Vítimas das enchentes retornam à casa
"Aqui tem uma cervejaria muito boa – tinha uma cervejaria muito boa", afirma Wolfgang Vogt, que, como vários dos habitantes de Laubegast, um dos bairros de Dresden, ainda tem dificuldade em ter que usar os verbos no passado. Pois da cervejaria, como do resto da região ao norte do rio Elba, não se vê mais nada do que existia antes da inundação.
Na última sexta-feira (16), milhares de pessoas deixaram suas casas às pressas. No domingo, parte das vítimas começou a voltar, para verificar os estragos feitos pela maior catástrofe natural que a cidade já viveu. "Não temos aquecimento nem energia elétrica", conta Eberhard Matteschk, enquanto retira os diques colocados em vão em frente ao seu jardim, completamente inundado pelas águas nos últimos dias.
Displicência -
Autoridades afirmam que pode demorar ainda mais de uma semana, até que as águas do Elba em Dresden atinjam níveis mais baixos. Enquanto isso, a polícia patrulha as áreas inundadas com a ajuda de barcos. Para os habitantes da cidade, no entanto, as autoridades reagiram muito tarde, não tendo alertado a população sobre os possíveis perigos de uma inundação. "Teriam que ter sabido o que estava por vir e avisado as pessoas como era séria a situação", comenta Vogt.Além da falta de precaução, as vítimas das enchentes manifestam também um certo desdém em relação à atitude de políticos, que - em ritmo de campanha eleitoral - fazem visitas-relâmpago às áreas inundadas, cercados, obviamente, de muita publicidade. A solidariedade entre amigos e vizinhos tem sido, para boa parte da população, o que conta.
No domingo (18), quando o nível das águas do Elba caiu para 8,5 metros, após atingir o recorde de 9,4 metros, um clima de otimismo tomou conta da região, mesmo considerando que o rio mantém um volume de água quatro vezes maior do que o normal. Vizinhos ajudavam uns aos outros a bombear água dos porões de suas casas e a transportar objetos de valor para áreas seguras.
Turistas do dilúvio -
Apesar da catástrofe, uma nova forma de turismo desenvolveu-se na Saxônia, principalmente em sua capital Dresden. Curiosos percorrem às vezes centenas de quilômetros, com o objetivo de ver a cidade inundada. Sem considerar que prejudicam o trabalho das equipes de resgate, os "turistas do dilúvio" documentam as enchentes com máquinas fotográficas e câmeras de vídeo, enquanto armários, geladeiras ou latas de lixo bóiam rio afora.Embora o número de curiosos tenha diminuído nos últimos dias, Doris Schmidt-Krech, funcionária da administração municipal, vê "nas multidões um perigo". A polícia procura afastar os curiosos da região, sem, no entanto, conseguir evitar os congestionamentos no trânsito.
O fato de a equipe de resgate passar por enormes dificuldades para evacuar a área e salvar as vítimas não é reconhecido por boa parte dos curiosos. "Se não se pode ajudar, então pelo menos olhar", afirma uma mulher de 31 anos no bairro de Friedrichstadt, uma das regiões inundadas de Dresden.
Os adeptos do turismo das águas, entre eles jovens e idosos, aglomeram-se sobre as pontes da cidade, para ver o que sobrou da catástrofe. Sem pudores de declarar sua espécie de humor negro, uma estudante de 17 anos declara entusiasmada: "É mesmo genial. Uma coisa assim não se vê todo dia".
Nervosismo -
Em Weesenstein, localizada numa das regiões mais devastadas pelas águas, um cartaz já avisa: "Nós não queremos turistas de enchentes. O que precisamos é de ajuda". Na cidade, que ficou completamente inundada na última semana, a população reage aos curiosos com pouca paciência. "A situação está tensa e os nervos à flor da pele", comenta o padeiro Axel Gerlach.Até a prefeitura de Dresden alerta os jornalistas que pretendem visitar a "Suíça da Saxônia", uma das regiões mais devastadas pelas águas. "Vocês assumam o risco sozinhos", avisa um boletim informativo, enquanto uma assessora de imprensa descreve alguns ataques de habitantes locais a turistas com máquinas fotográficas.