Egito em Berlim
18 de outubro de 2011Não há lugar melhor para exibir o recém-restaurado filme mudo A mulher do faraó. A arquitetura que faz jus ao nome do Teatro Egípcio em Hollywood, Los Angeles, é perfeitamente adequada ao conteúdo do grandioso filme de Ernst Lubitsch.
O famoso diretor alemão filmou em 1921 A mulher do faraó – um épico de ficção sobre o poder do amor e do ciúme que se passa no antigo Egito. Pouco tempo depois, Lubitsch virou as costas para a Alemanha e migrou para os Estados Unidos, onde se tornou um dos diretores mais populares e bem sucedidos de sua geração em Hollywood.
Mesmo antes de Fritz Lang e Wilhelm Friedrich Murnau, Lubitsch foi decisivo no estabelecimento do cinema alemão em Hollywood – em termos de diretores, atores, roteiristas e cinegrafistas. Hollywood era fascinada por seu cinema e pelo refinamento de sua técnica. Antes de se tornar famoso como diretor de comédia, sua técnica ficou conhecida como o "toque Lubitsch", gênero que ele levou à perfeição.
O cineasta e roteirista Billy Wilder disse no Seminário Harold Lloyd em 1976 que, se soubesse a fórmula para o "toque Lubitsch", o teria patenteado: "Ninguém no mundo poderia chegar a uma solução melhor do que as de Lubitsch", elogiou.
Egito em Berlim
A mulher do faraó foi filmado no bairro de Steglitz, no sul de Berlim, em 1921. Usando bastidores de um enorme templo em uma antiga cidade egípcia e uma esfinge gigante, Ernst Lubitsch e sua equipe construíram o cenário todo em tamanho original. Grandiosos exércitos, dezenas de cavalos e trajes suntuosos – os produtores do filme não pouparam custos e esforços para reproduzir o Egito antigo da forma mais autêntica possível na capital alemã.
"Um filme épico. Carros estacionados do lado de fora do Ufa-Palast. Metade de Berlim está no auditório. Os intelectuais e os dignos. O reino dos faraós é retratado em uma época indeterminada. O cenário todo é apenas o pano de fundo para uma história de amor em grande estilo. Uma escrava grega torna-se rainha. A monarquia é destruída por isso. Começa a guerra em todo o país. Cenas de impacto sem precedentes", relatou o jornal Berliner Lokal-Anzeiger após a estreia do filme, na época no Zoo Palast.
A música, conhecida opereta do compositor Eduard Künneke, contribuiu para sucesso do filme.
Reconstrução meticulosa
Nos anos seguintes, o filme de Lubitsch seguiu o caminho de outros clássicos da história do cinema. Cópias do filme foram espalhadas por todo o mundo e acabaram danificadas.
Décadas mais tarde, este tesouro da história do cinema foi restaurado. No caso do A mulher do faraó, fragmentos foram encontrados em arquivos russos, italianos e americanos. O Museu de Cinema de Munique e o Arquivo Federal conduziram a restauração do clássico, enquanto a empresa Alpha-Omega, de Munique, cuidou da sua digitalização.
O resultado é uma versão quase completa de A mulher do faraó. Além disso, é a primeira restauração digital de uma película colorida posteriormente. A exibição nos EUA, nesta terça-feira (18/10), será acompanhada por uma orquestra ao vivo. A reestreia mundial acontece em Nova York quase 90 anos após a estreia em Berlim e coloca a arte de Ernst Lubitsch mais uma vez em destaque em Hollywood.
Referência para um gênero
A importância de A mulher do faraó foi enfatizada pelo diretor do Arquivo de Cinema e da Televisão da Universidade da Califórnia, Jan-Horak Christopher, que viu uma prévia da versão digital do filme restaurada em setembro.
Horak escreveu sua tese de mestrado sobre Ernst Lubitsch e considera o filme um importante elo entre os diretores alemães e o cinema norte-americano: "O conjunto monumental da obra e o grande elenco possivelmente influenciaram Cecil B. DeMille em Os Dez Mandamentos (1923), e ambos os filmes se tornaram referência para estabelecer este gênero", avaliou.
Autores: Jochen Kürten / Helen Whittle (bv)
Revisão: Roselaine Wandscheer