Willy Brandt e a aproximação com o Leste
A foto do então chefe de governo alemão se ajoelhando em frente ao memorial às vítimas do regime nazista na Polônia fez história. Uma retrospectiva da vida do social-democrata e Prêmio Nobel da Paz Willy Brandt.
Quando palavras não bastam
Em 7 de dezembro de 1970, na Polônia, o chanceler federal Willy Brandt se ajoelha diante do memorial aos mortos no levante do Gueto de Varsóvia. Ao homenagear as vítimas do nazismo, ele fazia um pedido de desculpas silencioso pela culpa alemã na guerra. A foto correu mundo. Em 18 de dezembro de 2013 Brandt completaria 100 anos. Uma retrospectiva da vida do chefe de governo e Prêmio Nobel da Paz.
Resistência no exílio
Herbert Frahm é o nome original do político natural de Lübeck. Quando os nazistas assumem o poder, em 1933, o filho ilegítimo adota o nome da mãe, Brandt. Social-democrata convicto, entra para a clandestinidade, temendo a perseguição, e depois foge para Oslo. Na Escandinávia trabalha como jornalista, organizando de lá a resistência dos socialistas alemães exilados contra Hitler.
Prefeito de Berlim
Após o fim da guerra, em 1945, Brandt voltou para a Alemanha. Como deputado por Berlim, fez parte do primeiro Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão. Em 1957, tornou-se prefeito da metrópole. Quatro anos mais tarde era construído o muro que dividiu a cidade. Brandt se engajou veementemente para que Berlim permanecesse parte da República Federal da Alemanha e, portanto, do Ocidente.
Visita de Kennedy a Berlim
Dois anos após a construção do Muro, o presidente americano John F. Kennedy visitou Berlim. Junto ao prefeito Brandt e ao chanceler federal Konrad Adenauer, ele passeou em carro aberto pela metrópole, e em seguida fez um discurso inflamado sobre o valor da liberdade. Ao dizer em alemão a frase "Eu sou um berlinense", expressou sua solidariedade com os alemães ocidentais e os habitantes da cidade.
Braço-direito de Brandt
No início da década de 60, Brandt desenvolveu, com seu aliado Egon Bahr, as bases de sua nova política para o Leste. Sob o slogan "Mudança através da aproximação", o social-democrata e seu futuro ministro apostaram em se avizinhar dos Estados do Leste Europeu, em vez de intimidá-los. Assim, Brandt também esperava melhorar as relações com a República Democrática Alemã (RDA), sob regime comunista.
Premiê na terceira tentativa
Após perder duas eleições parlamentares, em 1961 e 1965, em vez de chanceler federal Brandt se tornou ministro do Exterior. Mas o sucesso foi alcançado em 1969, quando ele se tornou o primeiro chanceler federal social-democrata da RFA. Apesar de a maioria de votos ter cabido aos democrata-cristãos, uma coalizão com os liberais assegurou a Brandt maioria no Parlamento.
Cúpula teuto-alemã
Em Erfurt, na Alemanha Oriental, pela primeira vez o chanceler federal Willy Brandt se encontrou com o então primeiro-ministro da RDA, Will Stoph. A multidão festejou o chefe de governo da RFA – para embaraço da liderança comunista da RDA. Milhares acorreram ao hotel dos chefes de governo, aclamando-o e chamando: "Willy Brandt à janela!"
Prêmio Nobel da Paz
Em 10 de dezembro de 1971, Willy Brandt recebeu em Oslo o Prêmio Nobel da Paz. Da exposição de motivos constava que, em nome do povo alemão, o chanceler federal havia "estendido a mão para uma política de reconciliação entre antigos países inimigos". Assim, Brandt era homenageado por sua política, que contribuiu para uma distensão entre Leste e Oeste, durante a Guerra Fria.
Votação duvidosa
Em protesto contra a política de Brandt para o Leste e a renúncia a antigos territórios alemães em regiões do Leste Europeu, diversos membros do governo passaram para a oposição. Em 1972, esta tentou derrubar Brandt com uma moção de desconfiança, mas a votação fracassou, surpreendentemente. Mais tarde soube-se que o Stasi, polícia secreta da RDA, havia subornado alguns deputados.
Caso Guillaume
O estopim da súbita renúncia de Brandt, em 1974, foi o desmascaramento de seu colaborador próximo Günter Guillaume, como espião da Alemanha Oriental. Acredita-se que Guillaume e sua esposa espionaram durante quase 20 anos na RFA. Mas há suspeitas de que a renúncia de Brandt tivesse também outros motivos: até hoje, especula-se sobre casos amorosos e uma possível depressão.
Adversários perpétuos
Após a renúncia de Brandt seu correligionário Helmut Schmidt tornou-se novo chanceler federal da Alemanha. Embora Schmidt tenha sido ministro da Defesa e depois das Finanças sob Brandt, ambos permaneceram concorrentes ferrenhos. No entanto seus estilos políticos eram totalmente diversos: Brandt é visto como um visionário, que se ama ou se despreza; Schmidt, por sua vez, é estimado como pragmático.
Social-democrata do mundo
Em 1976, Brandt se tornou presidente da Internacional Socialista, a federação mundial dos partidos trabalhistas e social-democratas. Nessa função, encontrou-se com chefes de Estado como Fidel Castro, Mikhail Gorbatchov e o líder palestino Yasser Arafat. Sob Brandt , a organização voltou a ser uma voz respeitada na política internacional.
Fim da "Cortina de Ferro"
Em 9 de novembro de 1989, cai Muro de Berlim, que dividira a cidade por 28 anos. Já na manhã seguinte, Willy Brandt voou para a metrópole. Em seu discurso, ele expressou gratidão por poder vivenciar aquele dia especial. Referindo-se à reunificação da Alemanha e da Europa, Brandt disse: "Agora cresce junto o que foi criado para estar junto."