Viciados em cliques
14 de agosto de 2003Um laboratório de psiquiatria de Munique, na Alemanha, aplica o questionário em pleno habitat do viciado. No site de seu eventual futuro terapeuta, o usuário pode verificar se sofre mesmo ou não da chamada "síndrome da dependência da internet".
Os pontos críticos vão desde "aquela vontade incontrolável de entrar na rede", passando pelo "descontrole do tempo gasto frente ao computador" e indo até aos "sintomas típicos de abstinência, como nervosismo e agitação", sem contar "o isolamento da vida social por causa da internet".
Ambulatórios para tratamento
Na querela que envolve a questão, existem até richas entre psiquiatras e psicólogos: cada um deles defende suas linhas "exatas" de pesquisa e detecção do vício. Na própria internet, surgem "ambulatórios" - virtuais, claro - voltados para o tratamento da doença. Provavelmente um mercado em expansão, considerando-se que na Alemanha 800 mil pessoas gastam até 35 horas semanais perambulando pela rede.
Em congressos de psicologia, fala-se até mesmo de um "autismo tecnológico": uma enfermidade que ataca adultos, crianças e adolescentes. Se entre os grandes há um contingente representativo de ávidos por namorados ou amigos, entre a meninada o admirável mundo novo da internet pode se transformar facilmente em vilão.
Isolamento e vida sedentária
Entre os problemas desencadeados pelo surfar demasiado estão a falta de capacidade de comunicação na "vida real" e até mesmo o excesso de peso. À frente da tela - como já se conhece em relação à TV - a criança muitas vezes acaba ingerindo mais alimentos do que o faria se estivesse sentada à mesa. Além do fato de deixar de fazer exercícios físicos durante todas as horas que passa à mesa do computador.
Para o semanário Die Zeit, "a elite da informação corre o risco de perder a ligação com a realidade, por mero medo de não ser encontrada". Com a expansão das redes locais sem fio - as chamadas redes WLAN - e com o advento dos celulares com acesso online, a internet passa a entrar em todos os âmbitos da vida e reclamar por seu espaço.
Vida fragmentada
Nos casos "mais graves", faz-se tudo com um olho na tela do notebook: das refeições diárias às conversas com os amigos na sala de estar. Na Alemanha, as redes sem fio alastram-se pelas empresas e universidades, fazendo com que cada vez mais pessoas possam a qualquer momento levantar sua anteninha para ler e-mails. Segundo o Die Zeit, "a rede requer uma atenção constante, fragmentando desta forma a vida real".
O vício, diga-se de passagem, é bem manipulado pelas empresas: enquanto a grande maioria delas permite que seus funcionários acessem seus e-mails de casa (ou seja, que se ocupem de assuntos profissionais nos horários de folga), o uso do computador no ambiente de trabalho para fins privados não é visto com bons olhos.
Um último detalhe é ainda digno de nota: segundo o jornal alemão, "quando se pergunta ao usuário de vanguarda - aquele que não deixa praticamente nunca a rede - sobre os lados obscuros de sua conduta digital, ele nunca se lembra de mencionar um conceito tão batido pela mídia: o da avalanche de informações".