Variante lambda, a ameaça que vem da América do Sul
23 de junho de 2021C.37, variante dos Andes, ou simplesmente "lambda": é bem possível que em breve o nome desse novo mutante do coronavírus ocupe as manchetes do mundo inteiro. Há cerca de uma semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) inclui a lambda na categoria VOI (variants of interest – variantes de interesse), por ser responsável por acúmulos de casos e já ter surgido em diversos países.
Entre os 29 em que essa variante foi detectada, sete são da América Latina: Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México e Peru. O primeiro caso foi em agosto de 2020, no Peru, e menos de um ano mais tarde ela já responde por 82% dos doentes de covid-19 no país. No Chile, foi identificada em um terço das novas infecções.
Jairo Méndez-Rico, especialista em moléstias virais da OMS, explica à DW que "até agora não existem indicações de um comportamento mais agressivo da variante lambda". "Embora exista a possibilidade de uma taxa de infecciosidade mais alta, ainda não dispomos de suficientes estudos fundamentados para podermos compará-la à gama ou à delta."
Essas duas mutações, assim como suas antecessoras alfa e beta, pertencem à categoria VOC (variants of concern – variantes preocupantes) da OMS, por serem comprovadamente mais contagiosas, mais difíceis de combater ou provocarem afecções mais graves.
Méndez-Rico sustenta que o recurso mais eficaz contra todos os mutantes é a vacinação: "Todas as vacinas aprovadas por nós contra as variantes do coronavírus em circulação pelo mundo são eficazes em geral, e não há qualquer motivo para se supor que o sejam menos em relação à lambda."
Ascensão vertiginosa no Peru
Será que a lambda é apenas o começo? Diversos cientistas estão convencidos de que a pandemia de covid-19 só terá fim quando 80% da população mundial estiver imunizada, até lá podendo sempre emergir novas variantes, como a atual.
Baseado nos dados mais atuais, contudo, o virologista da OMS tranquiliza um pouco: "Embora exista a possibilidade, no momento não há indicações de que as variantes sejam mais perigosas ou acarretem uma maior mortalidade. Em seu processo evolutivo, é até provável que o Sars-Cov-2 se torne mais contagioso, mas não mais nocivo para o hospedeiro, ao mesmo tempo,"
O microbiólogo peruano Pablo Tsukayama é atualmente um interlocutor disputado, no tocante ao coronavírus lambda, tendo acompanhado a variante durante meses, em seu país natal. Através da pesquisa de genoma, ele e sua equipe da Universidade Cayetano Heredia, de Lima, conseguiram rastrear a mutação.
"Em dezembro, tínhamos só umas 200 infecções com a lambda. No fim de março, já era a metade de todas as amostras de Lima, e agora, três meses mais tarde, é mais de 80%, em todo o país. Num prazo curtíssimo, a lambda passou a ser a variante dominante no Peru." Para tal, se sobrepôs a todas as mutações classificadas pela OMS como ainda mais perigosas, impondo-se até mesmo contra a P1, a variante gama do vizinho Brasil.
Segundo Tsukayama, além de ser mais contagiosa, a lambda encontrou as condições iniciais perfeitas no Peru: "Somos o país que se saiu pior na pandemia de covid-19, com 187 mil mortos e a maior taxa de mortalidade do mundo. Assim, não é nenhum espanto a variante ter se originado justamente aqui."
Ameaça de nova onda sul-americana
Provavelmente será inevitável que a América Latina, como seus mais de 1 milhão de mortos pelo novo coronavírus, venha a se tornar o novo epicentro mundial de variantes. Na Colômbia já está se alastrando a altamente contagiosa B.1.621.
Sistemas de saúde sobrecarregados; grande parte da população trabalhando em empregos precários para sobreviver, sem poder, portanto, acatar as medidas decretadas; falta de vacinas, são a perfeita receita para variantes como a lambda.
"O Chile vacinou mais de 60% da população, mas ele é uma exceção no continente", explica o microbiólogo peruano. "É muito provável que no verão sul-americano, com uma terceira onda de covid-19, entre julho e setembro, apareçam novas variantes, não necessariamente mais perigosas, mas certamente mais contagiosas."
Após a conferência dos países doadores do programa internacional de assistência Covax, estão disponibilizados, ao todo, 9,6 bilhões de dólares para campanhas de vacinação nos países mais pobres. Os 1,8 bilhão de doses serão distribuídos por mais de 90 nações, até o começo de 2022. O mundo parece lentamente ir compreendendo que a pandemia só poderá ser solucionada em âmbito global.
"Agora, a estratégia dos países ricos só pode ser transportar o máximo de vacinas para os países pobres, o mais rápido possível, porque senão outras variantes continuarão eclodindo", alerta Pablo Tsukayama, "O lema para o coronavírus continua sendo: 'Ninguém está seguro enquanto todos não estiverem seguros.'"