Sindicatos do mundo unidos
25 de janeiro de 2007Os acordos assinados entre quatro importantes sindicatos nacionais ainda não representam o esboço de uma fusão internacional, porém marcam o desejo de acertar o passo com as empresas, que não mais se sentem constrangidas por fronteiras nacionais. As associações em questão são a inglesa Amicus, a alemã IG Metall e as norte-americanas United Steel Workers e International Association of Machinists and Aerospace Workers.
"O mundo está mudando, e as novas realidades globais oferecem às companhias transnacionais a possibilidade de trocarem de país e de mão-de-obra ao sabor de seus interesses", comentou Derek Simpson, secretário-geral do sindicato Amicus, um dos maiores do Reino Unido, ao anunciar os acordos.
"Nossa meta é criar um único e poderoso sindicato, que possa transcender fronteiras para enfrentar as forças globais do capital. Minha visão para a próxima década é uma organização sindical multinacional, embora frouxamente federal."
Como nos EUA, há 25 anos
A era da globalização não fez bem aos sindicatos. O fato de cada vez mais multinacionais transferirem parte de suas operações para países de salários mais baixos lhes permitiu exigir concessões salariais dos sindicatos.
Mesmo na Alemanha, onde o movimento trabalhista é tradicionalmente forte, os sindicatos vêem tanto seu poder quanto seus quadros de associados minguarem à medida que os postos de trabalho do setor industrial são transferidos para o exterior, e o setor de prestação de serviços cresce.
"Os sindicatos da Europa perderam terreno na organização das novas indústrias, no setor de serviços e na economia em crescimento", observou Michael Burda, professor da Universidade Humboldt de Berlim, especializado no estudo do movimento trabalhista.
"Este fenômeno foi observado há 20, 25 anos nos Estados Unidos e agora está se desenrolando em câmara lenta na Europa." Segundo Burda, em grande parte do continente os sindicatos se encontram em estado de retirada estratégica.
Concessões forçadas
Na Alemanha, os salários reais dos trabalhadores cresceram continuamente até a década de 1990. O resultado foi a perda de competitividade no mercado global. Os altos custos da mão-de-obra tornaram difícil fazer negócios na Alemanha. As empresas transferiram então sua produção para o Leste europeu, a Índia ou a China, onde os salários são apenas uma fração dos alemães.
Em reação, nos últimos cinco a sete anos, os sindicatos passaram a fazer concessões, aceitando aumentos mínimos, ou mesmo o congelamento dos salários, nas rodadas coletivas de negociações.
Embora dolorosa para o bolso dos assalariados, a medida ajudou a recolocar os produtos industriais alemães no mercado internacional. O que, no entanto, não pôde impedir a retração desse mercado. Enquanto, 15 anos atrás, 28% da mão-de-obra do país se localizava na indústria, hoje em dia esse número está mais próximo dos 20%.
Única resposta à globalização
"Temos de admitir que a vida não ficou nem um pouco mais fácil para as organizações sindicais", diz Horst Mund, diretor de relações internacionais do IG Metall, o sindicato alemão do setor metalúrgico, co-signatário do atual acordo com as organizações norte-americanas e inglesa.
"Esse acordo é absolutamente necessário, considerando o alcance da globalização. As firmas estão se globalizando continuamente, o capital é móvel e os trabalhadores têm que encarar esses desafios, trabalhando juntos em nível internacional."
A IG Metall já mantém convênios para intercâmbio de informações com sindicatos estrangeiros e estabeleceu associações de empregados em corporações multinacionais. Entretanto, o atual acordo de solidariedade leva a cooperação a um passo mais além.
Realidade palpável ou visão futurista?
"Os sindicatos da Alemanha precisam saber o que está acontecendo nas companhias britânicas, por exemplo", reforça Mund. "É necessário sabermos o que se discute em termos de locações de produção, padrões trabalhistas e outras coisas, de forma a formar uma frente unida no tocante a tais questões."
Assim como o secretário-geral da Amicus, Mund também vislumbra a criação de um supersindicato. Porém, ao contrário de Simpson, o diretor da IG Metall não estabelece um organograma: para ele, trata-se antes de uma meta a longo prazo. Neste ponto, ele está de acordo com Marco Trbovich, da United Steel Workers, para quem uma fusão oficial é uma visão para o futuro.
Por mais hipotética que possa parecer, no momento, uma eventual fusão sindical transnacional, já é possível prever os obstáculos que sua criação terá que enfrentar. Além das óbvias diferenças lingüísticas, há grandes discrepâncias entre as culturas sindicais nacionais nas relações entre empregados e empregadores e até na forma de negociação salarial.
Choques culturais
"Estou um tanto cético", afirma Burda. "É muito difícil estabelecer um sindicato de estilo germânico na Itália, por exemplo. Os países são tão diferentes que é incrivelmente difícil imaginar tal coisa ocorrendo em qualquer prazo visível."
Porém, acrescenta Burda, quanto mais poder as multinacionais acumulam, maior a probabilidade de que se levante uma força contrária, do lado dos trabalhadores. O diretor de relações internacionais do IG Metal concorda, insistindo não haver muitas alternativas para os sindicatos além de se unirem através das fronteiras nacionais caso pretendam manter-se relevantes.
Embora tal forma de cooperação internacional possa vir a ser uma pedra no sapato das multinacionais, sua meta não seria tentar impedir a globalização ou causar o maior dano possível, explica Mund. "Uma nação exportadora como a Alemanha precisa da globalização. Porém temos que representar os direitos dos empregados, e este será provavelmente o meio de realizar essa tarefa."