CDU amarga derrota
23 de maio de 2011A chanceler federal alemã, Angela Merkel, assistiu a mais uma derrota nas urnas do seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), neste domingo (22/05). As projeções da eleição ocorrida na cidade-estado de Bremen – o menor dos 16 estados alemães – mostram que o Partido Verde superou, pela primeira vez, os conservadores da CDU num pleito estadual.
Em março, a CDU havia perdido para os oposicionistas social-democratas e verdes no importante estado de Baden-Württemberg, no sudoeste alemão, governado pelos democrata-cristãos por quase seis décadas.
A situação do principal aliado do partido de Merkel, o Partido Liberal Democrático (FDP), é considerada ainda mais crítica: a legenda perdeu o direito a assentos nas assembleias de três das cinco unidades da federação disputadas até agora.
Outras duas eleições regionais devem acontecer até o final deste ano. Uma delas, aguardada com expectativa, será a de Berlim. Pesquisas de opinião mostram que na capital alemã a CDU também está atrás dos verdes e do Partido Social Democrata (SPD).
Para os líderes da CDU, os golpes sofridos pelo partido nas urnas são reflexo das discussões sobre o uso de energia nuclear no país, que se tornaram mais contundentes após o acidente com a usina de Fukushima, no Japão.
A perda de espaço pela CDU abriu um enorme debate no partido. "Precisamos ter em mente como podemos ficar mais fortes e atraentes nas grandes cidades. Temos que promover a nós mesmos, e não a oposição", defende o governador de Hessen e vice do partido, Volker Bouffier. Alguns democrata-cristãos, no entanto, defendem "atacar" os verdes a partir de agora para impedir a onda de crescimento dos oposicionistas.
Resultado esperado
Tradicional reduto dos social-democratas, que detêm o poder em Bremen há 66 anos, o resultado preliminar chama a atenção pelo crescimento dos verdes, empurrando os conservadores da CDU para o terceiro lugar. Enquanto SPD e Partido Verde registraram em Bremen, respectivamente, 38,3% e 22,7% dos votos, a CDU alcançou 20,1% dos votos – 5,5 pontos percentuais a menos do que o conquistado na última eleição, em 2007.
"Pela primeira vez na história da República Federal da Alemanha nós ficamos à frente da CDU em uma eleição regional", comemora Claudia Roth, uma das líderes do Partido Verde. "Este é um resultado amargo", constatou Rita Mohr-Lüllmann, da CDU de Bremen.
Segundo dados preliminares, o FDP alcançou apenas 2,6%. O índice está abaixo dos 5% mínimos exigidos para se obter representatividade na assembleia regional.
"Este resultado é difícil para nós", lamenta Peter Altmaier, parlamentar da CDU. "E infelizmente reflete o resultado de pesquisas de opinião", afirma, ressaltando a força que os verdes acabaram ganhando com os debates sobre energia nuclear.
Efeito Fukushima
Depois do acidente na usina de Fukushima, Merkel anunciou a suspensão dos planos de adiar o fechamento de usinas nucleares na Alemanha, além do fechamento emergencial de cinco das usinas mais antigas do país. A medida, porém, parece não ter conseguido reunir apoio suficiente à sua coalizão. "Só se pensa em Fukushima, na situação econômica após a crise financeira e na crise que atingiu alguns países, como a Grécia", diz Altmaier.
Merkel viu-se duramente criticada por sua gestão frente à crise financeira internacional, com muitos alemães com receio de terem que arcar com o resgate da Grécia.
Apesar de ter perdido a maioria na câmara alta do Parlamento (Bundesrat), formado por representantes dos governos dos 16 estados, o governo federal ainda tem uma sólida maioria na câmara baixa do Parlamento (Bundestag).
As eleições em Bremen marcaram também a primeira vez que jovens a partir de 16 anos puderam votar. A idade mínima exigida até então era de 18 anos para pleitos regionais e federais – sete estados permitem a participação eleitoral em nível apenas municipal a partir dos 16. Apesar do aumento do espectro de votantes, apenas 54% dos eleitores compareceram às urnas (votar não é obrigatório na Alemanha). No último pleito estadual em Bremen, o comparecimento havia sido de 57%.
MS/afp/rts
Revisão: Roselaine Wandscheer