Usos e costumes alemães de Ano Novo
31 de dezembro de 2003A maioria dos costumes de Ano Novo na Alemanha vem de rituais germânicos e da Roma antiga. Beber, comer e festejar sempre fazem parte de uma festa alemã de réveillon, seja em família, ao ar livre ou num baile social. Na passagem de ano também é tradicional o badalar dos sinos. Especialmente nesta ocasião, pode-se ouvir o "Dicke Peter", o maior sino do campanário da Catedral de Colônia.
Os fogos de artifício, para espantar os maus espíritos com muito barulho e receber o Ano Novo com muitas luzes, são um costume praticado nas ruas e parques de todo o país, seja em família ou entre vizinhos. Como não poderia deixar de ser no país das regulamentações, os fogos têm hora para começar e para terminar.
Antigamente, eram usados guizos e chicotes para fazer barulho. Na Idade Média, os maus espíritos eram afastados com sinos, tambores e trombetas. Mais tarde, com o descobrimento da pólvora, o barulho passou a ser feito também através de tiros de morteiro e de espingarda. Esta tradição ainda é seguida no norte da Alemanha, para que as árvores tragam bons frutos no ano que se inicia.
Um costume em extinção é o do derretimento de chumbo para adivinhar o futuro. Ele consiste em derreter o metal e deixar cair pequenas porções dele numa bacia com água. A partir da figura formada pelo metal solidificado, há os que tentam adivinhar o que irá acontecer no ano que começa.
Simbologia dos alimentos
A grande variedade de pratos típicos servidos no final do ano está relacionada diretamente às superstições e crendices. Quando se deseja abundância e fertilidade no ano que se aproxima, deixa-se na mesa até o dia seguinte os restos da ceia de Ano Novo.
Na lista de pratos típicos para a ocasião, aparecem as sopas de lentilhas, de ervilhas, de feijão de vagem ou até mesmo de cenoura. Segundo a crença popular, isto traz bênçãos e riqueza. Ou ainda chucrute com costelinhas de porco. Mas este prato só dá sorte se, antes de comer, a pessoa expressar o desejo de no ano seguinte dispor de tantos bens e dinheiro quantos fios de repolho estão na panela.
Enquanto as aves estão banidas do cardápio de réveillon, pois podem voar com nossa sorte pela janela, as tradicionais vítimas são o peixe ─ mais precisamente a carpa, preparada de diversas maneiras ─ e o porco, um importante símbolo de sorte na Alemanha.
Por ser um alimento raro antigamente, a carpa tornou-se objeto de uma crendice: para ganhar dinheiro no ano seguinte, deve-se guardar na carteira uma escama do peixe comido na ceia. Ou então espalhar suas escamas pela casa. Mas ele só trará sorte se permanecer ali todo o ano seguinte. Já as famílias mais modernas costumam servir raclete ou fondue na noite de Ano Novo.
Também na Alemanha, são confeccionados pães e bolos para presentear no final de ano. Quando oferecidos a alguém, representam o desejo de fartura, saúde e sorte. Geralmente, trata-se de receitas comuns, de pães, bolos ou biscoitos, só que a massa recebe uma forma especial. Seja trançado ou em círculo, o produto final representa união e infinidade.
Símbolos da sorte
Quem oferece ao anfitrião da festa de réveillon um porquinho de marzipã ou um vasinho com trevos de quatro folhas, lança mão de símbolos seculares, que representam desejos de sorte e fartura. Vejamos por quê:
Porco ─ Porquinhos da sorte modernos são cor-de-rosa e de marzipã. Há muitos séculos, este animal era venerado como sagrado. Entre os germanos, o porco era símbolo de fertilidade e sinal de riqueza. Possuir um porco, significava em tempos passados estar bem abastecido.
Limpador de chaminé ─ Na Alemanha é sinal de sorte encontrar na rua um limpador de chaminés, com suas roupas pretas e seu chapéu típico. A profissão é associada com a chaminé, o elo de ligação entre dois mundos: o céu e a terra. É seu trabalho limpar as impurezas, abrindo caminho ao ar puro. Esta limpeza tinha uma profunda importância antigamente, quando o fogo podia se alastrar rapidamente e destruir uma cidade inteira em pouco tempo.
Trevo de quatro folhas ─ Sinal de sorte pela sua raridade. Outros tentam justificar o símbolo com a associação à cruz de Cristo. Ou ainda a cruz celta, usada para a proteção dos druidas. Pode também representar os quatro pontos cardeais ou a ligação entre os quatro elementos essenciais.
Ferradura ─ Antigamente era um objeto de muito valor. Serve tradicionalmente para proteger as propriedades da invasão por estranhos. Todavia, a abertura tem de apontar para cima, para abocanhar a sorte que cair nela. Outra credice reza justamente o contrário: colocada com a abertura para baixo, representa a letra ômega, do alfabeto grego, símbolo de sorte.
Cogumelo vermelho de pintinhas brancas ─ Embora impróprio para o consumo, era considerado sagrado pelos povos germânicos.
Joaninha ─ seu nome, Marienkäfer, em alemão, tem origem no nome da mãe de Jesus. Segundo a crença popular, ele é ao mesmo tempo mensageiro divino, protetor das crianças e curador dos doentes. Nunca se pode espantá-lo e muito menos matá-lo, pois dá azar.
Fênigue ─ antes do advento do euro, a centésima parte de um marco alemão era guardada com carinho pelos alemães, por ser símbolo de sorte. Já os antigos romanos presenteavam os deuses com moedas na passagem do ano.