de maio de 2013 e colocou no banco dos réus a única sobrevivente da NSU, Beate Zschäpe. Os dois companheiros dela no grupo, Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt, cometeram suicídio em 2011, quando estavam cercados pela polícia.
Zschäpe era a principal acusada pelas mortes de dez pessoas, nove delas comerciantes de origem turca ou grega e uma policial, entre 2000 e 2006. Ela também era acusada de integrar uma organização terrorista e de participar de assaltos e cometer atentados com bombas.
Outras quatro pessoas estavam no banco dos réus, incluindo um membro do partido extremista NPD, Ralf Wohlleben. Ele foi condenado a dez anos de prisão. Os quatro réus eram acusados de cumplicidade por terem ajudado ou apoiado os membros da NSU na execução de crimes.
Zschäpe viveu durante quase 14 anos na clandestinidade com seus cúmplices Mundlos e Böhnhardt. Nesse período, os dois cometeram os dez assassinatos e dois atentados com bombas, estes em Colônia. As mortes dos nove comerciantes teriam motivações racistas.
Não há provas de que Zschäpe participou diretamente dos assassinatos. Porém, a acusação afirmou que ela teve uma participação decisiva na cobertura do trio e argumentou que ela estava ciente de todos os crimes, concordou com eles e participou decisivamente da sua execução. Essa argumentação foi seguida pela corte.
Zschäpe, por sua vez, afirmou que ficou sabendo dos crimes apenas após eles já terem sido cometidos e apelou ao tribunal para que não a condenasse por "algo que não fiz nem quis". Ela afirmou ter ficado chocada com os crimes, mas que, mesmo assim, acabava optando por não delatar Böhnhardt e Mundlos. "Os dois eram a minha família."
O julgamento dos crimes da NSU é o maior processo judicial envolvendo neonazistas da história da Alemanha e também o mais caro, com custo estimado de 56 milhões de euros.
O caso também revelou erros graves cometidos pela polícia e pelo serviço secreto interno da Alemanha, que por anos descartaram a possibilidade de que as mortes dos comerciantes tivessem uma motivação racista e fossem ligadas à cena de extrema direita do país.
A polícia e os serviços secretos internos alemães levaram mais de uma década para descobrir que a série de crimes havia sido cometida por um único grupo, evidenciando os erros investigativos. O grupo só foi descoberto em 4 de novembro de 2011, depois de um assalto a banco em Eisenach.
Historiadores colocam o julgamento da CSU no mesmo patamar dos Processos de Nurembergue e do julgamento de integrantes do grupo de extrema esquerda alemão RAF, em Stuttgart.
AS/dpa/afp
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