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Vacina desenvolvida no Brasil pode tratar câncer de próstata

Ivana Ebel24 de outubro de 2013

Sistema imunológico do paciente passa a identificar as células cancerosas e destrói o tumor. Técnica tem sido adaptada com sucesso para outros tipos de carcinoma.

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Foto: AP

O câncer de próstata matou pelo menos 15 mil brasileiros no ano passado e 60 mil novos casos surgem no país anualmente. Embora os índices de cura sejam elevados – 95% para casos descobertos precocemente, conforme dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) – uma vacina pode ser a esperança contra a doença.

Trata-se de uma terapia imunológica desenvolvida no Brasil e que tem conseguido resultados animadores na primeira rodada de testes clínicos: a chance de morte caiu de um em cada cinco pacientes para um em cada 11, depois de cinco anos. O método já está sendo testado em outros tipos de câncer.

O coordenador da pesquisa, Fernando Kreutz, explica que a vacina é desenvolvida especificamente para cada paciente, com células extraídas do tumor que vai ser combatido. Dessa forma, as células do sistema imunológico passam a reconhecer os antígenos e transformam as células doentes em alvos. De acordo com o médico, que preside a Associação Brasileira de Biotecnologia, cada paciente tem um perfil de células tumorais diferentes e por isso o tratamento personalizado tem mais eficácia.

Já existem opções no mercado

Vacinas similares já existem no mercado. A empresa estatal cubana Labiofam anunciou resultados promissores em um tratamento imunológico personalizado, embora não tenha divulgado detalhes da pesquisa em seu próprio site. Já a norte-americana Dendreon desenvolveu uma terapia em que linfócitos do paciente são modificados para atuar sobre uma proteína característica do câncer de próstata.

O remédio já está no mercado e o tratamento custa 91 mil dólares. Embora tenha falhado em reduzir os tumores avançados, a vacina provou-se eficaz em aumentar a sobrevida dos pacientes graves em até quatro meses.

A pesquisa de Kreutz tem usado os resultados da Dendreon como parâmetro comparativo e os resultados têm sido melhores. Dos 107 pacientes tratados, após cinco anos 85% apresentaram níveis de PSA indetectáveis. O PSA (Antígeno Prostático Específico) é uma proteína que, quando em níveis elevados no sangue, pode indicar a presença de tumor de próstata.

A diferença entre as duas terapias, segundo o médico, é que a vacina que ele desenvolve na FK Biotec não usa apenas um marcador protéico, mas material da célula tumoral do próprio paciente. "Nem mesmo as células do tumor são iguais entre elas", detalha. O material personalizado cria dezenas de diferentes marcadores – e não apenas a proteína padrão –, o que amplia largamente a chance de que a célula tumoral seja reconhecida pelo sistema imunológico.

Princípio da vacina pode ser adaptado para outros tipos de câncer e resultados preliminares são animadores
Princípio da vacina pode ser adaptado para outros tipos de câncer e resultados preliminares são animadoresFoto: Fotolia/Tom

Alternativa para outros tipos de câncer

Teoricamente, conforme Kreutz, o método pode ser adaptado para quase todos os tipos de câncer e por isso a equipe de pesquisas ampliou o foco. Pequenos grupos de paciente com câncer de mama, melanomas e câncer de pâncreas estão sendo tratados. O médico diz que a amostragem ainda é pequena e os resultados não podem ser medidos de forma estatística, no entanto, está satisfeito com os resultados preliminares. De três pacientes com câncer de pâncreas – um dos carcinomas mais letais – um deles apresentou uma resposta imunológica além da esperada, com a redução do tumor.

As vacinas podem ser um avanço no tratamento dos tumores, mas, para os homens, descobrir a doença da próstata em estágios iniciais é ainda a maior certeza de cura. "Não existe prevenção, existe diagnóstico precoce", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, Aguinaldo Nardi.

Segundo o médico, quando o carcinoma é identificado a tempo, 95% dos pacientes que recebem o tratamento adequado ficam livres da doença. O tratamento é planejado conforme a necessidade de cada doente, mas em geral, como explica o médico, há um procedimento cirúrgico seguido de tratamento hormonal, radioterapia e quimioterapia, em casos com metástase.

No entanto, a dificuldade maior está exatamente em se obter o diagnóstico ainda nos estágios iniciais da doença. Nardi afirma que 43% de todos os homens brasileiros nunca visitaram um urologista. O problema, na sua opinião, é a falta de acesso ao serviço público de saúde somado à falta de informação e ao preconceito. Ele recomenda que exames de PSA e toque retal sejam feitos a partir dos 50 anos. "E a partir dos 40 anos quando há histórico familiar de câncer de próstata", destaca.

Idade aumenta o risco de carcinoma

Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) confirmam que a idade é o único fator de risco estabelecido. Estatísticas do instituto mostram que 62% dos casos acometem homens com mais de 65 anos e que o aumento da expectativa de vida em todo o mundo deve elevar o número de casos. O câncer de próstata é a segunda causa de morte por carcinoma entre homens no Brasil e no mundo, ficando atrás apenas do câncer de pele.

Embora não conheça os resultados da vacina da FK Biotec, Aguinaldo Nardi acredita na eficácia dos tratamentos imunológicos na luta contra o câncer de próstata. Já Kreutz coloca ênfase: "É o futuro", garante. A patente da vacina já foi registrada, mas ele acredita que, em previsões otimistas, ainda leve cerca de três anos para o que o produto chegue ao mercado.

O pesquisador não vê a vacina como uma substituição para os métodos de tratamento já existentes, mas como um novo reforço que possa trazer qualidade de vida. O médico não fala em cura, mas na possibilidade de "manter pacientes já tratados livres da doença por mais tempo".

Além disso, Kreutz não vê empecilhos para que o remédio seja oferecido também a pacientes do sistema público no futuro. "Hoje, os brasileiros têm acesso a remédios que chegam a custar 100 mil reais e a vacina não será mais cara do que uma quimioterapia comum", calcula.