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Uma vida de atrasos nos trens alemães

Karina Gomes
28 de setembro de 2018

Trens são confortáveis e têm até restaurante, mas frequentemente atrasam, deixando passageiros revoltados. No país da pontualidade, companhia estatal Deutsche Bahn ainda batalha para atingir meta de cronograma.

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Passageiros esperam trem em estação em Berlim
As principais causas de atraso são obras nos trilhos e pouca capacidade livre nas rotas mais utilizadasFoto: imago/photothek/L. Johannssen

Tudo programado para chegar por volta das dez da noite em Munique, um dia antes do início da Oktoberfest. A viagem corre bem até que, de repente, o trem para na linha. Depois de 20 minutos de espera, vem o aviso: "Teremos um atraso de 40 minutos por causa de um problema".

A conexão com o segundo trem que eu pegaria em Hannover foi perdida. Ao chegar lá com uma hora de atraso, sou informada de que não há mais trens rápidos disponíveis. A opção seria pegar outros dois trens regionais.

Situações piores podem acontecer. Já perdi uma conexão e, quando peguei um outro trem, ele parou na linha apenas dez minutos depois da partida. "O trem parou de funcionar", diz o aviso. Esperamos por duas horas. A lanchonete do trem está fechada. Quando isso acontece, a companhia oferece garrafas de água para as pessoas não perecerem. Temos que aguardar um "trem-guincho" para puxar o trem de volta à estação.

Chegando lá, a opção é pegar três trens regionais para chegar a uma cidade onde teria uma conexão para o meu destino. Mas os trens regionais também atrasam, e a conclusão é que, quando chegamos, a estação já estava fechada. Não havia mais trem nem ônibus. A companhia de trens ofereceu um táxi, que ficou dando voltas no centro da cidade fingindo não saber o caminho para meu endereço final.

O descontentamento e a indignação ficam estampados no rosto dos passageiros que, muitas vezes, pagam altos valores pelos bilhetes de viagem. "É inacreditável", "não é possível", esbravejam entre as plataformas.

Os trens alemães são operados pela empresa federal Deutsche Bahn (DB). Faz anos que a companhia fracassa em atingir a meta de ter 80% dos trens circulando dentro do cronograma. As principais causas dos atrasos no país da pontualidade são os canteiros de obras – neste ano, há 800 nas linhas de todo o país – e pouca capacidade livre nas rotas mais utilizadas.

Em julho, a DB anunciou um investimento de 100 milhões de euros para aumentar a taxa de pontualidade. No primeiro semestre deste ano, 77,4% dos trens chegaram na hora marcada.

Apesar de os trens terem conforto, banheiros e lanchonetes, os atrasos provocam muita revolta. Para reduzir o descontentamento, a DB permite que os passageiros recebam uma restituição parcial do valor da passagem caso o atraso seja de uma hora ou mais. Eu já apresentei uns cinco formulários de reclamação e, apesar de a resposta demorar um pouco, recebi parte do valor de volta.

Para isso, é preciso enviar por correio ou entregar num posto de informação da DB nas estações um formulário preenchido com o horário previsto e o horário real de chegada, o bilhete e, em alguns casos, um documento carimbado por um funcionário da DB comprovando o atraso – uma reparação justa dado o estresse que se passa e o valor que se paga pelas passagens.

Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.

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