Unesco condena destruição de Patrimônio Mundial em Mali
3 de julho de 2012O Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco condenou nesta terça-feira (03/07) a destruição dos mausoléus em Tombuctu, Mali, apelando ao setor cultural da Organização das Nações Unidas a instituir um fundo de emergência para aquele país africano.
Em declaração divulgada durante o encontro anual da Unesco na cidade russa de São Petersburgo, o comitê exigiu o fim dos "repugnantes atos" de destruição por parte de extremistas islâmicos.
Anúncio de mais destruição
"Vemos neste ato um verdadeiro crime contra a história", declarou Eleonora Mitrofanova,presidente do Comitê do Patrimônio Mundial 2012. Ela apelou a governos, organizações internacionais e à mídia para que se unam, a fim de "não permitir que esses bárbaros apaguem da face da Terra tais monumentos".
Desde 1988, Tombuctu é oficialmente Patrimônio Cultural da Humanidade, e na última quinta-feira fora incluída na lista vermelha dos patrimônios sob ameaça grave. A ministra malinesa da Cultura e Turismo, Fadima Diallo, agradeceu à Unesco por sua "rápida reação", assim como pela promessa de fundos urgentes para seu país.
Segundo testemunhas oculares, no último sábado combatentes do grupo rebelde Ansar Dine, associado à rede radical islâmica Al Qaeda, investiram contra as antigas sepulturas com picaretas e pás. Vários mausoléus e santuários foram simplesmente demolidos. Os rebeldes também anunciaram a intenção de arrasar todos os 16 santuários importantes da cidade.
Pecado contra o Islã
Situada à borda do Sahara e a cerca de mil quilômetros ao norte da capital Bamaco, Tombuctu é apelidada "Pérola do Deserto". Durante muito tempo foi considerada uma das principais atrações turísticas da África Ocidental. Além de três grandes mesquitas, 16 cemitérios e mausoléus fazem parte do Patrimônio Cultural da Humanidade na cidade.
Um dos monumentos já destruídos é o mausoléu de Mahmud Ben Amar, um erudito islâmico do século 16. Tratava-se de um local de peregrinação para os fiéis em busca do socorro da personagem que cultuam como a um santo.
Aos olhos dos fanáticos, isso atenta contra o monoteísmo do Islã, que só admite a adoração de um único Deus. Segundo o porta-voz do Ansar Dine, Sanda Ould Bamama, os monumentos em questão seriam haram, ou seja, pecado e, portanto, proibidos.
Ameaça de Haia
Contudo, o intuito dos fundamentalistas em Tombuctu não é apenas investir contra a fé popular. Com seus atos de vandalismo, eles intimidam os habitantes de toda a região e deixam claro: aqui quem manda somos nós. Ao desencadear o estarrecimento mundial, procuram se afirmar como antiimperialistas, que rechaçam toda influência do Ocidente.
"Nós somos muçulmanos. Quem é a Unesco?", provocou o porta-voz Ould Bamama.
Juntamente com guerrilheiros do povo tuaregue, desde abril os radicais islâmicos conseguiram o controle sobre dois terços de Mali. Os tuaregues pretendem fundar um Estado próprio no norte do país. Entretanto, os muçulmanos almejam o domínio total, impondo sua interpretação rigorosa da Xariá – as leis islâmicas – a todo o Mali.
No domingo, partiu de Haia uma advertência decidida aos fundamentalistas islâmicos em Mali. Fatou Bensouda, nova promotora-chefe da Corte Penal Internacional, sediada naquela cidade holandesa, lembrou que a destruição de monumentos fúnebres é um crime de guerra, e como tal será perseguido por ela.
AV/dw/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer