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Zeitgeist: Glifosato, transgênicos e a ascensão da Monsanto

19 de setembro de 2016

Empresa americana faturou bilhões de dólares com fabricação do herbicida mais usado no mundo e venda de sementes geneticamente modificadas para serem resistentes a ele. Mas ganhou também um problema de imagem.

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Planta de soja geneticamente modificada
Planta de soja geneticamente modificadaFoto: picture-alliance/epa efe/W. Carvalho

Nenhuma empresa desperta mais a ira de ambientalistas de todo o mundo do que a americana Monsanto, a fabricante do herbicida Roundup e de sementes modificadas geneticamente para serem resistentes a ele – principalmente de milho, algodão e soja.

O princípio ativo do Roundup é o glifosato, um organofosforado sintetizado pela primeira vez nos anos 1950 por um químico suíço. Em 1970, pesquisadores da Monsanto redescobriram o glifosato, desta vez como herbicida. A descoberta foi patenteada e, em 1974, ela foi lançada no mercado americano com o nome de Roundup.

O poderoso efeito secante do herbicida fez com que ele logo passasse a ser usado na agricultura para "limpar o solo" antes do plantio. Ele obviamente não podia ser novamente usado depois do plantio, para eliminar ervas daninhas, pois aí também mataria a própria planta cultivada.

Essa situação mudou em 1996, quando os cientistas da Monsanto isolaram o gene que tornava uma bactéria resistente ao glifosato e o introduziram em sementes de soja – surgiam, assim, as primeiras plantas transgênicas resistentes ao glifosato. Para a Monsanto, uma descoberta que valeu ouro: a venda combinada do herbicida com as sementes resistentes a ele gerou bilhões de dólares para os cofres da empresa.

Agricultores de todo o mundo adotaram a novidade, argumentando que o plantio de sementes transgênicas, combinado com o uso do glifosato, diminuía os custos de produção. Nos Estados Unidos, por exemplo, praticamente não se planta mais soja, milho e algodão que não seja transgênico. Também no Brasil e na Argentina quase toda a soja cultivada é geneticamente modificada.

Assim, o uso do glifosato, tanto para limpar o solo como para matar as ervas daninhas, espalhou-se pelo mundo, a ponto de ele se tornar o herbicida mais usado no planeta. Na Alemanha, o glifosato é utilizado em cerca de 30% a 40% das lavouras.

Desconfiança e ceticismo

Mas, junto com a ascensão dos transgênicos e do uso do glifosato, cresceu também a desconfiança e o ceticismo em relação a esses dois produtos, principalmente em países de forte tradição agrícola e consciência ambiental, como a Alemanha e a França. E os críticos logo encontraram o seu vilão: a Monsanto.

Quando, em julho de 2015, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, pertencente à Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou que o glifosato provavelmente é cancerígeno, esses críticos viram suas posições confirmadas.

Porém, poucos meses depois, a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, que é uma agência da União Europeia, considerou improvável que o glifosato seja cancerígeno. Já a Monsanto afirma que os herbicidas à base de glifosato são os mais exaustivamente estudados do mundo, e que nunca foi comprovado que eles provocam câncer.

Essas posições pouco devem mudar a péssima imagem do glifosato, dos transgênicos e da Monsanto entre boa parte dos consumidores, principalmente na Europa. A Bayer, ao comprar a empresa americana, adquiriu também esse problema. Mas já há sinais de que a empresa alemã poderá simplesmente acabar com a marca Monsanto, que, além do glifosato, é associada também a outros produtos polêmicos, como o agente laranja, usado na Guerra do Vietnã.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.