Verdes sem superstar
21 de setembro de 2005O verde Joschka Fischer, ministro do Exterior do governo Schröder, anunciou que vai se afastar da cúpula do partido e da liderança da bancada verde no Parlamento, assumindo apenas seu cargo como parlamentar. Esta decisão foi motivada pela derrota política e eleitoral da coalizão de governo com os social-democratas, uma aliança defendida desde sempre por Fischer dentro do Partido Verde.
"Com a assinatura do acordo de coalizão em Hessen", disse ele a alguns correligionários, referindo-se à primeira aliança estadual assumida com os social-democratas, há 20 anos, "troquei minha liberdade pelo poder. Agora quero minha liberdade de volta."
Entre conservadores e dreadlocks
A renúncia de Fischer à liderança da oposição verde tem conseqüências duradouras para os verdes, pois desafia políticos mais jovens a traçar novos rumos para o futuro do partido. Mas também pode ter conseqüências imediatas, pois o maior defensor de uma convergência política com a centro-esquerda acaba de sair de cena, deixando os verdes à vontade para compor com os conservadores, por mais improvável que seja esta alternativa.
"Coalizão Jamaica" é o nome de uma aliança inédita que poderia ser acertada entre conservadores cristãos (simbolizados pela cor preta), liberais (amarelo) e verdes – uma referência às cores da bandeira da Jamaica.
Fischer reiterou que sua saída não tem nenhuma relação com este improvável, mas possível destino dos verdes, declarando com ironia: "Eu nem sabia o que era essa tal de coalizão Jamaica. Quando ouvi isso, tentei não torcer o nariz, todo diplomata. Mas o que estava passando pela minha cabeça era possível imaginar: já estava até vendo todo mundo aí com dreadlocks e um baseado na mão".
Incompatibilidades suficientes
A possibilidade é longínqua. Claudia Roth, membro da presidência do partido, fez questão de insistir que não se trata de negociações de coalizão com os conservadores, mas apenas de conversas informais. Afinal, o principal seria a compatibilidade das metas políticas e não os acertos numéricos.
Reinhard Bütikofer, também membro da presidência, pediu para que "não se diluam os limites entre realidade e sátira". Fato é que os programas dos três partidos apontam para extremos diferentes. Uma coalizão dessas nunca existiu. Conservadores, liberais e verdes concordam pelo menos na política fiscal para o empresariado, pois vêem a redução dos impostos como impulso à economia.
Baixar os encargos salariais também é de interesse comum. Quanto à defesa dos direitos do cidadão e a integração dos estrangeiros, os liberais estão mais próximos dos verdes do que dos democrata e social-cristãos, seus costumeiros parceiros de coalizão. Mas as convergências também acabam por aí.
Quanto à política de trabalho, conservadores e liberais querem facilitar as condições de demissão de funcionários, por exemplo, ponto recusado pelos verdes. De uma maneira geral, os conservadores e liberais pretendem baixar impostos para aquecer a economia, enquanto os verdes querem introduzir um imposto para milionários.
Quanto à política social, o abismo é ainda maior. Conservadores querem – por exemplo – que todos paguem uma contribuição igual ao sistema de saúde, liberais querem privatizar o setor, e verdes defendem contribuições proporcionais à renda. Mas o principal é a incompatibilidade entre a política ambiental inerente ao Partido Verde, rejeitada pelos políticos de centro e direita.
Brilho sem superstar
Mais provável é que os verdes fiquem fora do governo. E agora, sem Fischer. Três políticos já anunciaram oficialmente suas candidaturas à liderança do partido: a ministra da Agricultura e Defesa do Consumidor, Renate Künast, o ministro do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, e a atual líder da bancada verde, Katrin Göring-Eckardt.
O afastamento de Fischer vai com certeza causar um vácuo político entre os verdes. A dificuldade da nova liderança vai ser catalisar as diferentes forças dentro do partido. Outro desafio será conferir contornos mais nítidos às metas verdes que foram abrandadas dentro da coalizão com os social-democratas.
O verde Daniel Cohn-Bendit mostrou compreensão pela decisão de Fischer, seu companheiro político desde o movimento estudantil: "Para os verdes ainda há uma vida depois de Joschka. Agora os verdes têm que manter o brilho sem seu superstar".