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"Zika esquentou debate sobre aborto no Brasil"

Alexandre Schossler3 de fevereiro de 2016

"Frankfurter Allgemeine Zeitung" destaca que famílias pobres não podem pagar por um aborto ilegal numa clínica privada e vão arcar de forma desproporcional com os custos da microcefalia.

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Foto: Reuters/U. Marcelino

O combate ao vírus zika e os casos de microcefalia no Brasil voltaram a ganhar destaque na imprensa alemã nesta quarta-feira (03/02), com jornais dedicando espaço nobre ao assunto.

O diário Süddeutsche Zeitung, de Munique, dedicou toda a sua página 3, reservada a reportagens longas, ao tema. Com o título No coração, a reportagem escrita pelo correspondente no Rio de Janeiro afirma que o zika "aflige os brasileiros de uma maneira especialmente pérfida: trata-se, agora, de suas crianças".

O texto relata os temores de uma mulher grávida de quatro meses no Rio, que tenta se proteger de picadas de mosquitos e "não ficar histérica". "Mas quando, à noite, ela ouve o zumbido dos mosquitos, ela se pega calculando a probabilidade" de contrair a doença, afirma o relato.

"São apenas picadas, mas elas mudam a vida das pessoas para sempre", afirma a reportagem.

Já o Frankfurter Allgemeine Zeitung, um dos maiores diários do país, afirma que o vírus zika "esquentou o debate sobre a proibição do aborto" no Brasil e cita casos de mulheres que optaram por abortar "mesmo que ainda não haja uma comprovação entre a epidemia de zika e o concomitante número crescente de casos de recém-nascidos com microcefalia".

O jornal afirma ainda que as mulheres que optaram por abortar de "forma preventiva" são de classes sociais elevadas e que as famílias pobres não têm a possibilidade de fazer um aborto ilegal de forma segura numa clínica privada. "São, portanto, as famílias pobres do Brasil que, de forma desproporcional, terão que carregar os custos sociais dos cuidados com as crianças que nascerem com microcefalia."

O Die Welt, outro grande jornal alemão, afirma que o surto de zika coloca em risco a realização dos Jogos Olímpicos no Rio. O diário, porém, publica a opinião do médico da equipe olímpica alemã, Bernd Wolfarth, afirmando que "definitivamente" não há motivo para pânico. O diário também afirma que o inverno brasileiro pode atenuar a proliferação do vírus.