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Com veto do Brasil, Venezuela fica fora de lista dos Brics

23 de outubro de 2024

Itamaraty pressionou para filtrar país sul-americano do grupo de novos Estados-parceiros. Decisão ainda pode ser modificada pela cúpula do bloco. Maduro viaja à Rússia em busca de apoio para a adesão.

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Reunião do Brics na Rússia
Lista inicial do Brics exclui Venezuela de grupo recém-criado de países parceirosFoto: Maxim Platonov/IMAGO/SNA

A Venezuela e a Nicarágua foram excluídas de uma lista prévia que define os países candidatos ao status de parceiros dos Brics, grupo formado pelas principais economias emergentes do mundo.

Segundo apurações dos canais CNN e Globo News, a cúpula do grupo atendeu ao pedido do governo brasileiro para impedir a entrada dos latino-americanos na aliança.

Apenas 13 países são considerados para participar do bloco na nova categoria de "Estados-parceiros". Entre eles, estão Cuba e Bolívia. A lista final ainda será definida em encontro da 16ª cúpula do Brics que acontece em Kazan, na Rússia, até o dia 24 de outubro.

Brasil rejeitou adesão da Venezuela

A pressão do Itamaraty acontece em meio ao estremecimento de relações entre o Planalto e os dois países.

Em 7 de agosto, a Nicarágua expulsou o embaixador brasileiro em Manágua após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentar mediar e apaziguar a ofensiva do regime de Daniel Ortega contra a Igreja Católica no país. O Brasil fez o mesmo com o embaixador nicaraguense um dia depois.

Já a proximidade de Lula com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se deteriorou após o resultado contestado das eleições venezuelanas. Lula, antes aliado de Maduro, sugeriu, ao lado de Estados Unidos e Colômbia, a realização de novas eleições no país e pediu a apresentação das atas eleitorais, o que o governo chavista rechaçou.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pressiona pela adesão do país ao bloco para contornar sanções Foto: Java

Em entrevista à CNN, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, disse não concordar com a adesão venezuelana à aliança, mesmo como status de país parceiro. "Eu não defendo a entrada da Venezuela. Acho que tem que ir devagar. Não adianta encher de países, senão daqui a pouco cria um novo G-77", disse.

Também à CNN, diplomatas brasileiros afirmaram que o Brasil usou o argumento de que a escolha dos futuros países-parceiros dos Brics deveria partir de um consenso, o que elimina a possibilidade de entrada da Venezuela e da Nicarágua.

Maduro pressiona por adesão

A posição do Itamaraty, porém, vai na contramão do governo chavista, que solicitou formalmente acesso ao grupo em agosto de 2023.

Já nesta terça-feira, o presidente venezuelano desembarcou em Kazan para participar como observador da cúpula do grupo, em uma visita que não era esperada pela cúpula. Até segunda-feira, a Venezuela era representada por sua vice-presidente, Delcy Rodríguez.

Ao desembarcar na Rússia, Maduro disse que o Brics se tornou "o epicentro do novo mundo multipolar, da nova geopolítica, da diplomacia da paz".

O presidente da Rússia, Vladimir Putin
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem dado prioridade à expansão do bloco para contestar tese de isolamento da RússiaFoto: Alexander Zemlianichenko/AP/picture alliance

Também defendeu que os membros estabeleçam "a possibilidade de acesso a outra economia, que não seja administrada com base em sanções e chantagens", em referência às medidas coercitivas impostas por Washington ao seu governo.

Ele deve se reunir ainda hoje com o presidente russo, Vladimir Putin, e sua presença foi percebida como uma tentativa de pressionar pela entrada da Venezuela no bloco.

Brics busca expansão

O Brics, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ganhou novos Estados-membros no início do ano – Egito, Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, esse ainda em processo de adesão. A Argentina também foi convidada, mas o presidente Javier Milei declinou a oferta.

Agora, a cúpula que se reúne nesta semana em Kazan decide sobre a criação da categoria de Estados-parceiros, que reúne nações interessadas em acompanhar e referendar as discussões dos países-membros.

A estratégia de expansão da aliança tem sido tomada como prioridade da política externa russa, que, assim como a Venezuela, busca rechaçar seu isolamento do sistema internacional e contornar sanções impostas a ela.

Putin quer, por exemplo, usar o bloco para apresentar uma alternativa ao dólar como moeda internacional. A cúpula debate ainda a criação de um sistema de pagamento liderado pelo Brics para rivalizar com o Swift, um sistema de transferências internacionais da qual os bancos russos foram cortados em 2022, após a invasão da Ucrânia.

Segundo Putin, ao menos 30 países se candidataram para entrar na aliança, entre eles, Venezuela e Nicarágua. A lista extra-oficial que circula em Kazan, porém, inclui apenas 13 nações que estão sendo consideradas para inaugurar a categoria de parceiros dos Brics: Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã. A lista foi definida nesta terça-feira (22/10) pelos atuais membros e ainda pode passar por um novo filtro.

As nações do Brics representam pouco menos da metade da população mundial e cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) global.