A cidade dos Nibelungos
22 de novembro de 2008De longe ela já pode ser avistada. E, com a proximidade, vem o questionamento da capacidade humana de construir monumentos. É com esta sensação de que somos muito pequenos que a Catedral de São Pedro surge na parte mais alta do centro da cidade de Worms. O prédio é um dos mais belos exemplos de arquitetura românica na Alemanha. Impossível não contemplá-la da rua. Mais surpresas aguardam o visitante do lado de dentro.
Ao longo da história da humanidade, a catedral de Worms presenciou grandes acontecimentos, como a eleição do papa Leão 9 (que foi posteriormente confirmado por Roma) e a Dieta real, assembléia que mudou os rumos do Cristianismo. Os trabalhos de construção ocorreram entre 1130 e 1181, ao mesmo tempo em que a basílica românica do século 11 no mesmo local era derrubada. Mas o primeiro registro data de 614.
Catedrais alemãs construídas em homenagem a imperadores são usualmente denominadas catedrais imperiais. A de Worms forma, junto com as de Mainz e de Speyer, uma tríade de igrejas que são exemplo único do românico no mundo.
Worms judaica
Dificilmente outra cidade européia tem tantos elementos arquitetônicos que lembram a cultura e fixação judaica como Worms. Devido à convivência entre cristãos e judeus, a cidade recebeu o nome de "pequena Jerusalém". Apesar do período negro do Terceiro Reich, uma comunidade de fé judaica se manteve ativa em Worms. A destruição com a Segunda Guerra Mundial não conseguiu apagar as evidências do significado do judaísmo na região.
O destaque em Worms é o cemitério judaico (Heiliger Sand, areia sagrada, em alemão). Situado na parte sudoeste e em frente aos muros da cidade – de acordo com regras religiosas, os cemitérios tinham que ficar do lado de fora do povoado –, é o mais antigo do gênero na Europa. As lápides mais velhas datam do ano de 1076.
Quem pisa no Heiliger Sand, além de entender a necessidade de respeitar as tradições judaicas, precisa compreender que o tempo passa de maneira diferente entre seus muros. Na entrada do cemitério fica uma fonte utilizada para o ritual de lavar as mãos após a visita.
A Dieta de Worms
Worms também teve papel importante durante a Reforma Protestante. O alemão Martinho Lutero foi chamado à cidade para a renunciar ou confirmar suas idéias, durante a Dieta real de 1521. Em 16 de abril, Lutero apresentou-se diante da Dieta, em Worms. Ao alemão, foi mostrada uma mesa cheia de cópias de seus escritos. Perguntado se os textos eram seus e se acreditava no conteúdo das obras, Martinho Lutero pediu um tempo para pensar em sua resposta.
Lutero, então, isolou-se em oração e depois consultou seus aliados e amigos, apresentando-se à Dieta no dia seguinte. Quando o colegiado tratou do assunto novamente, o religioso disse: "Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude!".
Nos dias seguintes, seguiram-se muitas conferências privadas para determinar qual o destino de Lutero. Antes que a decisão fosse tomada, Lutero abandonou Worms. Durante seu regresso a Wittenberg, desapareceu. O imperador redigiu, então, o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho Lutero fugitivo e herege, e proscrevendo suas obras. Assim, Worms entrava definitivamente na história da Alemanha.
Casa dos Nibelungos
Não há como não associar os Nibelungos a Worms. Não é à toa que o principal museu dedicado à epopéia histórica de ascensão e queda do reino da Burgúndia fica na cidade. A história habita o imaginário alemão, que conta com uma rota de cidades que fariam parte da lenda. Além de Worms, integram a lista Königswinter, Xanten, Lorsch e Passau.
Em Worms residiam os reis da Burgúndia, além de Kriemhild, que seria a esposa de Siegfried, herói da mitológica história. Os principais acontecimentos ocorreram na região de Worms e são retratados no museu multimídia, inaugurado em 2001.
Outro elemento que deu notoriedade à lenda foi o ciclo de óperas O Anel do Nibelungo, do alemão Richard Wagner. A tetralogia é dividida em O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses.