Vampiros: terror e fascinação no escuro do cinema
17 de julho de 2013Cada geração vivencia a seu modo o medo de vampiros. Pelo menos desde a invenção do cinema é possível documentar passo a passo essa trajetória. O diretor do Museu do Cinema de Düsseldorf, Bernd Desinger, tenta explicar por que o interesse vampiresco se renova a cada punhado de décadas.
"Os temores e ao mesmo tempo a fascinação que o tema desencadeia acompanham a pessoa por toda a vida." Em outras palavras: o primeiro vampiro visto numa tela de cinema ninguém esquece, afirma Desinger, cujo museu se dedica ao tema na exposição "Príncipes das trevas – O culto dos vampiros no cinema".
De Nosferatu a Crepúsculo
O primeiro filme com um vampiro "de verdade" foi, justamente, uma produção alemã: Nosferatu, de Friedrich Wilhelm Murnau, realizado em 1922 com Max Schreck no papel-título e que em breve tornaria o gênero popular.
A partir de 1931, Bela Lugosi passou a incorporar o sinistro e cruel Drácula, o Príncipe das Trevas. A tal ponto que, com o decorrer dos anos, o ator hollywoodiano de origem húngara passou a se considerar, cada vez mais, um verdadeiro vampiro.
Da mesma forma que o clássico de Murnau, a película dirigida por Tod Browning infiltrou-se fundo na memória de seus espectadores. Já para quem passou a juventude entre o final da década de 50 e a de 60, Christopher Lee era a acepção do conde Drácula, ao mesmo tempo sinistro e charmoso, nas numerosas produções de horror da britânica Hammer.
Um quarto de século mais tarde, acentuando os aspectos fantásticos e sensuais do mito, era a vez de o cineasta Francis Ford Coppola ressuscitar o arquivampiro, agora representado pelo inglês Gary Oldman.
Em anos recentes, a série Crepúsculo (Twilight) mais uma vez transformou em entretenimento – e bilheteria milionária – o mito dos mortos-vivos sugadores de sangue. Os filmes, baseados nos best-sellers da norte-americana Stephenie Meyer, injetam um forte componente de erotismo adolescente na narrativa. E, assim, a pálida e confusa saga cinematográfica é a versão contemporânea de uma lenda com longa tradição.
O modelo histórico: Vlad, o Empalador
O monstro bebedor de sangue representado nas telas é baseado tanto em fontes históricas como em uma literária. O romance de horror gótico Drácula (1897), de Bram Stoker, forneceu inspiração e estrutura narrativa a inúmeros roteiristas e diretores.
O irlandês Stoker, por sua vez, baseara-se na biografia do mal-afamado príncipe Vlad Țepeș 2º, que em meados do século 15 aterrorizava a atual Romênia. Como seu pai ostentava a Ordem do Dragão (em romeno, Dracul), Vlad foi denominado Dracula. Entre outras peculiaridades – um de seus apelidos era "o Empalador", por sua preferência por esse método de tortura –, conta-se que o nobre gostava de beber sangue.
A personagem não foi inspiração apenas para Bram Stoker, como também para numerosos artistas plásticos. No entanto, como lembra Desinger, nenhuma imagem do vampiro marca tanto o inconsciente coletivo quanto aquela cunhada pelo cinema.
Charme, medo do sol e crucifixos
Assim, numerosos detalhes, hoje imediatamente associados ao mito, são exclusivamente originários do imaginário cinematográfico. Por exemplo: o vampiro que se transforma em pó ao entrar em contato com a luz do dia não passa de uma invenção dos roteiristas.
Desde Lugosi, os vampiros da tela são cultos e cavalheirescos, marcados por uma boa dose de charme e carisma. Pouco a pouco, o subtexto sexual vai se acentuando. Na década de 60, a palheta se expande, e se encontram mulheres, negros e gays sugadores de sangue.
Lendária é, por exemplo, a cena de A dança dos vampiros (1967), de Roman Polanski, em que um "vampiro judeu" não se impressiona nem um pouco com o efeito de um crucifixo cristão.
Fuga da morte eterna
Durante décadas pesquisadores e "vampirólogos" têm explorado avidamente o porquê da popularidade inquebrantável dessa figura de horror. "O vampiro é a mais perfeita projeção de nossos medos primais, um ser teológico dotado de tremenda profundidade filosófica e psicológica", resume o historiador e filósofo Hans Meurer, que há anos estuda o tema.
Um aspecto chave para se entender o poderoso efeito do mito é a forma como as pessoas lidam com a morte. "Para a maioria, a morte é o pavor máximo", explica Meurer. Por isso, tantas civilizações tentaram eliminar a visão da morte como fim de tudo, reinterpretando-a como um ritual de transformação ou passagem. "Aparentemente nenhum povo exclui a possibilidade de uma vida após a morte", diz Meurer.
Desse modo, o vampirismo se transformou num fenômeno global: em suas pesquisas para a mostra em Düsseldorf, Desinger esbarrou em mais de mil filmes de Drácula, de todo o mundo.
Entre filosofia e entretenimento
Na explicação dos psicanalistas, o mito se origina na crença natural dos vivos de que os falecidos prefeririam não estar mortos e anseiam por retornar a seus entes queridos.
"A fonte mais profunda dessa projeção é, sem dúvida, o desejo de que aqueles que partiram não nos esqueçam", afirmava em 1931 o psicanalista inglês Ernest Jones, em seu ensaio Sobre o pesadelo, "um desejo que, em última análise, origina-se das lembranças infantis de ser abandonado pelo querido progenitor."
Mas essa é apenas uma entre as inúmeras interpretações para a sempre renovada obsessão cinematográfica pelas aventuras de vampiros. Para os fãs de Nosferatu, Drácula, Edward Cullen e companhia, tudo é válido, contanto que não atrapalhe os sustos, a diversão e o delicioso frio na espinha.
A mostra "Príncipes das trevas – O culto dos vampiros no cinema" pode ser visitada no Museu do Cinema de Düsseldorf até 13 de outubro de 2013.