Wikipedianos: por um mundo sem fronteiras
7 de agosto de 2005"Wikipedianos" é como se chamam os colaboradores da enciclopédia online livre Wikipédia, cujo conteúdo cresce sem parar, graças aos textos fornecidos por gente de todas as partes do mundo. Principal característica do projeto iniciado em janeiro de 2001 por dois norte-americanos é que, além das consultas grátis ao conteúdo, todo mundo pode contribuir, graças a um software especial – seja por meio de textos de autoria própria, seja por meio da edição de conteúdos já postados na rede.
Com a Wikipédia, começou a era do conhecimento livre na web, e até hoje ela é o projeto de maior sucesso no setor. Entrementes, a enciclopéida compila 1,8 milhão de textos em 100 diferentes idiomas. Outros projetos semelhantes se juntaram a ela, o que levou à criação do conceito abrangente de "wikimídia".
A comunidade...
A cidade de Frankfurt abriga pela primeira vez um encontro internacional de wikipedianos, que se encerra neste domingo (07/08) e que contou com a presença de 400 colaboradores da enciclopédia, vindos de mais de 50 países. Muitos só agora ficaram se conhecendo pessoalmente. "Aguardei este encontro ansioso", diz Kurt Jansson, "porque, com o tempo, a gente fica conhecendo uma porção de pessoas pela internet. A gente troca muito idéias por e-mails e nas salas de bate-papo, por isso é muito legal agora sentar junto, beber uma cerveja e conversar."
Brian Vibber, dos Estados Unidos, e James Day, da Inglaterra, também se encontraram pela primeira vez em Frankfurt. Mas já trabalharam muito em conjunto: os dois são especialistas em software, responsáveis pelo bom funcionamento das páginas.
... e o que a une
Na opinião de James, "é típico deste projeto que ele atraia pessoas que gostam de fazer coisas bem feitas". O inglês aprecia nos wikipedianos o fato de serem atenciosos, prestativos e de terem um objetivo em comum.
"Queremos uma enciclopédia livre para todas as pessoas deste planeta", descreve Jimmy Wales sua visão. Ele é um dos mentores da Wikipédia e continua sendo a alma do projeto, quatro anos e meio após sua criação. Ainda assim, o norte-americano de 38 anos, que todos conhecem por Jimbo, demonstra modéstia: "Sou o carpinteiro, não o arquiteto", diz.
No começo, tudo foi "um tanto caótico", admite Wales rindo. "Mas, com o tempo, a organização das informações no site foi se tornando mais profissional." Nesse meio tempo, ele e o grupo de seus colaboradores criaram uma fundação, a Wikimedia Foundation, e lançaram na internet seis projetos paralelos, entre os quais um dicionário que engloba mais de 50 idiomas e não pára de se ampliar, bem como uma página de notícias, a Wikinews.
Sem preocupação financeira
A idéia do conhecimento gratuito ao alcance de todos entusiasma e contagia. "Nós nos financiamos só com doações", esclarece Kurt Jansson, que preside a associação de amigos da Wikipédia. Sempre que se torna necessário comprar um novo servidor, o grupo lança na internet um apelo por novas doações. Com sucesso. Muitas vezes os cheques vêm acompanhados de comentários dos doadores, conta Jansson. Do tipo: "Vocês são o melhor projeto da internet", ou "vocês me ajudaram muito no trabalho de conclusão do curso".
Além disso, Jannson está negociando atualmente com patrocinadores comerciais. A Yahoo, por exemplo, pretende disponibilizar um servidor num centro de processamento de dados na Ásia, sem exigir em troca espaço para publicidade.
Aliás, não fazer reclame é um dos fundamentos dos projetos de wikimídia. "Nós somos uma iniciativa que não visa a lucros", declara o mentor Jimmy Wales, acrescentando que não pretende mudar isso.
Mas ele próprio reconhece que existem argumentos a favor da publicidade. O site já se tornou tão grande e tão conhecido que já daria para ganhar um "bom dinheiro" com ele. Isso possibilitaria à Wikipédia cumprir também tarefas beneficentes, "por exemplo, disponibilizar livros didáticos para a África".
Um grande desafio
Fazer a wikimídia chegar aos países em desenvolvimento: este é um dos temas prediletos de Wales. E foi incluído também na agenda da conferência de Frankfurt, que debateu, por exemplo, sobre a possibilidade de levar a Wikipédia ao Mali e Uganda.
Para chegar lá, seria preciso, segundo Wales, primeiro criar na internet páginas em línguas como o bambara e o suaíle – apesar das altas taxas de analfabetismo reinantes na região e das lacunas nas possibilidades de acesso à internet. O sonho é conseguir que professores universitários que falem algum dos idiomas africanos se tornem adeptos da wikimídia e passem a colaborar com a Wikipédia. Talvez a conferência de Frankfurt ajude a concretizá-lo.