Vírus ameaçam economia alemã
21 de fevereiro de 2005Uma onda de gripe assola o país. As salas de espera dos consultórios médicos da Alemanha estão cheias: muitos vêem na vacinação a última esperança, antes que a doença os ponha de cama. Aqui a demanda é tão grande, que por exemplo na Saxônia as doses fornecidas pelo departamento estadual de vacinação já começam a faltar.
Em poucas casas e locais de trabalhos da Alemanha não se tosse, assoa e espirra. Após alastrar-se sobretudo no sul e oeste, a onda segue, dominando o norte e leste do país, explicou o Instituto Robert Koch de Berlim. O número de casos registrados na instituição subiu de 271, na segunda semana de fevereiro, para 429 na semana seguinte.
A única exceção é Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, onde "ainda não se detectou atividade mais intensa". O governo federal insta os estados confederados a negociar com a indústria farmacêutica o fornecimento urgente de mais vacinas. Segundo a legislação alemã, é da competência estadual garantir estoques suficientes de vacina contra a gripe.
Vírus reais x virtuais
O pânico em torno dos vírus informáticos tem levado empresas e órgãos públicos a investir somas consideráveis em firewalls, programas antivírus (também conhecidos como "vacinas") e updates de segurança. Com razão: o Departamento Alemão de Segurança Informática calcula os prejuízos causados por ataques virtuais na casa das centenas de milhões de euros. E a tendência é ascendente.
Entretanto os empregadores negligenciam a proteção de seus funcionários contra os verdadeiros vírus, como o da gripe. Um estudo do suíço Thomas Szucs lembra que essa doença em 1996 custou 2,55 bilhões de euros, 90% dos quais devido a dias de trabalho perdidos, numa média de 8,7 dias por pessoa.
Szucs defende a vacinação contra a gripe como tripla proteção: para a comunidade, já que os vacinados não alastram a enfermidade; para o indivíduo; e, por fim, para o empregador. Este é normalmente quem assume os custos da vacinação, porém os números mostram tratar-se de um investimento lucrativo, já que os prejuízos com as faltas de pessoal são potencialmente bem mais elevados.
Danos de 1,3 bilhão de euros até agora
Não se trata de mera teoria: os efeitos econômicos colaterais da atual onda de gripe já se fazem sentir na Alemanha. Especialistas avaliam em mais de 1,3 bilhão de euros os prejuízos causados até o momento. Como em 1996, a porcentagem maior deve-se às faltas forçadas ao trabalho.
Segundo o economista Karl Lauterbach, dos dois a três milhões de pessoas gripadas, a metade é de empregados, que pedem uma média de cinco dias de licença médica. Como um dia de trabalho custa, em média, na Alemanha, 200 euros, os prejuízos alcançam facilmente um bilhão de euros. A medicação, consultas médicas e internações somam aproximadamente outros 300 milhões de euros.
Pandemia e recessão?
Por mais assustadores que pareçam, estes números não são nada, comparados com as projeções de virologistas e peritos do pânico em geral. Estes anunciam uma possível fusão entre o vírus comum da gripe e o da gripe aviária asiática, o H5N5. Isso resultaria num vírus mutante tão difícil de curar quanto o da gripe do frango e de alastramento tão veloz quanto o do resfriado, num nível global.
O economista Boris Augurzky calcula que uma tal pandemia seria um duro golpe para a economia alemã. Num worst case scenario, 30% da população se contagiaria, e 15 milhões de empregados teriam que tirar licenças médicas prolongadas. Os prejuízos resultantes circulam entre 20 e 30 bilhões de euros. Como essa quantia coincide aproximadamente com o crescimento econômico esperado para 2005, a hipotética onda de gripe mutante anularia o crescimento do PIB, precipitando a economia alemã na recessão.