"Vontade própria" é slogan do Beethovenfest 2012
16 de março de 2012O lema do Festival Beethoven deste ano se refere a uma citação do compositor homenageado: "A verdadeira arte tem vontade própria, não se deixa constranger dentro de formas lisonjeiras". Ludwig van Beethoven (1770-1827) registrou esta frase em 1820.
Ilona Schmiel, diretora-geral do Beethovenfest de Bonn, revela que ela e sua equipe escolheram intencionalmente solistas e conjuntos musicais que atuam não apenas a serviço do mainstream, mas que também fazem sua própria arte, e que sobretudo também compõem.
Juntamente com os artistas, a organização do evento desenvolveu programas originais, que oferecem novas perspectivas sobre o repertório conhecido. Assim, o foco recai sobre a música contemporânea, novas abordagens e novos formatos de apresentação – como, por exemplo, um concerto coreográfico.
Os novos e os grandes
O clarinetista David Orlowsky desenvolveu juntamente com seu trio uma "música de câmara do mundo", nascida do amor pelo klezmer – tradição musical popular dos judeus askenazes. Sob o título Chronos, o grupo apresenta arranjos e composições próprias em local inusitado: um depósito de bondes.
A formação Sparks apresenta Folk Tunes, com instrumentistas tocando um total de 24 flautas doces, além de uma violinista, um violoncelista e um pianista. O resultado é uma mistura de baladas alemãs e evergreens inglesas, de alma russa e exuberância mediterrânea, temperada com uma pitada de música de banda bávara.
A programação inclui músicos pouco conhecidos na Alemanha, como o violonista Aniello Desiderio, de Nápoles, que executará com seus irmãos uma versão de As quatro estações, de Antonio Vivaldi, num arranjo do tanguero Astor Piazzolla. Para Schmiel, são essas pequenas formações que revolucionarão o mundo dos concertos, abrindo também o apetite para as grandes obras e orquestras.
"São elas, então, que tornam incrivelmente emocionante escutar mais uma vez o Gurrelieder de Arnold Schönberg, [estreado em] 1913, e imaginar como essa obra opulenta pôde se tornar a mais exitosa de Schönberg. São esses, justamente, os polos de tensão: como astros estabelecidos se comportam, como os jovens lidam com essas raízes", comenta a diretora.
Humor e integrais
Em 2012, o Beethovenfest se dedica mais uma vez ao tema humorismo, perguntando: como são vistas de fora a música clássica e toda a atividade em torno dela? O trio Igudesmann & Joo plus Manny Ax reúne um violinista e, atipicamente, dois pianistas, os quais competem entre si no palco. No início de setembro poderão ser vistos os efeitos dessa constelação sobre a Sonata para violino e piano nº 5 de Beethoven.
Naturalmente o programa também traz as obras de praxe, dentro de um festival que leva o nome do grande compositor alemão clássico-romântico. O pianista András Schiff inicia em Bonn uma integral das sonatas; o Quarteto Borodin, a dos quartetos de cordas de Beethoven. Outro ciclo é o das nove sinfonias de Beethoven com a Philharmonia Orchestra sob a batuta de Esa-Pekka Salonen. Em sua estreia em Bonn, o regente e compositor finlandês combinará em cada programa duas sinfonias do "Titã" com uma obra de um dos cinco continentes.
A Deutsche Kammerphilharmonie Bremen fará dois concertos, um sob a regência de Paavo Järvi, o outro sob Herbert Blomstedt. Algumas orquestras deste ano já são conhecidas na cidade às margens do rio Reno, como, por exemplo, Bayerische Staatsorchester, tendo à frente Kent Nagano.
Festival dentro do festival
O Beethovenfest comemora os 100 anos do nascimento do compositor norte-americano John Cage, o qual, segundo Ilona Schmiel, não poderia faltar num evento sob o slogan "Vontade própria". "No século 20, Cage colocou em questão tudo o que existira antes. Ele propôs perguntas que, até hoje, certamente não foram respondidas. Ele revolucionou a vida e a indústria musical, assim como a prática de execução, e é pioneiro de muitas coisas que só puderam se tornar realidade no século 21."
O programa da "Noite Cage" inclui composições numerosas: entre outras, seu Concerto para piano, as Sonatas and Interludes, Bird cage, Music Walk, 4'33' – obra que se ocupa, exclusivamente, do silêncio –, ou o Musicircus – que se constitui, basicamente, de um convite a qualquer número de músicos para tocar simultaneamente, da forma que desejarem.
Haverá, ainda, a apresentação cênica de Song Book I & II, com o grupo teatral Freyer Ensemble e os quatro cantores do Ensemble Spinario, no espaço de exposições Bundeskunsthalle. Trata-se de formatos que sempre interessaram John Cage intensamente: a interface entre música, teatro e artes plásticas.
Orchestercampus e DW
Ser jovem não é apenas importante, mas sim o mais belo dever e desafio que se pode ter, sublinha Ilona Schmiel. Ela adora achar novos talentos e associá-los ao festival, incentivando-os. Em anos anteriores, esse foi um declarado ponto forte do Beethovenfest, seguramente também graças ao Orchestercampus, que é organizado em parceria com a DW e entra agora em sua 12ª edição.
Para o evento são convidadas orquestras jovens de países parceiros – em 2010, a Orquestra Heliópolis, de São Paulo –, as quais ensaiam obras de Ludwig van Beethoven e apresentam o resultado de seu trabalho. Este ano, a escolhida foi a Turkish National Youth Philharmonic Orchestra (TYPO) – a segunda da Turquia que vem ao festival de Bonn. De seu programa consta a estreia de The traffic, de Mehmet Erhan Tanman, nascido em 1989, peça encomendada pela DW.
Em 2012, o programa do Beethovenfest inclui um total de 66 concertos em 27 locais diferentes. Mais de 2 mil artistas participam do evento. Uma viagem musical, desde o tempo de Beethoven até os dias atuais, sob o signo da "Vontade própria".
O Beethovenfest acontece de 7 de setembro a 7 de outubro de 2012 em Bonn.
Autor: Conny Paul / Augusto Valente
Revisão: Carlos Albuquerque