Vacina de Oxford alcança até 90% de eficácia
23 de novembro de 2020A companhia farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca comunicou nesta segunda-feira (23/11) que a sua vacina, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, tem eficácia de até 90% para proteger contra infecções pela covid-19, sem nenhum efeito colateral grave.
O ensaio clínico da terceira fase testou diferentes regimes de aplicação da vacina. O resultado de 90% de eficácia foi alcançado quando a vacina foi ministrada em duas aplicações, com intervalo de pelo menos um mês entre ambas, sendo meia dose na primeira aplicação e uma dose completa na segunda.
Quando ministrada em duas doses completas, com intervalo de pelo menos um mês, a eficácia foi menor, de 62%. A análise combinada dos dois métodos de dosagem indica uma eficácia média de 70%.
Os resultados são de ensaios clínicos de larga escala realizados no Reino Unido e no Brasil e se baseiam em 131 infecções pela covid-19 entre os participantes do ensaio que receberam a vacina e os que receberam uma vacina já existente contra meningite.
"A eficácia e a segurança da vacina confirmam que ela será altamente efetiva contra a covid-19 e terá um impacto imediato nesta emergência de saúde pública", afirmou nesta segunda-feira o presidente da AstraZeneca, Pascal Soriot. A pandemia já matou quase 1,4 milhão de pessoas pelo mundo, das quais cerca de 170 mil no Brasil, e teve grande impacto na economia global.
A vacina da AstraZeneca foi a primeira escolhida pelo governo brasileiro para receber recursos públicos para ensaios clínicos, transferência de tecnologia e compra antecipada. Em 6 de agosto, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma medida provisória abrindo crédito de R$ 1,9 bilhão para adquirir a tecnologia e oferecer 100 milhões de doses desse imunizante para brasileiros até meados de 2021, distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A iniciativa do governo federal também inclui um investimento de R$ 522 milhões na Fundação Oswaldo Cruz, instituição pública sediada no Rio de Janeiro, para modernizar instalações e comprar equipamentos para produzir, envasar e fazer o controle de qualidade da vacina.
Corrida científica
O anúncio da AstraZeneca de que a sua vacina tem uma eficácia no intervalo de 60% a 90% vem após duas empresas concorrentes também publicarem resultados de ensaios clínicos nas últimas semanas mostrando uma eficácia superior a 90%.
Em 16 de novembro, a americana Moderna comunicou que sua vacina era 94,5% eficaz . Na semana anterior, a americana Pfizer e a alemã BioNTech divulgaram que sua vacina, desenvolvida em conjunto, tinha eficácia superior a 90% e alcançou 95% de eficácia na análise completa dos dados do ensaio clínico, feita posteriormente.
Em 11 de novembro, a Rússia também comunicou que a sua vacina Sputnik-V mostrou eficácia maior que 90%, mas baseada em apenas 20 infecções no ensaio clínico.
A vacina desenvolvida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford usa um vírus modificado, que originalmente causa gripes em chimpanzés, adicionado de um gene para uma das proteínas do coronavírus. O objetivo é induzir o sistema imunológico da pessoa vacinada a gerar uma resposta protetora contra o vírus da covid-19. Esse método ainda não foi usado em uma vacina aprovada para uso humano.
É uma tecnologia diferente da usada pela Pfizer/Biontech e pela Moderna, que também é nova e nunca foi usada em uma vacina, a do RNA mensageiro (mRNA). Esses imunizantes contêm um pedaço de código genético que treina o sistema imunológico para reconhecer a proteína spike do coronavírus.
A vantagem da vacina da AstraZeneca é que ela não precisa ser armazenada em temperaturas ultrafrias, como as das suas rivais, o que facilita a sua distribuição, especialmente em países de renda baixa ou média. A vacina da Pfizer/Biontech precisa ser armazenada e transportada a uma temperatura de -70 ºC, e a da Moderna, a uma temperatura de -20 ºC, o que exige uma infraestrutura mais complexa.
Segundo a AstraZeneca, sua vacina pode ser armazenadae transportada em refrigeradores normais por um prazo de até seis meses. "Os resultados mostram que temos uma vacina efetiva que salvará muitas vidas", afirmou nesta segunda-feira o professor Andrew Pollard, pesquisador chefe dos ensaios clínicos.
A vacina da empresa chinesa Sinovac, que também vem sendo testada no Brasil em parceria com o Instituto Butantã e tem o apoio do governo de São Paulo, usa uma tecnologia tradicional e ainda não divulgou resultados da eficácia da terceira fase de seu ensaio clínico. O imunizante se mostrou seguro e produziu anticorpos em 97% dos voluntários saudáveis testados nas fases 1 e 2.
A AstraZeneca agora enviará os dados de seu ensaio clínico às autoridades de diversos países em busca de uma aprovação acelerada para o uso da vacina, e pedir uma autorização emergencial da Organização Mundial de Saúde para que ela esteja disponível em países de baixa renda. Paralelamente, os dados completos dos resultados do ensaio clínico serão submetido para revisão independente e publicação em revistas científicas.
BL/ots